Somos utentes da estrada durante toda a nossa vida. Primeiro como peões, ciclistas e passageiros, isto é, durante toda a nossa infância, para logo assumir um papel bem mais ativo como jovens e adultos. Começamos a utilizar bicicletas, trotinetas elétricas, ciclomotores, motas e carros. Deixamos de ser passageiros para ser condutores. Por tudo isso, não é estranho pensar que a educação rodoviária que recebemos deve abranger todas e cada uma destas etapas e todos e cada um destes papéis, de acordo com a nossa idade.
Mesmo que a educação rodoviária não chegue a todos os centros escolares, há avanços em nível europeu. Espanha e Portugal são um exemplo disto, ainda que haja outros países da União Europeia que também destacam pelo seu grande compromisso.
O relatório LEARN! do ETSC (Conselho Europeu de Transporte) com o apoio da Fundación MAPFRE e da VSV, o objetivo é garantir o direito a receber educação sobre segurança rodoviária e mobilidade, principalmente sobre a importância de envolver e apoiar às escolas e destaca-se a necessidade de que esta educação seja de alta qualidade.
Aprender jogando é uma das melhores ferramentas. Por isso, a Fundación MAPFRE conta com PLANETA ODS, um programa educacional que procura formar em prevenção de riscos na etapa infantil e a promoção de hábitos de mobilidade responsável. Portanto, professores e famílias podem encontrar todas as ferramentas necessárias para conseguir que os miúdos aprendam como mover-se de maneira segura em uma cidade sustentável.
O que deve ser ensinado nas salas de aula? Em primeiro lugar, é importante que os alunos não apenas conheçam as regras e situações de trânsito, é vital que as compreendam e interiorizem. Para além, devem desenvolver e melhorar as aptidões através de formação e experiência, reforçar e/ou mudar atitudes e motivações para a consciência do risco, segurança pessoal e segurança dos outros utentes da estrada. Em suma, devem ter uma cultura de segurança rodoviária e uma mobilidade segura, saudável e sustentável e para isso devem dispor das ferramentas necessárias.
Sabemos da importância da educação rodoviária, mas estão os países da União Europeia comprometidos com esta formação e conscientização escolar? Os países signatários da Convenção de Viena comprometeram-se a proporcionar educação sobre segurança rodoviária “de forma sistemática e contínua, em particular nas escolas a todos os níveis”. Irlanda, Alemanha e República Checa já proporcionam educação sobre segurança rodoviária nos quatro níveis de ensino: pré-escolar, primário, secundário e superior. Os estudantes aprendem a ser utentes da estrada.
O ideal que todos devemos aspirar é que a educação rodoviária seja incluída em toda a fase escolar, com um número mínimo de horas e objetivos claros e quantificáveis. Para tal, a maioria dos países defende a introdução da segurança rodoviária e da mobilidade sustentável como parte de outras matérias do currículo escolar, embora também seja ensinada de maneira separada. Aqui podemos destacar o caso da Finlândia, onde a educação rodoviária está incluída na educação básica do país. Desde 2014, existe um plano de estudos que ensina educação rodoviária em várias matérias, bem como no âmbito das competências transversais.
Nos Países Baixos os objetivos também são de aprendizagem básica e específica, enquanto em Portugal a educação rodoviária nas escolas é uma parte complementar do currículo. Na verdade, em Portugal não é uma matéria independente, é ensinada de maneira transversal, embora com objetivos específicos separados por níveis de ensino. Os alunos devem saber e adotar um comportamento seguro como peões, passageiros e condutores, especialmente no nível secundário. No contexto da Educação para a Cidadania, é oferecida uma dinâmica pedagógica em termos da relação da escola com o ambiente, para que os alunos possam lidar com situações reais. Para estabelecer os objetivos a alcançar, o conhecimento do grupo, o contexto de vida das crianças, a realidade da sua vida diária são considerados. Por exemplo, em pré-escolar e educação básica, são abordados comportamentos e regras como peões, as crianças aprendem a identificar, conhecer e adotar comportamentos corretos como passageiros e a identificar comportamentos apropriados e inapropriados como condutores. São ensinadas a analisar criticamente o ambiente rodoviário e a adotar atitudes e comportamentos sociais e cívicos adequados de acordo com a idade e enfrentam novas realidades.
Um dos últimos países em introduzir novidades foi Espanha. A educação rodoviária está estabelecida na sala de aula e no currículo escolar. De ser uma matéria transversal, tornou-se principal e está a ser ensinada desde a primeira idade graças à nova lei educacional: LOMLOE. Foram estabelecidos objetivos específicos e quantificáveis para uma mobilidade segura, saudável e sustentável. Especificamente, em todas as etapas escolares, de pré-escolar a secundária. O conteúdo desta matéria é obrigatório e está integrado de maneira transversal em diferentes matérias, por exemplo, Educação Física, Conhecimento do Ambiente, Educação em Valores ou Física e Química. Como deve ser ensinada e o que deve ser avaliado é definido nos diferentes Decretos Reais sobre Educação p0ara pré-escolar, primária, secundária e superior.
As crianças que recebem educação sobre segurança rodoviária não só têm menos possibilidades de ter acidentes de trânsito, como também estamos a formar condutores e utentes da estrada mais responsáveis, que sabem como agir e o que fazer em cada fase da vida, que sabem compartilhar a estrada com todos os utentes e que são mais conscientes e cautelosos como condutores, peões, ciclistas e passageiros. Em suma, utentes responsáveis que contribuem para uma mobilidade mais saudável, segura e sustentável. Ao educar crianças seguras, temos adultos seguros.