
Conduzir uma moto com velocidades podem ser desafiantes para quem só conduziu scooters
De há uns anos para cá que os condutores habilitados a conduzir veículos ligeiros podem conduzir quase todos os motociclos até 125cm3. Uma medida que muitos saudaram, pois permitia que passassem a usar motociclos sem a necessidade de passarem pelo teste específico para obter a habilitação A2.
Na época muitos optaram por scooters, mas alguns querem mais e procuraram motos mais potentes, o que implica uma moto tradicional e com caixa de velocidades. Conheça algumas dicas para se estrear com este tipo de veículos.
Legislação específica para conduzir motos até 125cm3 em Portugal
A habilitação necessária para conduzir motociclos de cilindrada superior a 50 cm3 depende da obtenção da categoria A, ou uma das suas subcategorias, mediante inscrição em escola de condução e aprovação no exame de condução. Este exame é constituído por uma prova teórica e outra prática.
Em Portugal os titulares de carta de condução válida para veículos da categoria B (automóveis ligeiros) consideram-se também habilitados para a condução de motociclos de cilindrada não superior a 125 cm3 e de potência máxima até 11 KW (categoria A1), desde que tenham idade igual ou superior a 25 anos ou não o sendo sejam titulares de habilitação legal válida para a condução de ciclomotores, conforme Lei n.º 78/2009, de 13 de Agosto).
Esta permissão dispensa a inscrição em escola de condução, se for habilitado para a condução de veículos de categoria B, e pretender obter a habilitação de categoria A1, ou se for habilitado respetivamente para as categorias A1 e A2 há mais de 2 anos, e pretender obter a habilitação para as categorias A2 e A, realiza-se em regime de autopropositura, conforme n.º 2, art.º 33.º do Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir.
Pode consultar mais informações no Código da Estrada, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 114/94, de 3 de maio, na sua redação atual. Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir aprovado pelo Decreto-Lei n.º 138/2012, de 5 de julho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 37/2014, de 14 de março, Decreto-Lei n.º 40/2016, de 29 de julho, Decreto-Lei 151/2017, de 07 de dezembro, Decreto-Lei 2/2020, de 14 de janeiro e Decreto-Lei 102-B/2020, de 09 de dezembro, bem como a Diretiva 2006/126/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à carta de condução, na sua redação atual.
A mudança para moto com velocidades
A grande maioria das motos acima de 125 cm3 tem transmissão manual, por isso não é tão fácil de nos adaptarmos quando se transita dos automóveis. Controlar a caixa de velocidades com os pés e as mãos e ganhar adaptação num veículo mais pesado pode ser complicado se for a sua primeira vez. Portanto, da parte do Circula Seguro recomendamos que comece a conduzir um moto sem ter praticado previamente em locais sem trânsito e com espaço amplo. Até o incentivamos a fazer um curso de aperfeiçoamento para aprender mais rápido e com a confiança que os professores transmitem.
Antes de subir na moto, algumas notas teóricas
Vamos começar com a teoria básica: a grande maioria das motos tem uma caixa de velocidades manual. Portanto, se se quer tornar um “verdadeiro motard”, o primeiro passo é aprender a usar uma moto com caixa de velocidades. Embora seja uma manobra que, a princípio, pareça exigir muita técnica e coordenação, como tudo o resto, com o tempo e aos poucos habituamo-nos e as rotinas vão se automatizando.
Como num carro, a troca de velocidades numa mota envolve três componentes: o acelerador, a embraiagem e o pedal da caixa de velocidades (a alavanca da caixa). Mas neste caso, e ao contrário dos automóveis, os dois “pedais” de aceleração e embraiagem são facilmente alcançáveis, enquanto a “alavanca” das velocidades é acionada com o pé. Para fazer isso instintivamente, a primeira coisa que precisa de saber é:
– O lado direito do nosso corpo controla o movimento da mota: o acelerador com o rodar do punho direito e o travão com o pé direito.
– O lado esquerdo do nosso corpo controla as as trocas de caixa: a embraiagem com a alavanca na mão esquerda e o pedal de mudança de velocidades com o pé esquerdo.
Enquanto o punho direito pode ser movido para acelerar com a torção do pulso, o punho esquerdo é fixo. Isso permite operar confortavelmente a embraiagem da mota puxando a alavanca, separando o movimento do motor da transmissão (a mota não se moverá enquanto a embraiagem estiver pressionada – tal como nos automóveis). É nesse preciso momento que podemos usar a alavanca das mudanças com o pé esquerdo para subir ou descer a mudança.
