Conduzir um carro automático, a priori, deveria pressupor poucos quebra cabeças, já que este tipo de veículos está pensado para ter um maneio cómodo, sem atender a grandes preocupações no trânsito. Ainda assim, num meio onde é hábito termos formação em carros manuais, por vezes surgem dúvidas sobre como conduzir um carro de caixa automática.
Como se conduz um carro automático?
Quem tirou carta «B» em versão manual, não foi ensinado a pegar num carro automático. Se bem que é fácil encontrar explicações sobre como utilizar a caixa de velocidades manual, não há muita informação sobre como conduzir um automático. Além disso, há carros automáticos de muitos tipos: os que têm a primeira, segunda e a D, o que não tem mais do que a D, o que combina manual (sequencial) com automático e o que não tem relações (tipo Prius).
Vejamos como se conduz um carro automático. Há basicamente transmissões automáticas de três tipos.
Caixa convencional com acionamento hidráulico
Também é chamada de manual pilotada. É formada por uma caixa manual à qual é acoplado um acionador hidráulico gerido eletronicamente para a seleção das relações de caixa. Como no fundo é uma caixa manual, não é problema em dotá-la de um modo em que o condutor escolhe as relações de caixa à vontade, seja no comando da caixa ou nas patilhas do volante, com relações ascendentes (+) e descendentes (-).
Nos modelos mais avançados destas transmissões, com nomes com DSG, EDC, Powershift ou TCT, as relações preparam-se antecipadamente, para que a passagem para a seguinte seja quase impercetível.
Caixa automática de trem epicicloidal
Usa uma engrenagem planetária e três engrenagens satélite unidas por uma placa comum numa roda dentada no seu lado interior. É a caixa 100% automática mais usada, apesar da sua complexidade técnica e permite obter várias relações em função das engrenagens que são acopladas em cada momento sem interromper o movimento de entrada do motor, onde pode ser utilizado um conversor de binário.
Caixa de variação contínua
As CVT, Multidrive S, Hypertronic, Multitronic, Autotronic, Extroid ou Xtronic são, por seu turno, as mais simples de um ponto de vista concetual e o mais evoluído quanto à eficiência energética. Necessita de duas polies de diâmetro variável um corrente metálica flexível ligadas entre si, que é o que transmite o movimento.
A gestão é realizada com uma centralina eletrónica e permite obter um número infinito de relações de velocidade, já que não há posições fixas, pois tudo é absolutamente variável. Esta caixa tem um funcionamento muito intuitivo.
Os comandos do carro automático
A primeira ideia a reter é que cada fabricante monta o seu carro como quer, pelo que consultar o manual de instruções é mais necessário do que nunca para saber como foi desenhado esse carro em concreto. Também vai perceber que comportamento é esperado da nossa parte e que parte fica para o carro gerir. A partir daí há algumas coisas genéricas que se podem aplicar à maioria dos carros automáticos.
A primeira tem a ver com a pedaleira, o conjunto de pedais. Como nos carros automáticos se elimina o pedal de embraiagem, a primeira recomendação prática sobre a condução de um carro com caixa automática está relacionada com a ergonomia e resume-se apenas a uma advertência: cuidado com o pé esquerdo.
Um carro automático não tem pedal de embraiagem

driving a car
Sim, parece a brincar, mas não é. Por puro hábito, quem conduz com caixa manual tem integrada a ideia de que basta pisar a fundo com o pé esquerdo e quando nos tiram o pedal da embraiagem, não sabemos o que fazer.
Bem, pois o que tem de fazer é colocar o pé no estribo (um local de repouso incluído nos carros com pedal de embraiagem) e, se for necessário, atar os cordões do sapato à porta do condutor. Isto porque se o hábito o atraiçoar, pode fazer uma espectacular travagem a fundo no momento menos apropriado.
A segunda apreciação tem a ver com as possibilidades do comando da caixa automática, além da selecção da relação por toques, seja num punho, em botões, ou como quer que o fabricante tenha decidido fazer no carro que vamos conduzir. Podemos encontrar um monte de posições: P, R, N, D, 2, 1 (ou L) e também D3, D4, S, DS e, de forma mais residual, OD.
Relações de um carro automático
As posições básicas são: P, de «parque», para imobilizar o veículo quando já está parado; R, de «reverse», para a marcha-atrás; N, de «neutro», para o ponto morto e D, de «drive», ou seja, para conduzir.
