O processo de comprar um carro novo mudou. Simplesmente não é o que costumava ser. Já se foram os dias de fidelidade à marca, seleção limitada e negociações de preços difíceis e excessivas. Hoje em dia, os consumidores procuram um meio de transporte que os leve do ponto A ao ponto B. Mas nesta época todos querem algo de novo para iniciar o ano, por isso, ano novo, carro novo!
Os novos compradores concentram-se na confiabilidade do carro, em vez de valorizar tanto a marca. Sabem o modelo exato que atende às necessidades de suas famílias (quase sempre), e sabem exatamente quanto o carro irá custar. Incluindo todas as opções selecionadas. É seguro dizer que o momento do impulso de compra do carro transformou-se por completo, estando agora atrás dum ecrã e não no concessionário da marca escolhida.
No entanto, existem algumas áreas e achegas importantes que os possíveis compradores de carros devem ter em mente ao comprar um carro novo ou usado. No mínimo, o comprador deve fazer a sua pesquisa antecipadamente e estar tão preparado quanto um advogado no dia de comprar um pedaço de aço, plástico, borracha e software.
Seguem-se algumas dicas de compra de carro que resultam de anos de conhecimento do setor e experiência prática. Veja quais as que já sabe e quais as que pode aplicar na sua futura compra. Mas como o saber não ocupa lugar, aprenda ou relembre-se alguns pontos a ter em atenção numa compra futura.
Confiabilidade
Veículos com boa confiabilidade exigem menos visitas ao mecânico e proporcionam tranquilidade ao condutor quando circula. Sem esquecer que desempenham um grande papel no valor de revenda do seu veículo quando pretender trocá-lo. Em suma, a confiabilidade deve ser o item número um na sua lista de compra de carro.
Confiabilidade de longo prazo é definida de forma como o seu carro funcionará nos períodos de intervalo entre as manutenções. Mudanças de óleo, de filtros, a colocação de novos pneus e pastilhas de travão são normais após determinado número de quilómetros percorridos, ou tempo. Estes não são problemas, são manutenção. Mas esteja atento ao custo.
Custo da Propriedade do Veículo
O custo da propriedade do veículo é a quantidade de dinheiro que um proprietário de carro gastará durante a vida útil de um carro. Imagine se soubesse o quanto custaria o seu carro novo para percorrer um determinado número de quilómetros. Incluindo manutenção, abastecimento de combustível, seguros e impostos. Compraria o carro que inicialmente previa?
Preveja quanto tempo prevê manter o veículo, calcule o custo total de o possuir. Compare com outras opções. Assim, e de uma forma pragmática, pode descobrir que, embora uma marca e modelo em particular tenha um preço de compra inicial maior, pode ser mais barato ter durante um período de tempo pré-determinado.
O mito do preço
Os concessionários de automóveis levam em consideração uma série de dados para a formação do preço. Por exemplo, preço de venda recomendado pelo fabricante, preço de fatura, descontos, incentivos da marca. Até a disponibilidade de veículos influencia o preço. Os consumidores conseguem chegar quase aos mesmos dados através de muitos sites de terceiros.
Quanto ao preço recomendado, deve ser um pouco ignorado, serve para estabelecer o limite máximo para o carro. Exceto nos casos em que o modelo não está a ser produzido em quantidades suficientes para satisfazer a procura este não costuma ser o valor pedido nos concessionários. O ideal é tentar aproximar o que o consumidor irá pagar ao valor da fatura que o concessionário pagou à marca pelo exemplar em causa.
Atenção, caso o modelo em causa seja difícil de vender, com baixa procura e problemas de fiabilidade conhecidos do mercado, a probabilidade de o agente concecionário querer vender barato aumenta. Faça as suas contas, saiba os riscos que corre ao aceitar ficar com um modelo deste género. Até a revenda será trabalhosa e pouco rentável.
As marcas geralmente possuem taxas de juros especiais e incentivos à compra. Por vezes os descontos oferecidos são muito significativos e vantajosos para os consumidores. Os juros podem ir até 0% sobre uma grande parte do capital em dívida. Esteja atento às divulgações das marcas, normalmente são muito divulgadas.
De modo geral, um comprador não deve entrar num concessionário até que tenha concluído toda a pesquisa de preços necessária. Um comprador deve se focar no preço total do carro novo versus o pagamento mensal. Muitos vendedores desviam a atenção para o pagamento mensal, deixando o custo total da compra para segundo plano. Esteja atento, pagar 200€ durante 60 meses, custa 12.000€, mas pagar 140€ por 120 meses já custa 16.800€.
