O binário é tão importante quanto a potência?

Duarte Paulo

3 de Abril de 2018

Quando alguém quer saber as caraterísticas de um carro geralmente pergunta qual a potência, quantos cavalos tem. Esse indicador inflama muitas discussões entre quem não percebe muito de automóveis e até entre amantes de carros.

Qual o mais importante? A potência ou o binário? De forma muito simplista a primeira permite atingir mais velocidade o outro permite empurrar mais carga. Saiba o que cada uma representa e como poderá fazer para escolher melhor um veículo com base nestes itens.

Primeiro as definições e necessidades

Para entender algo temos que conhecê-lo. A potência é o que faz o carro chegar à sua velocidade máxima. É a medida de repetição de trabalho que o motor consegue executar por cada unidade de tempo. Quanto mais rapidamente um motor consegue gerar uma rotação, mais potente é. Daí todos os carros rápidos, possuírem motores potentes. As unidades para medir estas grandezas físicas são os kiloWatt’s (kW) ou os cavalos (CV).

O binário é a força rotacional que o motor gera para pôr o carro a mover-se. Por outras palavras é a medida de trabalho feita pelo motor. Se um motor consegue gerar muita força, consegue puxar muito peso. Por isso é que os camiões têm motores a gasóleo, por serem capazes de produzir grandes quantidades de binário. A unidade de medida mais usada para fazer as medições de binário é chamada Newton metro (Nm).

Cada condutor tem o seu estilo de condução e privilegia mais um aspeto ou outro durante a condução. Mas as necessidades reais para uma circulação adequada são mais ou menos comuns consoante a zona onde reside. Perceba melhor onde é mais necessária cada uma delas.

A potência é necessária essencialmente para atingir e manter a velocidade. Atingir altas velocidades só é necessário esporadicamente, por exemplo em autoestrada. Se circula frequentemente neste tipo de via este deverá ser um critério a ter em atenção.

Mas necessita de quantos cavalos? 50, 100 ou 200? Bem, tudo depende do peso do seu veículo, ou melhor da massa que o seu motor terá que deslocar. Além do veículo em si, ainda existe o peso do condutor, dos passageiros, da carga, da “tralha” (ferramentas, garrafões de água, livros, sacos, roupa, bolas, cabos, etc.) e dos líquidos a bordo (combustível, liquido de refrigeração, liquido de limpeza, óleo, etc).

Caso prático da importância do binário

Vamos simplificar. Esqueçamos os dois últimos grupos mencionados acima e contabilizemos somente os mais importantes, o veículo, o condutor, os passageiros e a carga. Partamos do exemplo dum veículo com 900 quilos, um condutor de 75 e com três sacos de compras, com um peso de 25 quilos. E deixemos de lado também os cálculos do escalonamento da caixa e o tamanho correto das rodas.

A massa total são 1.000 quilos, para atingir uma velocidade de cruzeiro de 40 km/h, sem grande rapidez, exigirá de cerca de 60 CV de potência e 90 Nm de binário. Se o pretende atingir com alguma desenvoltura, não necessitará de mais cavalos mas de mais binário.

Para uma constatação simples vejamos o caso dum carro muito conhecido dos portugueses, o Renault Clio, numa versão antiga existia uma motorização a gasolina com 1.200 centímetros cúbicos (c.c.) de 8 válvulas. Este motor produz uma potência máxima de 58 CV e um binário máximo de 93 Nm. Com estes números consegue circular razoavelmente bem em cidade, capaz de cumprir um arranque como o descrito no primeiro caso.

Porém se a orografia for acidentada e efetuar o arranque numa subida, o motor não possui força suficiente para ser despachado. Necessita de mais binário. Passemos a outra motorização, agora a gasóleo, uma versão das mais antigas. É um motor 1.500c.c. com uma potência máxima ligeiramente mais alta, são 65 CV e um binário significativamente maior, são 160 Nm.

Aí a diferença á assombrosa, parece que o carro ganha uma nova “alma” tal é a diferença de desenvoltura. A diferença mais facilmente identificada é o facto de um ser a gasolina e outro a gasóleo, mas os dados métricos são a forma de comparar as diferenças entre os motores. Pelos números podemos constatar que a diferença principal entre os dois motores é o binário.

A evolução das motorizações

Os americanos têm um ditado que diz “nada substitui a cilindrada. O fundamento desta expressão é porque com mais cilindrada normalmente conseguimos mais binário. Esta frase é “à moda antiga”, ou seja, sem artifícios para elevar a potencia e o binário de forma pouco comum até alguns anos atrás.

Os motores modernos estão sujeitos a limitações ambientais cada vez mais rigorosas, para cumpri-las tem sido sujeitos a “downsizing”. Ao reduzi-los em cilindrada cada vez mais “truques” são necessários. São turbos, são compressores, são injeções diretas, são bombas de combustível com mais pressão.

Os ditos truques tem servido para aumentar a potência e o binário disponível, reduzindo simultaneamente emissões e consumos. No caso dos motores elétricos a sua grande vantagem é a disponibilidade da totalidade do binário desde o arranque. Daí a sua sensação de pujança nos arranques.

Qual é mais útil no dia a dia?

Como já foi descrito atrás, depende da orografia da área e das vias onde circula. Como foi mencionado se circula frequentemente em autoestrada a potência será a sua principal aliada. Se circula frequentemente em estradas de montanha, com constantes subidas e curvas fechadas, necessitará mais de binário.

Assim, a importância deles pode tender mais para um do que para o outro consoante o caso em que se inserem. Outra coisa em ter em consideração são as rotações com que o motor produz o binário máximo. Quanto mais altas as rotações, menor a economia de combustível.

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