Quando falamos sobre a revolução dos carros autónomos, tendemos a imaginar visualmente cidades cheias de carros que se conduzem sozinhos. No entanto, essa transição é muito mais complexa e silenciosa do que poderiamos supor. De fato, mesmo se não a vemos, a mudança já começou com o apoio das autoridades. Isso é demonstrado pelo projeto “Autonomous Ready”.
“Autonomous Ready”: o prelúdio do futuro
O “Autonomous Ready” nasceu em maio de 2019 em Barcelona, no âmbito do Auto Show de Barcelona, promovido pela camara desta cidade espanhola e a Direção Geral de Trânsito espanhola. O objetivo do projeto era, e continua sendo, melhorar a segurança rodoviária, descobrir caminhos novos e explorando soluções desconhecidas que a tecnologia oferece.
A iniciativa baseia-se na ideia de que, nas cidades, com alta densidade de tráfego, carros e veículos pesados passem a possuir sistemas de assistência à condução que melhorem a segurança dos mais vulneráveis, a saber os peões, bicicletas e motociclos.
Todos os utilizadores da via pública, peões, ciclistas e automobilistas, vêm de uma década em que a proteção das estradas diminuiu. As autoridades espanholas atualmente concentram os seus esforços em demarcar essa nova situação no centro das grandes cidades do país. Estatisticamente 80% dos mortos em áreas urbanas pertencem aos grupos mencionados acima.
Portanto, é hora dos sistemas de assistência ao condutor (ADAS – Advanced driver-assistance systems) com “Big Data” entrarem em ação. Designa-se por “Big Data” a área do conhecimento que estuda como tratar, analisar e obter informações a partir de conjuntos de dados grandes demais para serem analisados por sistemas tradicionais, geralmente em tempo real.
Em que fase estamos do “Autonomous Ready”?

Os carros interligados e o “Autonomous Ready” baseiam-se na exploração do que a tecnologia oferece
Os carros interligados e o “Autonomous Ready” têm uma forma de funcionamento simples. Baseou-se apenas na instalação de uma série de dispositivos de reconhecimento, assistência e aviso do ambiente rodoviário. São câmaras inteligentes vinculadas a um programa responsável pelo processamento das diferentes situações que podem ocorrer na circulação quotidiana.
O primeiro e mais direto dos benefícios destacado desta iniciativa é que ele já salvou peões, ciclistas e condutores de possíveis acidentes em geral e colisões em particular. Se falarmos sobre as tecnologias ADAS elas “safaram” os condutores de uma em cada duas colisões, essa estatística é confirmada em Barcelona.
Dessa forma, a experiência ajudou, em 2019, a evitar a colisão de veículos com mais de 668 utilizadores vulneráveis. O “Autonomous Ready” principiou a iniciativa instalando a tecnologia em 170 veículos comerciais e 79 autocarros urbanos da Transportes Metropolitanos de Barcelona (TMB). Antes do final do ano, esse número aumentou, excedendo os 300 veículos no total.
Experiência digital + aprendizagem autónoma = prevenção
Embora o seu objetivo de alcançar 5.000 veículos ainda esteja longe, o projeto “Autonomous Ready” continua a reunir parceiros naquela cidade espanhola. As empresas de distribuição Nacex e Integra2 foram as últimas a integrar nas suas frotas este sistema ADAS.
Além de evitar acidentes de maneira material, o “Autonomous Ready” demonstra outro benefício, ainda mais silencioso, sutil e a médio prazo. É que este projeto permite reunir informações muito valiosas sobre a natureza do tráfego da cidade de Barcelona.
Esse fator, não tão marcante, é um dos pilares fundamentais que conduzirão o carro autónomo, principalmente no que diz respeito à segurança nas estradas. Uma virtude tecnológica que começa a ser conhecida como segurança viária preditiva. Isso usa o chamado “Big Data”, ou seja, através da gestão de enormes quantidades de dados consegue aumentar a eficácia e a importância das medidas que evitam incidentes.
No que diz respeito ao “Autonomous Ready”, 37.000 ciclistas e 240.000 peões foram identificados e posicionados em apenas dois meses pelo sistema instalado na cidade de Barcelona. Esses dados servirão como matéria-prima para alimentar os primeiros sistemas de condução autónoma. É equivalente ao aprendizado anterior que a DGT pretende aproveitar ao máximo.
Sistema ADAS avançado

A análise de dados permite reduzir os transtornos causados por engarramentos, agilizando a mobilidade
Como podemos nos aperceber as mudanças tecnológicas estão chegando e serão basilares numa nova forma de encarar a segurança rodoviária. Embora a Espanha não se destaque nas principais posições europeias no campo do desenvolvimento da condução autónoma, iniciativas como o “Autonomous Ready” proporcionam uma experiência valiosa para os próximos anos.
Este inicio de década será marcado pela obrigatoriedade de uma série de sistemas ADAS, especialmente a partir de 2022. Será, portanto, a década em que o fator humano será atacado frontalmente. De acordo com os impulsionadores do “Autonomous Ready” a sua tecnologia pode prever até 80% dos possíveis erros do condutor.
Como você pode constatar, a questão fundamental mudou. Não nos perguntamos mais se será possível implementar esse tipo de desenvolvimento tecnológico. A questão agora é quanto tempo levará para vê-lo em todas as estradas.
Original | Jaime Ramos
Fotos | iStock/carlosanchezpereyra, iStock/JIRAROJ PRADITCHAROENKUL e iStock/Nikita Birzhakov