Dummies para crash tests (3)

Duarte Paulo

17 de Janeiro de 2014

Todos os anos morrem nas estradas de todo o mundo aproximadamente 1 milhão de pessoas, ou seja, 10% da população portuguesa, só em acidentes rodoviários. Para reduzir o flagelo desses números, as marcas de automóveis e as instituições responsáveis pela segurança rodoviária, tentam fazer evoluir as viaturas. Para isso utilizam uns bonecos chamados dummies para crash tests.

Depois de na primeira parte deste tema ter falado sobre os primórdios da segurança automóvel, dos voluntários e dos cadáveres utilizados, na segunda falei sobre os dummies própriamente ditos, quais os modelos mais usados na indústria automóvel e suas caraterísticas, agora vamos para o state of the art, os modelos de topo que as grandes marcas usam.


Depois de saber que o Hybrid III possuí em média 120 sensores, mas se achar pouco pode encomendar um com mais sensores, sabendo que cada dummy custa em média 75 mil euros, pode parecer que isto deve chegar, mas não, as grandes construtoras automóveis estão a mudar para algo mais evoluído.

Novos dummies

A Toyota possuí o projeto chamado Total Human Model for Safety, que simula por meio de software, um corpo humano com 2 milhões de pontos de informação, fornecendo dados que verificam a gravidade do choque em tecidos, ossos, articulações e órgãos vitais, como coração, pulmão, fígado e rins.

De repente parece que o Hybrid III está obsoleto, vejamos o caso da Ford, a marca americana trabalha no primeiro dummy virtual de uma criança. Para criar o modelo vitual a marca baseou-se em dados obtidos por meio de tomografias e ressonâncias magnéticas.

Eles pretendem recriar detalhadamente toda a estrutura de ossos e tecidos infantis, incluindo a região cerebral, a fim de entender como podem desenvolver assentos, especialmente os traseiros, de forma mais segura para indivíduos desta faixa etária.

Tecnologia de cinema

A técnica de captação de movimento, designada por motion capture, utilizada pelas produtoras de efeitos especiais para o cinema e também para alguns jogos, está sendo usada para aprimorar os crash tests virtuais.

Com esta técnica, a captura dos movimentos é feita por meio de uma série de sensores, colocados em pontos chave, no corpo dos atores ou figurantes, os gestos e os movimentos são gravados e convertidos em dados.

Nos Estados Unidos, o Instituto de Pesquisa de Transporte da Universidade do Michigan, foi mais longe e aproveitou esse método para digitalizar o corpo de pessoas reais dentro de carros e carrega-los num banco de dados, que através de uma aplicação é capaz de analisar o resultado do impacto no corpo de um idoso, de um obeso ou de uma mulher, ou de uma crinaça pequena, só selecionando o tipo de individuo pretendido.

A análise da estrutura corporal dos potenciais ocupantes é bastante detalhada, feita por um scanner a laser que registra mais de 500 mil pontos, lembra-se dos 120 sensores do nosso amigo amarelinho?

Esta fabulosa quantidade de dados permite aos técnicos saber exatamente a posição da coluna vertebral de um idoso, vertebra por vertebra, ou a posição da cabeça de uma criança durante uma colisão, conseguindo desenhar o interior de forma a que provoque o menor número de danos possível.

A conhecida figura do dummy passou a ser usada quase exclusivamente na ficção, atualmente o boneco amarelo perdeu o seu posto de figura central nos testes de segurança dos protótipos das grandes marcas. Agora assumiu um papel de quase adereço.

Hoje em dia quem viaja nos modelos em desenvolvimento são os dummies virtuais que se sentam nos bancos e batem em paredes que só existem nas simulações dos supercomputadores de cada fabricante.

Réplica no computador

Como o dummy é virtual, a viatura também tem de ser virtual, então primeiro passo é desenhar uma réplica perfeita do carro a ser testado, são desenvolvidos modelos em três dimensões de todas as peças da carroceria, do chassis, do motor, transmissão e demais componentes.

Com todo o carro modelado em 3D, são levados em conta ainda outros aspetos como a espessura e os materiais utilizados em cada peça, depois o carro é montado virtualmente, criando um carro virtual com todas as características de um automóvel verdadeiro.

A simulação virtual consegue localizar e solucionar previamente possíveis erros de engenharia, evitando erros de qualidade de construção, sem haver a necessidade de perder tempo e dinheiro com a construção de protótipos que só posteriormente seriam considerados como inseguros.

Software substituí dummies

São usados programas que analisam todos os parâmetros resultantes das colisões. A opção mais usada pela indústria automóvel é o pacote Madymo, abreviatura de mathematical dynamic models. Este programa foi desenvolvido pela empresa holandesa Tass, é utilizado também na construção de helicópteros, motociclos e comboios.

Na indústria automóvel, o Madymo simula todos os detalhes de cada peça, chegando ao pormenor que o desgaste dos pneus implica no funcionamento de determinado órgão do veículo. São testados virtualmente os mesmos parâmetros exigidos no crash test real, e são analisados conforme as leis de cada país.

Sempre que ocorre um acidente as probabilidade sobreviver aumentaram imenso, muito desse desenvolvimento foi graças ao dummies para crash tests, nos anos 80 os envolvidos em acidentes mesmo aparentemente pouco graves, ficavam no mínimo feridos quando não tinham menos sorte, hoje praticamente só em casos de manifesto abuso ou só quando diversos fatores se conjugam de forma infeliz, é que ocorrem fatalidades.

As hipóteses dos ferimentos serem ligeiros também aumentaram, reduzindo os casos de joelhos destruídos, de pescoços partidos e de lesões internas graves. Os bonecos amarelos podem estar em desuso mas foram muito úteis para a evolução da segurança automóvel. Boa viagem.

Fotos | 4652 Paces