Como evitar enjoo no carro?

António Ferreira

4 de Junho de 2013

“Oh não! A criança está enjoada no carro, e agora está prestes a… já está! É melhor pararmos o mais rapidamente possível, senão vai enjoar-nos… a todos.”

Se alguém presente já passou por uma situação como esta, também sabe que ficar enjoado no carro, sobretudo se é um enjoo numa criança, pode ser tão repentino que mal dá tempo para fazer algo para remediar a situação. Desta forma, o que nós, condutores, podemos fazer para evitar tonturas e enjoos no carro?

O que é a doença de movimento e por que motivo se origina

doença do movimento, que é o nome técnico para a tontura cinética, é uma doença causada no sistema de equilíbrio do ser humano, e é causado quando não se bloqueia a informação que recebe o sistema nervoso central desde a vista, desde a parte vestibular do ouvido médio e à sensibilidade posicional que recolhe o sistema músculo-esquelético.

Digamos que vamos a conduzir um carro e a dar curvas para a direita e para a esquerda com bastante frequência. A sensação de movimento que o cérebro recebe a partir da vista não consegue corresponder com a sensação de aceleração que provém do ouvido nem com a sensação da posição do corpo que é proveniente dos ossos e músculos do ser humano, que estão razoavelmente sossegados.

Tudo isto provoca em algumas pessoas uma automática perda de orientação e de equilíbrio, acompanhadas por suores frios, palidez, uma excessiva quantidade de bocejos, salivação, náuseas e vómitos. Alguns destes sintomas enumerados, como as náuseas, o vómito ou uma prévia salivação, se devem ao facto de que o centro do nervo que provoca vómitos repentinos está situado no tronco cerebral, bastante perto do órgão de equilíbrio. Outros sintomas, como bocejos, devem-se à necessidade que o corpo tem por receber oxigénio. De qualquer forma, todos estes são sintomas acompanhantes, e não enjoos por si mesmos.

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Quem se enjoa mais no carro?

Existem pessoas que são mais vulneráveis do que outras no que toca aos enjoos, e tal é pouco frequente em crianças com menos de dois anos, pois o seu sistema nervoso central ainda é imaturo, enquanto a sensibilidade de enjoo geralmente diminui após os 12 anos de idade. De qualquer modo, existem pessoas além desta idade que sofrem desta doença a vida inteira.

Também é bastante usual que as grávidas enjoem com maior facilidade, uma vez que durante o período de gestação existe uma maior sensibilidade nos centros nervosos, além das mudanças na distribuição do fluxo sanguíneo corporal que se produzem para alimentar o bebé.
Por outro lado, é verdade que existem fatores emocionais, como o medo ou a ansiedade, que muitas vezes ajudam a mecânica do enjoo. Até pode acontecer que se uma pessoa sabe que é vulnerável a enjoo com maior facilidade por sofrer de ansiedade cinestésica antecipatória, pode provocar um perigoso ciclo vicioso.

O que uma pessoa com enjoos pode fazer para o evitar?

Se estivermos conscientes de que esta doença é causada por uma descoordenação entre as informações dadas pela vista, pelo sistema auditivo e pelo sistema músculo-esquelético, será melhor trabalhar para que essa informação não seja tao inconsistente.

Um dos conselhos típicos, a pessoa que tem tendência a enjoar deverá ocupar sempre os bancos da frente do carro e olhar para o horizonte através do para-brisas, que se encontra na parte da frente do carro, e se puder tentar manter o olhar a um nível elevado, pois desta maneira irá desaparecer a sensação visual de velocidade. Em contrapartida, é muito pouco recomendado que a pessoa que se enjoa fixe a atenção num livro ou num visor de DVD ou numa consola de jogos, pois pode ser ampliada a falta de coordenação entre as diferentes informações que o cérebro recebe.

Além disso, em muitos casos, a pessoa vítima desta doença pode tomar medicações antes da viagem, sempre que estas não sejam contra-indicadas e jamais devem ser tomadas por mulheres que estejam grávidas. Como curiosidade e seguindo o referido anteriormente, alguns dos medicamentos utilizados para prevenir o enjoo e vertigens (que não deixa de ser outro tipo de enjoo) actuam através de sedação, abafando o sistema de equilíbrio do ouvido.

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Como evitar a doença do movimento através da nossa condução

Sim, porque mais que “evitar” o enjoo no carro devemos também preveni-lo. E é que os sintomas do enjoo aparecem de uma forma gradual mas desencadeiam-se de uma forma bastante rápida, então, uma vez que o ocupante do carro começa a ficar enjoado e as pessoas já estão atrasadas, e em alguns casos, é quase impossível para a pessoa enjoada conseguir interromper o processo. Por isso mesmo, nós como condutores temos de fazer o possível para prevenir o enjoo.

Desta forma, a nossa condução deve ser suave, ou seja, com acelerações e desacelerações muito tranquilas e, sobretudo, tentando fazer com que a aceleração e desaceleração seja impercetível. Para conseguir isso, temos de meter na cabeça que os pedais do acelerador e travão não são interruptores de posição (on-off), mas que devemos deixá-los ir com delicadeza, de uma forma semelhante a quando pomos o pé esquerdo para que o carro não dê solavancos.

Desta forma, o volante também deve ser manuseado com agilidade mas com suavidade. Se dermos solavancos, os nossos passageiros vão conseguir notar movimentos que não correspondem com o resto da informação recebida pelo cérebro… e irão ficar muito enjoados.

Além disso, devemos tentar com que o interior do veículo esteja limpo, fresco e arejado. Embora não tenha sido cientificamente demonstrado o papel do “ar fresco” na mecânica de enjoo, o mais certo é que um carro sujo e com o ar rarefeito dá propensão a enjoo, pelo que o mais provável é que se venha a desenvolver fatores psico-neurológicos que não têm relação direta com a doença do movimento, mas que funcionam na hora de evitar o enjoo… ou facilitam a que se produza. Assim, pode ser necessário fazer alguma paragem a mais no caminho para que a pessoa que se enjoe se refresque e para que se movimente fisicamente, trazendo paz ao sistema músculo-esquelético com o aparelho vestibular.

Por outro lado, se nós sabemos que uma pessoa fica mal disposta, a pior coisa que podemos fazer é colocá-la na situação. Se chegarmos a uma zona de curvas e lhe lançarmos uma série de avisos como: “Estás bem? Tens a certeza? De certeza que não vais ficar mal disposto? Queres que ligue o ar condicionado?”, provavelmente  estaremos a apelar para a sua própria sugestão e tudo acaba com um enjoo.

E para terminar, lembre-se que enquanto estiver a conduzir um carro dificilmente irá ficar enjoado, a não ser que tenha a tensão arterial baixa. O motivo é muito fácil de se explicar: um condutor sabe quando acelera, quando reduz e quando gira o volante. Apesar de o fazer com uma certa brusquidão, sabe o que está a fazer e que o seu cérebro recebe informações consistentes pela visão, ouvido e sistema músculo-esquelético. Além disso, com o tempo o sistema nervoso volta a entrar em equilíbrio, por isso também é comum para uma pessoa pouco viajada que se enjoe até se habituar ao carro. E, embora às vezes não o pareça, o corpo tem a sua própria sabedoria.

Conselhos | Dr. Josep Serra
Foto | Mary WitzigWilliam WhyteTom Reynolds