O dilema da idade do carro
Deve comprar novo ou usado? Depende, especialmente de si. Comprando um veículo novo, geralmente, vai economizar mais dinheiro a longo prazo, assim, muitas vezes é a melhor escolha do ponto de vista financeiro. Há alguns casos especificos em que existem benefícios ao fazer um aluguer de longa duração, ou um renting. Como irá dispor dum carro novo a cada dois ou quatro anos um carro com essa idade deve ter menos gastos de manutenção do que um veículo de 8 anos, por exemplo.
No entanto, em qualquer negócio que envolva crédito ou uma solução financeira que não seja o pronto pagamento, caso seja possível tente dar uma entrada o mais alta possível. Alie esse fato a um prazo de pagamento o mais curto possível. Assim reduzirá os custos com juros.
Comprar usado
Quase todos os veículos novos vendidos hoje em dia são feitos para funcionar por muitos quilómetros quase sem manutenção. Mas existe sempre alguma manutenção que é necessária efetuar. Assim, um veículo bem cuidado não deve ter nenhum problema em especial com o acumular de distância percorrida no odómetro.
O que isto significa é que a compra de um veículo usado, com cerca de 3 a 4 anos poderá ser uma das decisões financeiras mais inteligentes que pode fazer. O veículo já desvalorizou um pouco e nos próximos 3 a 4 anos não deverá ter problemas, nem necessidade de reparações corretivas de fundo. De qualquer forma é aconselhável levar o veículo usado que pretende comprar ao seu mecânico independente favorito para inspecionar o veículo.
Em veículos com mais de 8 a 10 anos os problemas serão outros. A idade destes veículos só por si traz alguns problemas, em especial as borrachas, tubos e vedantes deterioram-se. Um veículo que tenha um uso normal terá também acumulado muitos quilómetros, o que trará desgaste a diversos componentes, implicando que caso não seja efetuada uma manutenção preventiva poderá sofrer avarias na via pública. Os componentes possuem uma estimativa de tempo ou quilómetros que supostamente conseguem realizar. Ultrapassado esse limite está sujeito a ficar apeado.
Escolha só as opções “necessárias”
Quando se pensa sobre as opções geralmente só se pensa em bancos de pele, GPS, fecho central com comando, start/stop, compatibilidade do infotainment com o nosso smartphone, mas muitas vezes desconsideram-se os principais recursos de segurança. Portanto, ao procurar um veículo, quer seja novo ou usado, certifique-se de que as seguintes opções e recursos estão incluídos:
– Controle eletrónico de estabilidade
– Airbag’s frontais e laterais
– Travões com sistema anti-bloqueio
– Câmara de marcha-atrás e lateral
– Sistema infotainment (compatível com o seu smartphone)
– Auxiliar de arranque em declive
As opções são sempre muitas e depende da sua preferência pessoal. Pode escolher efetivamente os bancos em pele (que geralmente são sintéticos), ou optar por um GPS externo, até no seu telemóvel. Pode também pagar por bancos aquecidos, neste caso pode depender do clima da zona onde reside.
Colocar sistema de infotainment nos bancos traseiros pode ser para valorizar o veículo, por ter crianças ou por usar o seu veículo. Mas um fator de segurança que deverá se inteirar é qual a classificação que o modelo obteve nos testes de segurança da EuroNCAP. Esta entidade é independente e atualiza os seus critérios de segurança regularmente, pelo que as exigências são sempre maiores. Assim, um veículo que tinha 5 estrelas à 10 anos, hoje não as consegue atingir.
Lealdade à marca
Um artigo do New York Times analisou as tendências de compra de carros, chegando à conclusão que a lealdade à marca está morta. Nesse artigo descreviam a vida dum americano normal à algum tempo atrás. O pai ia de carro ao concessionário local da Ford, a cada dez anos, e comprava um carro novo. Comprando de 4 a 5 carros novos da mesma marca durante a sua vida. Além disso, o pai também incutia nos filhos a vontade e “dever” de comprar de igual forma. A tendência continuaria por gerações.
Atualmente, de há uns anos para cá, isso não está acontecendo e é mais que certo que não voltará a acontecer. Cada vez mais, os compradores de carros (e não só) abandonarão as marcas e modelos que já possuíram. Geralmente mudam para um veículo mais moderno, barato e confiável, mesmo que isso signifique mudar de marca e concessionário.
A nova “lealdade” é sobre qual o carro novo que dura mais tempo, apresenta o melhor valor, e não vai falir o proprietário para o manter durante um longo período de tempo. Até a propriedade está a ser colocada em questão. Os mais novos querem usar o automóvel, sem terem que o comprar. Várias marcas já estão a avançar com modelos de negócio diferentes, disponibilizando as viaturas a troco de um valor, sem que fique preso a um carro, ou sequer a um modelo. Veremos como evolui o mercado, mas o paradigma da compra de carros está a mudar de forma rápida.
Foto | Alan Levine, Malmstorm Air Force Base