Outras posições são as que se encontram numeradas para selecionar expressamente um regime concreto dependendo de circunstâncias concretas da condução, o que recorda bastante a caixa manual. Seria o caso de 2, de D4 ou de L, que equivale a 1, a relação de caixa mais curta. Em alguns modelos temos a posição S ou DS, que enfatizam as acelerações em relações curtas e até poderíamos encontrar a posição OD, que permite em relações altas uma sobreaceleração num momento de exigência pontual superior ao normal. Alternativamente, pode haver botões de bloqueio para evitar ou permitir que o punho se mexa de uma posição para a outra.
Manejar em função das condições de marcha
A caixa automática está pensada para não ter que pensar nela. Isto quer dizer que a posição natural da condução é a D (salvo quando queremos ir em marcha-atrás, claro). Com o veículo parado e o pé no travão, liga-se o motor, seleciona-se a posição D e retira-se com cuidado o pé do travão enquanto o carro se começa a mover. A reação dinâmica do veículo é como a de um carro de caixa manual engatado.
A partir daí, dependendo das circunstâncias pode interessar-nos uma relação de caixa mais curta do que o normal para, num exemplo clássico, descer uma serra. Se mantivéssemos a D, ao acelerar, a caixa automática selecionaria uma relação superior. Isso evita-se impondo a relação com o comando e selecionando, por exemplo, a 2.
Além disso, temos o exemplo dos carros híbridos, que vão sempre em D sempre, salvo quando o carro incorpora um modo especial de retenção, forçando que o motor de gasolina funcione sem consumir combustível, só para produzir resistência ao avanço.
O que é a relação D4?
De facto, há dois tipos de caixas sequenciais: aqueles que se cingem aos pedidos do condutor e, se a eletrónica o permitir, descartam altos e baixos regimes de rotação, selecionam a relação, e aqueles nos quais o condutor seleciona a relação o mais alta possível. Quer dizer, quando vemos na caixa a relação D4, por exemplo, isto não indica que ao selecioná-la o carro fica logo em 4.ª, mas sim que trabalha em relações grandes, sem passar a 4.ª, retendo um pouco. Assim se evita um número excessivo de posições nop unho da caixa.
Uma nota adicional: em algumas caixas automáticas, a prática ausência do travão de motor faz com que o condutor habituado a caixas manuais tenha a percepção de que o carro anda mais. É uma questão de usar o pedal do travão para que se selecionem relações mais curtas… ou impô-las manualmente. Nas caixas CVT com seletor de relação, ao selecionar uma destas, a caixa reduz o funcionamento às combinações que mais nos possam ajudar nesse momento.
Para um carro automático, que relação é a mais conveniente?
E nas paragens pontuais devido ao trânsito ou à sinalização, devemos mudar a relação? Aqui há alguma controvérsia dependendo de quem consultemos. Há que, fale de passar para N para evitar que a D dê origem a barulhos parasitas e a mais consumo de combustível e há quem indique que selecionar N a cada paragem equivale a um desgaste desnecessário no mecanismo. Em que é que ficamos? Preferimos a primeira opção a não ser que a paragem seja muito breve.
A posição P, por outro lado, está pensada para imobilizar o veículo quando ele já está parado. Dependendo do modelo do carro pode não arrancar se estiver nessa posição, já que o resto das possíveis escolhas transmitem movimento das rodas ao motor. Pela mesma razão, pode ser impossível sair da relação P se não pisarmos o travão ou pode ser que não possamos retirar a chave da ignição, caso o carro não esteja em P.
Desportivismo e aderência com caixas automáticas
Em exigências pontuais de aceleração, os modos S ou DS impõem um modo mais desportivo que estica a utilização das relações curtas e até acelera o tempo de transição entre velocidades. Nestes modos de condução, pode acontecer que as relações também retenham mais. Ao soltar o acelerador, pode devolver o comando da caixa a outra posição.
Em condições de fraca aderência, as relações de caixa devem ser compridas em plano e pendentes ascendentes para evitar perdas de aderência e curtas em descidas para evitar que o carro suba de caixa ao acelerar o motor. Nestes casos optaremos pela seleção de velocidades de acordo com essas premissas e evitaremos usar modos desportivos. Caso tenhamos ao dispo o «modo de inverno», poderemos usá-lo, uma vez que este dará prioridade às relações mais adequadas dependendo de cada momento da condução.
Como cartão de apresentação das caixas automáticas, este artigo poderá dar uma ajuda, mas não se esqueça que o melhor mesmo é consultar o manual de cada veículo.
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Fonte: Circula Seguro.com