Posições da alavanca de mudança de pé
Dependendo do modelo, a caixa de velocidades costuma ter entre 5 a 7 velocidades, das quais apenas uma deixa a rotação do motor e a rotação da roda traseira independentes: a posição neutra ou “ponto morto”.
Para ser mais facilmente percetível confira a ordem das velocidades:
7ª velocidade (se houver)
6ª velocidade (se houver)
5ª velocidade
4ª velocidade
3ª velocidade
2ª velocidade
Neutro
1ª velocidade
Atenção que é altamente recomendável ter o cuidado de deixar a moto com velocidades sempre em ponto morto quando para ou antes de iniciar a marcha. Assim, para engrenar a primeira deverá pressionar para baixo. Depois as seguintes serão sempre para cima. Caso pretenda reduzir deverá pressionar para baixo.
Como arrancar com uma moto com velocidades?
Antes de iniciarmos a nossa viagem precisamos de colocar em funcionamento o motor, com segurança. Para tal, confira se o pedal das velocidades está na posição neutra para evitar que a mota se mova abruptamente quando der ignição. Rode a chave para a direita, acione a embraiagem (necessário em alguns modelos) e pressione o botão da ignição (os modelos de “kick-start” são cada vez mais raros) e a mota deve estar a trabalhar… rode o punho do acelerador … Ouve o “roncar” do motor?
Se quisermos mudar de velocidade, devemos usar os três “protagonistas” que mencionamos no início do artigo e na seguinte ordem:
- Primeiro, puxamos a alavanca da embraiagem com a mão esquerda e a seguramos com força: o motor e a transmissão foram separados e permitimos que uma outra velocidade seja engatada.
- Depois libertamos totalmente o acelerador da mão direita para que as rotações do motor não subam descontroladamente.
- Seguidamente selecionamos a primeira velocidade empurrando o pedal de mudança de velocidades na direção do chão, com o pé esquerdo, sem soltar a embraiagem.
- Agora temos uma velocidade engatada e podemos começar a soltar a embraiagem de forma gradual e suavemente para que o motor da moto não pare ou que esta faça algum movimento brusco, como por exemplo algum salto repentino.
- Começamos a acelerar aos poucos enquanto continuamos a soltar a embraiagem e sentimos como a moto reage. À medida que a mota se move, continuamos a acelerar até que as rotações “nos peçam” para engatar próxima velocidade, de preferência sem se aproximar muito do limite a vermelho no conta rotações.
FAQ sobre o uso de moto com velocidades
Quando devo mudar de velocidade? Deve fazê-lo quando o motor pedir, ou seja, se notar que está muito acelerado e o som muito agudo, deve engatar a próxima velocidade. Mas caso note o oposto, que a mota está com dificuldade em manter a velocidade ou que não consegue acelerar e parece que vai parar, deve-se reduzir para uma velocidade a baixo.
Ao engatar uma velocidade, tenho sempre que acelerar? É recomendável que você coloque o motor numa faixa de rotação ligeiramente mais alta quando for trocar de velocidade. Ao engatar uma velocidade mais alta, o motor reduz as rotações, por isso é importante ter binário e potência suficientes antes de subir de velocidade.
O que acontece se saltar uma velocidade ao subir ou descer? Não há grande problema, a única desvantagem é que a mudança de velocidade será mais brusca e, tanto na descida como na subida, você notará que o motor gira mais que o espectável ou afoga, respetivamente. Caso suceda na redução pode provocar o arrastar da roda traseira da mota, o que é sempre perigoso.
O truque principal é treino, muito treino
Você já aprendeu a conduzir uma mota com velocidades, agora o mais importante já está aprendido. Só falta o truque principal, o treino: repita, repita e repita novamente. Conduzir uma mota com velocidade nunca será totalmente seguro se você está a pensar em cada um dos seus movimentos detalhadamente. Qualquer processo de aprendizagem é considerado completo quando feito instintivamente.
A suavidade e fluidez das manobras nos controlos permitem que toda a concentração esteja na estrada e na movimentação de outros utilizadores. Lembre-se que, numa mota (e não só), devemos sempre nos fazer ver e agir preventivamente. Como se os outros não tivessem percebido nossa presença. Encontre um local vazio, como um estacionamento, onde possa colocar todos os seus conhecimentos teóricos em prática até sentir que tem a situação sob controle. Só então sua mente poderá relaxar e você sentirá segurança ao conduzir em circunstâncias reais de condução.
Original | Carlos R Vidondo
Fotos | iStock Smederevac Click_and_Photo Dmytro Varavin jockermax