Em Portugal, nos meios urbanos mais populacionais surgiram, faz algum tempo, as chamadas escolas de condução “low cost” ou de baixo custo. São escolas de condução que praticam preços muito abaixo dos seus concorrentes e dos reais custos que têm no serviço prestado. O intuito destas escolas de condução é de angariar mais clientes, aliciados por valores que chegam a ser publicitados abaixo do € 300.
Colocam-se então três questões; É legal o que estas escolas de condução fazem? Consegue-se uma formação eficaz? Conseguem estas escolas de condução ter algum lucro? Estas são perguntas bastante interessantes de fácil resposta. Vou, sem entrar em contexto muito técnico, explicar o funcionamento destas escolas de condução “low cost” e os cuidados que os hipotéticos clientes devam ter ao procura-las, como solução para o seu processo formativo.
É legal ter escolas “low cost”?
A questão da legalidade destas escolas de condução “low cost” não se coloca, uma vez que elas cumprem com todos os requisitos exigidos em regulamentação. Se assim não fosse, o IMT não permitia que as suas portas continuassem abertas e cancelava-lhes o alvará de exploração. São escolas de condução equipadas com todos os requisitos e que, normalmente, trabalham com centros de exames privados e não com centros de exame do IMT:
A diferença entre trabalhar com centros de exame privados e os centros de exame do IMT, prende-se, essencialmente, no tempo de marcação dos exames. Ou seja, as escolas de condução que trabalham com centros de exames privados, se estes tiverem disponibilidade, podem agendar as datas e horas de exame dos seus formandos.
Nos centros de exame do IMT, o exame é solicitado e a escola de condução fica a aguardar a comunicação da data e hora da sua realização. Deste modo, torna-se mais fácil gerir o processo de formação nos centros privados do que nos centros do IMT.
Consegue-se uma formação eficaz?
A questão da eficácia da formação já foi aqui abordada algumas vezes, nomeadamente no post “Escolas de condução, fábrica ou loja?”. Se olharmos apenas para o regulamento, dizemos que sim, a formação está garantida porque, no exemplo das cartas de condução da categoria de ligeiros, são ministradas as 28 lições teóricas e as 32 lições práticas.
Mas, se observarmos do ponto de vista da necessidade de criar rotinas e adquirir competências cognitivas, isso jamais será possível. A intensidade com que a formação é ministrada não permite que o cérebro se adapte eficientemente ao novo conhecimento. Impera aqui a máxima do “formar para aprovar no exame e depois que se desenrasquem”.
Conseguem as escolas de condução ter lucro?
A lei e o regulamento das escolas de condução é, de certa forma, muito completo, ainda que em muitos pontos pouco exequível. No entanto, no que à liberalização de preços diz respeito, está muito bem pensado e vai livremente de encontro às escolas de condução “low cost”. ou seja, as escolas de condução podem praticar o preço que quiserem na prestação dos seus serviços.
Na tabela de preços, apenas se encontram iguais e fixos, ainda que já tenha visto algo muito diferente, os valores das taxas que o IMT cobra, sejam os exames efetuados nos seus centros de exame ou nos centros privados. As taxas que o IMT cobra, são as relativas à emissão da carta de condução, licença de aprendizagem e marcação de exames teórico e prático.
Como funciona uma escola de condução “low cost”
De modo geral as escolas de condução cobram aos seus clientes o valor da inscrição, 28 lições teóricas e 32 práticas. Está tudo, como a lei impõe, na tabela de preços afixada nas escolas de condução. Acontece que, desde que constem na tabela de preços, as escolas de condução podem cobrar outros serviços.
Para se apresentar a exame de condução teórico, o formando tem de frequentar 28 lições teóricas com aproveitamento. Se eventualmente faltar a alguma lição, terá de a repor, pois se assim o não fizer tem, somente, 27 lições, uma abaixo do valor imposto por lei. O mesmo acontece no ensino prático. 32 são as lições minimas obrigatórias. Se falhar alguma, terá de a repor.
Aqui começam os problemas dos clientes das escolas de condução “low cost”. Mas vamos ver todo o processo desde o inicio. Um potencial cliente é aliciado com um preço para uma carta de condução de automóveis ligeiros cerca de €250. Um preço absurdo, mas bastante chamativo.
O processo formativo em “low cost”
Dirige-se à respetiva escola de condução para se inscrever. Fornece os documentos necessários, não consulta a tabela de preços, pois sabe que a carta de condução tem um custo de €250. Uma vez que a escola de condução trabalha com um centro de exames privado, tem acesso on-line à disponibilidade do dito centro para a marcação dos respetivos exames, reserva de imediato uma data e hora, elabora um plano de aulas, 28 teóricas e 32 práticas.
Na planificação das aulas, grande número delas é realizado em horário laboral, previsível, do cliente. Deste modo está quase garantida a ausência em algumas das lições. Uma vez que a legislação impõe a reposição da lição em falta, por parte do formando, basta que este observe a tabela de preços e verifique que cada lição extra teórica poderá ter um custo adicional de €50 e uma prática de uns €80.
Deu-se o inicio do fim “low cost” da carta de condução. Vamos agora pensar na, previsível, impossibilidade de tempo por parte da escola de condução para reposicionar a ou as lições em falta, antes da data do exame, por motivos, claro está, de agenda lotada. Uma vez que o exame está agendado, o formando não se poderá apresentar, uma vez que não tem o processo formativo completo. Isto implica uma nova marcação de exame.
Esta nova marcação de exame vai ter custo muito elevados para o formando, custos estes que poderão rondar os €350 para a prova teórica e uns €450/ €500 para a prova prática. Acrescentando a isto as taxas do IMT que são cobradas aparte, temos uma carta de condução “low cost” que rapidamente se transforma em “hight cost“.
Podemos pensar, “sabendo tudo isto, o cliente não se inscreve na dita escola de condução”. É verdade, acontece que apenas é informado quando a inscrição já está realizada, paga e o recibo na mão. depois, desde o momento em que foi solicitada a licença de aprendizagem, o formando fica ligado à escola de condução durante dois anos, a não ser que solicite à escola o documento de transferência para outra escola de condução.
A primeira escola de condução não terá qualquer problema em emitir o documento de transferência, mas mais uma vez o cliente terá de dar uma olhada na tabela de preços. Aí poderá verificar qual o valor que terá de desembolsar para conseguir esse documento. Valor que rondará os €600. E é legal? Sim está na tabela de preço, logo é legal.
Reclamação de má fé.
Pode reclamar-se de má fé da escola de condução? Sim, pode! Mas apenas será má fé se não existir uma tabela de preços com todos estes serviços discriminados e valorados. Caso contrário, houve descuido por parte do cliente, pois não teve o cuidado de verificar os custos dos serviços da escola de condução “low cost”.
Duas questões se levantam. Algum cliente lucra com estas cartas “low cost”? A resposta é sim! Quem tiver tempo livre para assistir a todas as lições e aprovar à primeira em ambos os exames. É que para uma escola de condução, uma carta de condução não fica por menos de uns €600.
Consegue-se formar bons condutores numa escola de condução “low cost”? Legalmente sim, uma vez que cumprem os requisitos, mas na prática não. Prepara-se, eventualmente, formandos para realizarem exame e cumprirem com os objetivos mínimos do mesmo. Mas não se preparam condutores para a vida. Não se trabalham as atitudes e os comportamentos.
Quando procurar uma escola de condução, procure não apenas o preço, mas essencialmente a qualidade, a honestidade e a transparência.
Fotos¦ Lionel Allorge e Bundesrepublik