No passado 12 de janeiro, a conferência internacional “Educação rodoviária para o Objetivo Zero e um Sistema Seguro”, foi organizada pela Fundación MAPFRE no Congresso dos Deputados de Madrid, e cuja finalidade foi sublinhar a importância da educação rodoviária dos utilizadores como parte fundamental de um Sistema Seguro. Com a participação de diversas personalidades políticas e de representantes da sociedade civil internacional, o evento transformou-se num espaço de debate e de intercâmbio de propostas, ideias e reflexões, todas elas em torno do objetivo comum de conseguir zero vítimas nas estradas.
Não são acidentes
No seu discurso, o ministro do Interior, Fernando Grande Marlaska, pediu que o conceito de “acidente” em relação às nossas ruas e estradas seja eliminado do nosso vocabulário. “São desastres. Não é nada casual, está envolvida a ação, o comportamento humano”, enfatizou. Com relação ao balanço de acidentes em Espanha de 2022, o ministro disse que “mesmo que são melhores cifras que a média da União Europeia”, é uma estatística “dramática e inaceitável”. A média de mortes por acidentes em Espanha é de 32 por milhão de habitantes, quando a média na União Europeia é de 44 por milhão de habitantes.
Dessensibilização
A eurodiputada Elena Kountoura chamou a atenção sobre a dessensibilização generalizada que existe na cidadania para as mortes produzidas pelos acidentes de trânsito. “Imaginem que um avião com 250 passageiros tivesse um acidente a cada semana em Europa e todos os seus ocupantes morressem… Sem dúvida haveria uma protesta popular, seriam tomadas medidas… Essa tragédia é exatamente o que está a acontecer nas nossas estradas todas as semanas. Isto é algo inaceitável. Tanto os números, como o facto de que o concebamos como algo inevitável, um número ao que devamos resignar-nos”, disse.
O melhor trunfo
A educação é um dos principais trunfos para acabar com este drama. Neste sentido, María José Aparicio, subdiretora adjunta de Formação Rodoviária da DGT, explicou como está a ser introduzida a segurança rodiviária no currículo educativo espanhol. O objetivo centra-se em que os jovens “quando acabem as etapas escolares conheçam e compreendam a mobilidade e os seus riscos, as regras de convivência e que tenham adquirido respeito às regras a afiançar conhecimentos à medida que avancem na sua educação”. Desta forma, na etapa básica a educação rodoviária está ligada ao Conhecimento do Meio, Educação em Valores e Educação Física; na etapa secundária e superior, a estas duas últimas matérias também somamos Geografia e História e Física e Química.
Dilema ético
Outra das palestras da Jornada foi de Jean-François Bonnefon, presidente do Grupo de trabalho independente da Comissão Europeia, e que falou sobre a “Ética dos veículos ligados e automatizados”. Nesta matéria, a questão que gera maior polémica é que, em caso de acidente rodoviário, os programas tomam decisões nos veículos autónomos que tendem a sacrificar os seus próprios passageiros no caso de risco de atropelamento de peões. “O que acontece é que poucas pessoas estariam dispostas a comprar um carro que não colocasse a sua segurança em primeiro lugar”. Na opinião de Bonnefon, não há uma solução clara para este dilema, “o que sim é evidente, é que é necessária uma conversa coletiva para que as pessoas possam expressar os seus pontos de vista morais”, disse.
Iniciativas internacionais
A jornada também contou com uma mesa redonda moderada pelo fiscal de Sala de Segurança Rodoviária Luis del Río sobre “Perspetiva internacional na prevenção de lesões de trânsito”, na que foram apresentadas iniciativas em matéria de segurança rodoviária procedentes de EUA, Brasil e Noruega.
Assim, David Mooney, diretor médico de Traumatologia do Boston Children´s Hospital, destacou que, nos EUA «as lesões de trânsito causam mais da metade das mortes infantis e que a sua prevenção é ainda mais urgente neste país que nos países da UE». Ele disse que para atingir a Visão Zero, devem superar ainda vários obstáculos, como aumentar a segurança do transporte.
Também, Frederico Do Moura, diretor do Departamento Nacional de Trânsito do Brasil, explicou o Plano Nacional para a Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), revisto por mais de 100 especialistas e adotado pelo governo brasileiro para prevenir as mortes por acidentes de trânsito, cuja estratégia permitirá salvar a vida de quase 86.000 brasileiros ao finalizar a década.
Rune Elvik, investigador sênior do Instituto de Economia de Transporte detalhou a situação que vive Noruega, onde desde o ano 2000 houve uma grande redução do número de acidentes de trânsito obrigado, em parte, a numerosas iniciativas inovadoras de segurança rodoviária.
Antonio Avenoso, diretor executivo do European Transport Safety Council (ETSC), fez referência a que “a melhoria da segurança rodoviária das crianças e jovens deve ser através dum conjunto de medidas que integrem o comportamento de todos os utilizadores» e que tenham em conta o meio rodoviário, o design dos veículos, para que protejam melhor tanto aos seus ocupantes como aos que estão fora do veículo, e que permitam cumprir o regulamento”.
A voz das vítimas
Em nome das vítimas de acidentes nas estradas, o presidente da Federação Europeia de Vítimas de Acidentes de Trânsito, Filippo Randi, afirmou que é necessário que as instituições que estejam comprometidas com a implantação e fortalecimento de uma formação básica obrigatória, tanto teórica como prática, para promover conhecimentos que possam ser renovados com exames durante todo o ciclo vital, e não apenas de maneira pontual para a consecução da carta de condução.
Sintetizando, os três conceitos que mais preocupam os cidadãos são: segurança, saúde e educação. Educar para prevenir e inovar a investigação para melhorar. “Esta conferência reune ambas as dimensões, a educativa e a inovadora. A mobilidade mudou radicalmente. Estamos a viver um cenário diferente no que todas as ideias possíveis são necessárias para reduzir a zero os acidentes”, concluiu Jesús Monclús, diretor da Área de Prevenção e Segurança Rodoviária da Fundación MAPFRE.