5 razões que fazem da Suécia um paraíso da segurança rodoviária

Duarte Paulo

16 de Fevereiro de 2021

Devido às suas estatísticas sobre mobilidade, a Suécia tem sido frequentemente chamada de “paraíso da segurança rodoviária”. Até o momento, com as estatísticas de tráfego de 2019 da Comissão Europeia, o país nórdico tornou-se no país com a menor taxa de mortalidade no trânsito na zona do euro.

Na Suécia, cerca de 22 pessoas por milhão morreram em 2019 devido a acidentes de trânsito, uma redução anual de 32% em relação a 2018. Em Portugal a média situou-se nos 61 mortos por milhão de habitantes! No país vizinho, a Espanha, o número foi de 36 mortes por milhão. A média para a União Europeia (Reino Unido excluído) atinge os 51 falecidos. Então o que podemos aprender com a Suécia sobre segurança no trânsito?

Limites de velocidade mais restritos na Suécia

No que diz respeito aos limites de velocidade, na Suécia destaca-se que nas autoestradas a velocidade máxima nunca ultrapassa os 110 km/h, reduzindo consideravelmente a energia de qualquer impacto, evitando reduzir excessivamente o campo de visão dos condutores ou diminuindo a distância de travagem. A velocidade mais reduzida melhora, entre outros fatores, a capacidade de imobilizar o veículo, ou no mínimo reduzir a velocidade do embate, ajudando a reduzir a mortalidade em caso de acidente.

Em estradas não urbanas, o limite sueco é de 70 km/h, ou 90 km/h, dependendo do tipo de estrada. Enquanto dentro da cidade não pode conduzir acima de 50 km/h. No entanto, em bairros residenciais, que são a maior parte dos aglomerados urbanos que compõem qualquer cidade, a Suécia proíbe ultrapassar os 30 km/h. Uma medida que algumas outras cidades europeias já estão copiando.

Multas e penalidades muito mais severas

Embora as campanhas de sensibilização tenham sem dúvida um impacto importante para que os condutores circulem a velocidades racionais, o elemento que mais tem feito para esta adaptação entre a velocidade máxima e a velocidade média são as multas de trânsito. Assim como uma infraestrutura que limita a velocidade. Um exemplo deste último são as estradas em ziguezague que impossibilitam a ultrapassagem dos 20 ou 30 km/h.

As penalidades aplicadas na Suécia são consideravelmente mais severas do que em Portugal. Por exemplo, conduzir a 50 km/ h numa área residencial (lembre-se, o limite são 30 km/h) implica na retirada da carta de condução. Além disso, prevaricações como estacionar mal, não parar num STOP ou semáforo, ou deixar o veículo na rua implicam multas das quais não será possível se livrar.

Embora o valor das multas não seja excessivamente elevado, as mais frequentes rondam os 1500 ou 2000 coroas (aproximadamente 150 euros a 200 euros ao câmbio atual), a frequência com que são “distribuídas” é muito elevada. A Direcção-Geral dos Transportes da Suécia é um organismo conhecido pela seriedade e inflexibilidade na hora de dar segundas oportunidades ou de deixar passar as infrações. Se uma patrulha o vê cometendo uma infração, sem dúvida vai receber uma “prenda”.

Consumo de álcool mais controlado na Suécia

Os testes que medem a concentração de álcool etílico na corrente sanguínea, vulgo o teste do balão, na Suécia são muito mais frequentes do que em outros países. E esse controle começa com a proibição de venda ou oferta de bebida alcoólica a quem sabe conduzir. Em outras palavras, oferecer bebidas alcoólicas num jantar com amigos sabendo que eles irão conduzir mais tarde é um crime e quem o faz é processado.

Não é incomum na cultura sueca que retirar as chaves de um amigo que bebeu seja considerado um ato cívico desejável. O que é estranho, especialmente se levarmos em conta que isso ameaça a segurança rodoviária coletiva, é que em outros países menos dedicados a este tipo de responsabilidade social pode até ser considerada uma invasão de privacidade ou “liberdade individual”.

Conduzir embriagado também é crime na Suécia, e começa com uma taxa de 0,2 g/l no sangue. Para efeito de comparação, em Portugal esse limite é de 0,5 g/l. Além disso, destaca que essas reprimendas não só incorporam uma penalidade financeira fixa, mas também uma “variável” baseada na receita tributária do contribuinte, ou seja quanto mais ganha mais paga. Se for detetado um nível de álcool no sangue de 1 g/l, será impossível sair da prisão. Em Portugal só é crime a partir de 1,2 g/l e nem sempre implica prisão efetiva.

A obtenção da carta de condução envolve situações de risco

Suecia el paraíso de la seguridad vial

Na Península Ibérica, as estruturas dos cursos para obtenção da carta de condução assentam em dois grandes blocos. O primeiro é o teórico, um exame baseado na memorização de sinais, regras de trânsito e alguns cenários mais ou menos frequentes.

A segunda parte é a prática, um verdadeiro teste de condução que dura aproximadamente meia hora e é realizado nas proximidades da cidade onde moramos. Nesse teste, geralmente resume-se a circularmos junto com o restante transito e estacionamos.

No entanto, na Suécia, a parte prática varia consideravelmente. Além do teste de condução, estacionar, sair e entrar da autoestrada e realizar bem os estacionamentos (entre outros parâmetros usualmente medidos), também incluem a condução em situações de risco, habituais naquelas latitudes.

Assim, ao obter a habilitação de condução, o sueco tem de aprender por experiência própria como tirar um veículo da neve, ser capaz de conduzir sobre uma camada de gelo, enfrentar um nevão ou ser capaz de conduzir com aquela película de água desagradável que favorece a aquaplanagem (vulgo aquaplaning).

Em países como Portugal, devido às condições climáticas moderadamente adversas por apenas alguns meses e apenas em algumas regiões, essas práticas nunca fizeram parte da obtenção da carta de condução. Se você quiser ganhar essa experiencia em ambiente controlado, terá que contratá-los separadamente em cursos específicos de condução defensiva em escolas próprias para o efeito.

Mantenha o veículo em boas condições

Na Suécia, destacam-se algumas obrigações dos condutores em termos de segurança rodoviária e manutenção dos veículos. Por exemplo, de 1 de dezembro a 31 de março, coincidindo com a temporada de neve e geada, todos os condutores devem usar pneus de inverno ou com pregos para neve. Não tê-los montados no veículo implica não apenas uma multa, mas também a apreensão do veículo.

Da mesma forma, não efetuar a manutenção periódica do veículo pode ser motivo de multa. De fato, na Suécia é obrigatório conduzir com os faróis acesos, mesmo em plena luz do dia. O não cumprimento, por qualquer motivo, acarreta multa.

A norma sobre a utilização das luzes de circulação diurna, que atualmente todos os veículos novos já são obrigados a possuir, derivou da constatação da redução da sinistralidade nos países nórdicos, derivado ao acréscimo de segurança que esse fator trouxe à condução. Convém não esquecer que de noite usa-se os “médios”!

Algumas das diferenças entre as diretrizes de segurança no trânsito entre a Suécia e Portugal são mínimas. Por exemplo, o valor de algumas multas. Outros são mais drásticos e, como foi demonstrado, tornam mais eficientes as medidas implementadas de redução de acidentes e mortes nas estradas. É claro que podemos aprender muito com a abordagem sueca da segurança rodoviária.

Original | M. Martinez Euklidiadas
Fotos | iStock/Trygve FinkelseniStock/diatrezor