Ter ideias, aplicá-las e obter resultados. Quando falamos de segurança rodoviária, um projeto de sucesso significa que atingiu o objetivo para o qual foi criado, ou que, neste âmbito, éparticularmente ambicioso e importante: conseguir salvar vidas ou reduzir as consequências de um acidente na estrada. Uma vez alcançados os resultados desejados, a melhor forma de contribuir para a sociedade é partilhá-lo para que outros possam fazer o mesmo.
Precisamente com esta ideia foi realizada a conferência ‘Prémios de Excelência em Segurança Rodoviária’, organizada pela Fundación MAPFRE, na qual empresas e instituições puderam partilhar as razões pelas que os seus projetos podem ser classificados como ‘de sucesso’ na redução de acidentes rodoviários e na melhoria da mobilidade.
A Carta Europeia de Segurança Rodoviária, que visa precisamente partilhar experiências para a aproximação cada vez mais da Visão Zero, foi apresentada em 2004 em Dublin. Nessa altura, na União Europeia (com 25 países) registaram-se mais de 43 mil mortes na estrada. Isto foi destacado por Jesús Monclús, diretor do Gabinete de Prevenção e Segurança Rodoviária da Fundación, durante a inauguração do evento. Vinte anos mais tarde, Europa é um dos continentes mais seguros. Esta queda na taxa de acidentes até à data é muito evidente, embora seja insuficiente: 20.600 pessoas morreram nas estradas europeias no último ano.
O diretor-geral de Trânsito espanhol, Pere Navarro, reconheceu no evento que “sem a UE não teria sido possível obter os resultados” que o país alcançou em termos de acidentes, graças em parte às diretrizes que são obrigatórias e que não suscitam debate. Salientou também que a Carta Europeia é um bom exemplo do trabalho realizado pela sociedade civil. Isabel Verwee, Knowledge Group Manager de Vias Institute, concordou com o diretor que, para alcançar um nível de segurança mais elevado, é necessário envolver a sociedade civil e que estas partes partilhem as suas atividades. O grande desafio que se avizinha para a União Europeia não pode ser esquecido: reduzir o número de mortos e feridos graves no trânsito em 50% até 2030 e atingir o Objectivo Zero até 2050.
O objetivo da Carta é “explicar o que estamos a fazer a nível nacional e internacional e promover o diálogo”, sublinhou Isabel Verwee. Para isso, a Carta tem uma ligação nacional em cada um dos 27 países com o objetivo de promover e animar novas instituições a tornarem-se signatárias, porque “juntos alcançaremos melhores resultados”. Desde a sua criação em 2004, quatro mil instituições públicas e privadas comprometeram-se com a Carta.
Neste contexto, é de destacar os Prémios de Excelência em Segurança Rodoviária. Todos os membros podem participar. É um reconhecimento ao esforço que está a ser feito para salvar vidas. As instituições interessadas têm até 26 de maio para apresentar a sua candidatura a uma das cinco categorias:
- Melhor gestão de dados para promover a segurança rodoviária.
- Melhor projeto de segurança rodoviária para utentes com mobilidade reduzida.
- Melhor projeto para promover as melhores práticas em condições médicas e capacidade de condução.
- Melhor projeto para melhorar a segurança rodoviária nas entregas de comércio eletrónico.
- Melhor projeto de segurança rodoviária urbana (aberto às autoridades locais e regionais).
Experiências para partilhar e somar
-O serviço de correio de Portugal (CTT) foi premiado em 2017 pelo seu programa de prevenção na estrada. Com mais de 4 mil veículos em circulação, foram criados 7 grupos de trabalho: diagnóstico de acidentes rodoviários, formação, veículos, controlo de acidentes, comunicação e reconhecimento.
-A Fundación MAPFRE, ligação nacional da Carta Europeia para Espanha desde 2020, também obteve o mencionado prémio em 2019 com o “Programa internacional de educação rodoviária”, cujo objetivo principal é educar as crianças para a utilização correta e segura das estradas. Contudo, isto é feito não apenas através de ações de formação na sala de aula, mas também com o envolvimento das famílias na morada.
-Um exemplo de como a sociedade civil pode contribuir para a melhoria da segurança rodoviária é o trabalho realizado pela Associação para o Estudo da Lesão da Medula Espinhal (AESLEME). Foi fundada por médicos quando viram que o hospital onde trabalhavam estava a duplicar o número de feridos em acidentes rodoviários. São signatários da Carta desde 2025 e foram finalistas em 2021. “Devemos marcar o que posso fazer e como aderir à Carta, ou seja, como vou tentar aderir a este tsunami pela segurança rodoviária”, disse Mar Cogollos, diretora da Associação, durante o evento, onde também convidou todos aqueles qie estão a pensar em ser signatários a aderir.
-Outro exemplo de instituição comprometida é a Fundação Espanhola para a Segurança Rodoviária (FESVIAL). Orestes F. Serrando, chefe de RI, destacou no evento que “o verdadeiro prémio que todos podemos ter em segurança rodoviária é atingir o Objetivo Zero fixado. Subscrever esta carta é verbalizá-la”. Destacou que o mais importante é sem dúvida partilhar experiências; e animou a sua ampliação para além das fronteiras da União Europeia.
