Credibilidade rodoviária

Jorge Ortolá

14 de Janeiro de 2014

Portugal sofre de um problema de credibilidade rodoviária, não apenas no um para um, mas essencialmente na formação e legislação que a suporta. Ou seja, em toda a sua amplitude, Portugal rodoviário é uma estrutura podre e enferrujada que se tenta maquilhar com algumas revisões ao código da estrada ou noutra legislação paralela.

É verdade que ao longo dos anos se têm produzido alterações ao código da estrada que vão de encontro ao objetivo “menos mortes nas estradas”. No entanto esse objetivo é muito limitado, porque também aqui não se está a percorrer o melhor caminho, mas sim aquele que apenas serve um lado.

A importância de uma boa formação

Tenho constatado que, quando se aborda o tema “formação“, aborda-se essencialmente a aprendizagem das normas do código da estrada. Mas, muito diferente disso, é a formação que se deveria desenvolver e não desenvolve. A formação do caráter, da índole e do respeito. A formação da base de um individuo que se quer cumpridor e promotor das regras de cidadania e condução.

E é aqui que toda a estrutura tem uma elevada debilidade que vai condicionar todo o equilíbrio futuro. É aqui que o projeto tem de se iniciar, para que estacas de apoio de tempo limitado não tenham de ser usadas na compensação de ausência de uns alicerces sólidos, sóbrios e fortes, capazes de proporcionar atitudes e comportamentos válidos e de tempo ilimitado.

 Credibilidade rodoviária

Para que possa haver uma credibilidade rodoviária que promova uma real diminuição nos valores da sinistralidade rodoviária e suas consequências nefastas, é necessário implementar um processo formativo continuo que tenha inicio no pré-escolar e acompanhe o individuo ao longo de toda a sua via. Para tal é necessário integrar os pais das crianças nesse processo formativo. Só desta forma conseguiremos que esses pais percebam, ao longo do tempo, a riqueza social que tal tem para a comunidade em geral, sua segurança e bem-estar.

Depois, e indo ao encontro da recente alteração legislativa que prevê a revalidação do titulo de condução para idades mais baixas, deverá ser introduzida nessa mesma legislação a frequência, do individuo que vai renovar a sua carta de condução, em horas de formação teórica numa primeira fase e teórica/ prática numa segunda fase. Tal vai fazer com que os participantes se mantenham atualizados às alterações e novidade do código da estrada, assim como das novas tecnologias que equipam os veículos.

É verdade que estamos uns 30 anos atrasados em relação a estas e outras tantas alterações que devem ser efetuadas, mas não é menos verdade que, continuando a lamentar esse atraso, nada se faça em concreto e mais profundo, apenas porque as pessoas vão reclamar ou não é politicamente social. Temos de olhar para as consequências positivas que tais normas irão promover em uma ou duas décadas. As baixas reais da sinistralidade, das consequências nefastas, dos custos económicos e sociais associados.

Se nada for feito, estaremos dentro de 30 anos a lamentar o elevado número de mortos nas estradas portuguesas, tal como agora e continuaremos a ter uma enorme falta de credibilidade rodoviária aos olhos da Europa, mas essencialmente aos olhos dos familiares que perdem os seus entes queridos.

Foto ¦ Ildar Sagdajev