Como é complicado pedir perdão

António Ferreira

22 de Outubro de 2013

Outro dia presenciei um ato de má educação rodoviária, infelizmente bastante frequente nos tempos que correm. Aconteceu que um carro circulava duvidosamente por uma avenida, afrouxando e muito a sua marcha pois não sabia se tinha que virar ou não no próximo cruzamento que ia brevemente atravessar.

Enquanto isto acontecia, o seu semáforo passou a vermelho e fechou, e ficou verde o dos veículos que cruzavam perpendicularmente a avenida em questão, mas ele, em vez de manter-se parado no seu lado do cruzamento, decidiu que como teria depois de seguir em frente, porque motivo é que teria de esperar que voltasse a abrir o seu semáforo.

Resultado: por pouco quase que levava à sua frente três automobilistas. Perante o buzinão generalizado que levou depois este condutor temerário, a sua resposta foi apenas muito simples, fácil e também “troglodita” tal como a de baixar o vidro da janela e mostrar no ar a todos o seu dedo médio estendido. Isso sim, e foi ainda muito bem apoiado pelos dedos médios erguidos e os insultos de todos aqueles que na altura o acompanhavam dentro do carro. Um típico exemplo de pouca vergonha e “boa” educação itinerante, isso sim senhor.

Na origem de isto, parece-me imprescindível reivindicar a simples fórmula de levantar a mão para dizer: “perdão, enganei-me, eu admito”. A todos nos chateia muito quanto nos fazem gestos ao volante, e não sei convosco, mas a mim o azedume desaparece-me de imediato se vejo que o condutor infrator pede perdão. É indicador, aliás, que os que não se desculpam tendem a ser os que as fazem mais graves.

Todos somos humanos, podemo-nos enganar, e é muito fácil pedir perdão. Insultar, fazer gestos ofensivos ou simplesmente ignorar tudo como aquele que ouve chover, apenas pode fazer piorar as coisas, sobretudo quando não se tem nenhuma razão

Por isso insisto: às vezes é mais importante do que aquilo que nós pensamos levantar a mão e invocando a minha culpa e pedindo desculpas quando fazemos algo que sabemos que não está bem. Ao fim ao cabo, supõe-se que somos seres dotados de uma inteligência privilegiada, não é?

Foto | OEH Science