-O Instituto Asturiano de Prevenção de Riscos no Trabalho é um dos poucos institutos de prevenção na Carta. Signatários há menos de um ano, a sua diretora Miriam Hernández indicou alguns dos projetos que desenvolveram e que sem dúvida marcaram um antes e um depois, tais como o Selo asturiano de mobilidade segura na empresa que foi lançado em 2017 e o Guia de mobilidade segura nas empresas de Astúrias.
–Polícia Local de Alcobendas, também signataria da Carta Europeia da Segurança Rodoviária. O inspetor Jesús García Ruiz descreveu o seu trabalho como “fabricantes de segurança”. Durante o seu discurso, detalhou que “antes de construir, temos de estar conscientes do que somos e para que servimos. Somos parte da sociedade”. Destaca a sua tolerância zero a comportamentos de riscos e o Plano anual de Segurança Rodoviária.
–Educatrafic é um exemplo de que as pequenas instituições podem fazer muito para reduzir os acidentes rodoviários e que, evidentemente, podem ser reconhecidos nestes prémios. Esta organização sem ânimo fins lucrativos foi promovida por profissionais da segurança. Em 2021, obteve o Prémio de Excelência na categoria Escolas e Universidades pela sua campanha para reduzir os acidentes com trotinetas elétricas. Em particular, conceberam um programa prático que consiste num circuito fechado no qual é simulado um ambiente rodoviário seguro. Como o seu diretor Eduardo Colell declarou durante a conferência, a maioria dos condutores de trotinetas elétricas são jovens que não têm carta de condução e, portanto, desconhecem os regulamentos. Como demonstrou um inquérito recente, 53% dos utilizadores que estavam na estrada com uma trotineta elétrica não sabiam o que significa o sinal de cedência de passagem. Este também é o caso do sinal de direção proibida, em que 58% também não sabia o que significava. Da mesma forma, 64% desconhecia que os utilizadores que conduzem numa rotunda têm prioridade.
O programa de formação de Educatrafic avalia as habilidades com a trotineta, trata das consequências da condução sob os efeitos do álcool e explica o significado dos sinais de trânsito básicos.
-Como exemplo de grande empresa, a ACCIONA Energia recebeu o Prémio de Excelência com o programa “Drive Safe” para condutores profissionais em 2022. Luis García Garrido, gerente de Segurança na Engenharia de Produção da empresa, destacou que desde a sua implementação, os acidentes foram reduzidos em 6%. O programa é composto por três pontos: planeamento, execução e medição. Na sua opinião, “se não medimos algo, é que não nos importamos com isso. Não podemos dizer se melhorou ou não”. Tal e como disse Luis García, “o Prémio foi um reconhecimento e apoio muito poderoso, já que eliminou possíveis barreiras do programa. Estamos orgulhosos em sermos os melhores da Europa. Países onde não tinha sido implementado e estavam reticentes, agora queriam que fosse também desenvolvido”, acrescentou.
–Netun Solutions são os criadores do conhecido Help Flash. O V16 já pode substituir os triângulos de emergência em caso de acidente ou avaria em Espanha e será obrigatório em 2026 para todos os veículos, exceto veículos ligeiros e motas. O dispositivo foi finalista nestes prémios em 2021. Como Alejandro González, CMO Chief Marketing Officer da empresa, explicou “a tecnologia do século XX estava a ser utilizada no século XXI”. É um claro exemplo de como uma empresa de duas pessoas, que começou na Galiza, fez coisas que provocaram uma mudança na regulamentação num país e como esperam abrir essa possibilidade a outros países.
-A campanha “Se não passa, passe”, da AECA-ITV, procura promover que todos os veículos passem pela correspondente Inspeção Técnica de Veículos. A campanha foi finalista destes Prémios europeus. Como Guillermo Magaz, diretor-geral da associação, indicou, este reconhecimento do que foi feito em Espanha é algo que deve ser realizado no resto da Europa.
–Abertis, um firme candidato para os prémios. Como anunciou Cristina Zamorano, do Centro de Segurança Rodoviária das Autoestradas Abertis, a empresa continua a colaborar com a Unicef no combate aos acidentes de trânsito com crianças. Para além, trabalha com agências de tráfego em cada país para promover comportamentos responsáveis para crianças, adultos e idosos e proporciona um forte incentivo à tecnologia nas suas infraestruturas, para promover a segurança rodoviária.
O evento terminou com o discurso de Juan José Matarí Sáez, presidente da Comissão de Segurança Rodoviária no Congresso dos Deputados de Espanha, que salientou que se trabalhamos todos juntos, seremos capazes de alcançar os objetivos europeus e os desafios que a Espanha se propôs na Estratégia 2030 e também a Visão Zero até 2050. “Partimos de uma situação melhor que outros países europeus. Devemos sentir-nos orgulhosos porque é o resultado do trabalho realizado por muitas pessoas”, disse ao final do discurso.
Neste encontro reunimos empresas e instituições que são um exemplo claro de como a sociedade civil pode contribuir para melhorar a segurança rodoviária; signatários da Carta Europeia de Segurança Rodoviária que decidiram partilhar as suas experiências para somar e que juntos podemos reduzir o número de mortos e feridos nas estradas.