A caixa-negra na resolução de acidentes

Jorge Ortolá

25 de Março de 2014

A sinistralidade rodoviária, para além dos enormes problemas sociais que proporciona, transporta consigo um dilema que deixa muitas vezes a cabeça em água de quem tem de decidir… a culpa! De quem é a responsabilidade de um determinado acidente.

As causas são muitas vezes adulteradas, pois na falta de testemunhas, surgem as mais diversas desculpas e atribuição de culpa a questões alheias. Em situação de conflito envolvendo mais de dois veículos, a dúvida sobre o inicio do sinistro e o seu desenvolvimento fica, muitas vezes, perdido.

As caixa-negra na resolução de acidentes

Em Portugal, algum tempo atrás, falou-se na introdução de um sistema de caixa-negra nas viaturas, afim de se conseguir um registo de toda a actividade do veículo. Desta forma conseguiria-se analisar todos os dados registados e assim efectuar uma resolução de acidentes com grande facilidade.

Com este sistema a gravar toda a actividade, como já acontece na Rússia, a resolução de acidentes iria tornar-se mais célere, verdadeira e justa. Seria também um dissuasor da prática de actividade fraudulenta na simulação de sinistros, em busca de indemnizações, muitas vezes avultadas.

O que é uma caixa-negra?

Utilizada nas aeronaves, a caixa-negra nada mais é do que um sistema que efectua o registo de um conjunto de parâmetros, guardando-os para análise futura, sempre que necessário. Nos automóveis, ao ser introduzida, serviria para registar, tal como faz o tacógrafo, velocidades e tempos de condução.

No entanto poderia ser usada, também, para efetuar o registo de alterações técnicas que o veículo sofra no seu funcionamento, alterações de trajectoria e tipos de condução. Associada a sensores externos, poderia ficar registado distâncias de segurança entre outros dados.

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Resolver questões de contraditório

Muitas são as vezes em que surgem condutores que argumentam terem sido sancionados por excesso de velocidade, irregularmente. Dizem que tal não é verdade e que existe um erro no medidor de velocidade (radar). Pois bem, com a introdução de uma caixa negra na viatura, esse problema seria facilmente resolvido.

Protecção de dados

O grande problema da introdução deste sistema de registo de dados prende-se, essencialmente, com a privacidade que cada condutor e cidadão tem direito. Ou seja, a Comissão Nacional de Protecção de Dados poderia condicionar esta realidade, uma vez que, sendo adquirida pelas seguradoras os dados registados, quem garantiria que os mesmo não seriam vendidos, publicados ou disponibilizados a alguém?

É verdade que seria uma mais-valia para a resolução dos problemas que surgem após um acidente rodoviário, mas não estaríamos todos expostos a um problema de visualização global, de quem analisasse os dados do nosso veículo?

Foto¦ Btr e Ojp