Na sequência dos artigos das duas últimas semanas, onde falamos, primeiro do motor e cilindrada (espero que já saiba distinguir os conceitos vários que apresentei), e na semana passada, sobre a disposição do motor.
Esta semana falarei da suspensão do veículo, algo que é muito mais importante do que a maioria das pessoas pode pensar. A suspensão não se limita a tornar o carro mais confortável, embora seja um grande papel, ela serve para muito mais do que isso.
A suspensão dos automóveis são basicamente divididas em três tipos: Independentes, semi-independentes e dependentes. Esta classificação refere-se à ligação entre as rodas do veículo, por exemplo, em veículos com suspensão independente na dianteira e semi-independente na traseira, as rodas dianteiras possui total individualidade nos movimentos, o movimento de uma não influencia na posição da outra, e as rodas traseiras possuem um certo nível de dependência, visto que o movimento longitudinal de uma roda pode interferir na posição da outra roda em repouso.
Quando o veículo possui suspensão dependente, as rodas são totalmente ligadas, qualquer movimento ou vibração sofrida por uma roda influencia na posição da outra.
Este tipo de suspensão prejudica, e muito, o comportamento de um veículo em estrada, daí os carros desportivos nunca terem suspensões dependes, a não ser o Ford Mustang (até 2014) que apesar dos americanos dizerem que ele era desportivo, tinha suspensão depende traseira, só mesmo os americanos para fazerem algo deste género. A imagem em baixo representa a suspensão do Ford Mustang até à bem pouco tempo.
No nosso mercado os veículos utilizam uma configuração quase padrão de suspensão, independente na dianteira e semi-independente na traseira. Isto se deve ao fato do baixo custo de projeto e produção dessa configuração aliada a um menor custo com manutenção. Suspensões independentes requerem periódicas visitas as oficinas para verificação do alinhamento, enquanto que as suspensões semi-independentes e dependentes dispensam essa necessidade.
Geralmente veículos com suspensão independente nas quatro rodas possuem comportamento superior a de veículos com semi-independentes devido as rodas poderem estar na posição ideal em qualquer momento.
As suspensões semi-independentes possuem um pequeno grau de independência, mas é muito pequeno, e parte das vibrações e torções sofridas pela suspensão afeta o comportamento da outra roda, contudo dispensa alinhamento da rodas traseiras e pode representar uma economia a mais no orçamento.
Veículos com suspensão dependente são mais voltados para carga ou uso fora da estrada, este tipo de suspensão é muito comum em carrinhas, jeeps, etc. A sua maior vantagem é o baixo custo de fabrico e a grande robustez, podendo suportar grandes níveis de carga, no entanto possuem vibração extrema em pisos irregulares, transmitindo todas as irregularidades do solo para a cabine do veículo e direção. Em veículos com suspensão dependente nos dois eixos, geralmente se emprega uma amortecedor de direção para absorver parte da vibração no sistema de direção.
Exemplos de suspensões dependentes, semi-independentes e independentes:
- Dependentes:
Eixo Rígido; - Semi-independentes:
Eixo de torção; - Independentes:
McPherson, Multilink, Braços sobrepostos, Braço semi-arrastado e Braço arrastado.
Suspensões também são descritas pela forma e tipo de seus componentes, pois existem tipos diferentes de molas e amortecedores utilizados num automóvel.
As molas podem ser helicoidais ou de feixe, embora o efeito de um eixo de torção seja considerado uma mola, maioria dos veículos com eixo de torção apresentam também molas helicoidais. Basicamente as molas helicoidais são compactas e facilitam a construção de um conjunto de suspensão mais compacto, ao contrário do feixe de molas, que embora mais barato, acaba por ocupar mais espaço no conjunto, mas é uma ótima e robusta mola para veículos de carga.
Ambas suspensões dianteiras e traseiras podem vir equipadas com barra de torção, esta barra tem a função de conter a inclinação da carroçaria nas curvas. A aplicação da barra de torção facilita a calibração da suspensão demasiado rígida, podendo mais suave e com a oscilação da carroçaria contida pela barra de torção.
A barra de torção é montada ligando as duas rodas da suspensão dianteira ou traseira, criando uma pequena dependência entre elas, pois as rodas assumem ângulo de sopé(1) diferentes durante uma curva, as rodas do lado interno da curvas tendem a ter o ângulo de sopé positiva, e as rodas do lado externo da curva, negativa. Neste momento a barra se torce forçando a roda interna ficar em sua posição inicial (antes da curva) e isso garante que o veículo obtenha boa desenvoltura para contornar curvas mesmo tendo um acerto de amortecedores e molas mais suave.
(1) ângulo de sopé é a inclinação da roda de um veículo em relação ao plano vertical.