Cafeína e bebidas energéticas ao volante: quando são aconselhadas e quando são um perigo

Ines Carmo

23 de Janeiro de 2020

Fadiga, cansaço e sonolência são fatores de risco que persistem em manter-se com o passar dos anos. Apesar de existirem sistemas ADAS capazes de os detetar, a sua implantação obrigatória só começa em 2022. Até comprovar como vão incidir, os condutores vão continuar a recorrer a fórmulas clássicas como as bebidas com cafeína.

Estas constituem um aliado quase imprescindível para os condutores deste milénio. Um ou dois cafés deixam-nos capazes de manter o cansaço afastado por alguns quilómetros. Reduzem a distração e fomentam o bom hábito da atenção permanente.

Ainda assim, nem todo o consumo de cafeína pode ser vantajoso. Relacionado com a condução e com a segurança rodoviária, existem coisas que convém saber. Isto porque a ingestão indiscriminada de café pode provocar o efeito contrário e, igualmente, nem todos os refrescos com cafeína potenciam a condução segura. Daqui que perguntemos até que ponto cafeína e bebidas energéticas podem realmente ajudar-nos.

Cafeína e bebidas energéticas: um consumo inteligente

Não nos enganemos. O café e outras bebidas não substituem o descanso. Ainda que isto não seja uma habilidade em si para a condução, é o verdadeiro remédio para a fadiga, cansaço e sonolência. De acordo com o último Eurobarómetro da Fadiga, 5,2% dos europeus reconhece que quase sempre adormece numa viagem longa. Um em cada quatro destes condutores admite conduzir sem parar o veículo por períodos superiores a quatro horas.

Este tipo de dados avivam o debate sobre se se deveria obrigar a descansar quando se fazem viagens grandes. Efetivamente, o café pode ajudar a reduzir os estragos da sonolência ou o cansaço, mas com alguns limites que os especialistas definiram.

Como atua a cafeína quando conduzimos?

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A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar confirma que há uma relação direta entre o consumo de cafeína e o aumento da atenção. Do mesmo modo, existem vários trabalhos científicos que corroboram que a cafeína contribui para que estejamos mais despertos e alerta em situações como a condução, não tendo dormido o suficiente.

O motivo é que a cafeína, em apenas um quarto de hora, influencia o nosso sistema nervoso central, bloqueando os recetores da adenosina, uma das moléculas responsáveis pelo sono. Ao mesmo tempo, atua sobre a dopamina, outro neurotransmissor muito relacionado com o prazer. Em função da dose e do organismo que a recebe, os seus efeitos podem estender-se até seis horas.

Serão as bebidas com cafeína e as bebidas energéticas drogas?

Até aqui são tudo vantagens. Mas, contamos com um «pequeno» inconveniente. A natureza da cafeína (e também da teína e da teobromina do cacau) situa-a nas xantinas. Estas substâncias categorizam-se como drogas, se tivermos em conta uma estrita escala científica.

Não é em vão que a DGT espanhola as inclui dentro do seu guia sobre condução, drogas e medicamentos. Aí consta que um consumo inadequado da cafeína ao volante pode provocar que se sinta «mais agitado, mais nervoso e mais irritável, pelo que em determinadas situações pode responder de uma forma impulsiva, ou inclusivamente agressiva».

Diminuirá a sua sensação de fadiga e a sua sonolência, ainda que passadas umas horas estas possam reaparecer, surpreendendo-o durante a condução.

Como é lógico, estas consequências produzem-se com o abuso do consumo de cafeína, que pode tornar-se em vício. As autoridades sanitárias asseguram que um consumo diário de até quatro copos é seguro para saúde e, pode gerar certa dependência. Quer dizer que, chegados a esta fronteira, muito provavelmente teremos que aumentar a dose para conseguir o mesmo efeito.

Outro sintoma prejudicial, derivado do abuso é o diurético. Este leva consigo a desidratação, que influencia de forma especial sobre a condução.

Hidratação e bebidas energéticas

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Um trabalho recente da Universidade de Loughborough (Reino Unido) e do European Hydration Institute fala da importância de nos mantermos hidratados. De acordo com o estudo, um nível de hidratação insuficiente leva a cometer erros similares aos que aconteceriam bebendo quatro copos de vinho.

Por isso, os cientistas responsáveis por este relatório sugerem que nos hidratemos, limitando-nos a um par de cafés diários. Ao mesmo tempo, desaconselham qualquer tipo de bebida energética.

O principal problema das bebidas energéticas é que incluem doses demasiado elevadas e combinadas de cafeína, taurina e açúcares. Um consumo, chamemos-lhe pouco planificado, pode provocar angústia, tremores, taquicardia ou ansiedade. Isto para não falar da relação entre álcool e outras drogas com a cafeína e bebidas energéticas (sendo que a cafeína não ajuda a desmascarar os níveis de álcool no sangue).

Tudo com conta, peso e medida

No fim, isto pode parecer uma questão complexa. Claro que o dia a dia de cada condutor lhe irá permitir perceber até que ponto o café ou os refrescos com cafeína o podem ajudar. A principal recomendação é estar consciente de que bebidas e alimentação em geral incidem no modo como conduzimos.

Nesse sentido, está demonstrado que uma má alimentação reduz a nossa atividade cognitiva. Ao mesmo tempo, o café é uma boa ferramenta, mas não é a única para combater a fadiga e a sonolência, sobretudo quando enfrentamos viagens grandes.

Fonte: CirculaSeguro.com

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