A estrada não é uma mesa de ping-pong, ultrapasse pela esquerda

António Ferreira

18 de Outubro de 2013

No código da estrada estão contempladas algumas excepções que prevêem a ultrapassagem pela direita, como é o caso da ultrapassagem de veículos que circulam sobre carris e não estejam a utilizar esse lado da faixa de rodagem ou quando um veículo na mesma faixa de rodagem vai virar à esquerda deixando espaço de passagem pela sua direita. O que é muito claro é que nas auto-estradas é proibido ultrapassar pela direita (e nas estradas interurbanas em geral). É uma regra que muitos condutores não conhecem ou não querem conhecer.

Ao fazer uma ultrapassagem deve estar na faixa da esquerda. E isso tem uma razão de ser muito lógica. É muito mais fácil de ser visto pelo retrovisor esquerdo e central que no direito do veículo que se vai ultrapassar. Claro que é mais cómodo achar que todos os condutores vivem em função do retrovisor direito, e havendo uma colisão achar que o outro é que foi culpado. Esta é uma forma anti-cívica e irresponsável de pensar, digna de uma criança do jardim de infância.

Porquê ultrapassar? Para ir mais rápido que o outro condutor, seja qual for o motivo. De acordo, nem sempre os outros condutores sabem que têm de circular na faixa o mais à direita possível e deixar livre a faixa esquerda e a central, “obstruindo” assim a circulação a uma velocidade inferior à máxima permitida.

A forma correta de proceder, e a mais segura, é ultrapassar pela esquerda. No entanto, se surgir a necessidade de ir mais rápido (assumindo o condutor a responsabilidade de o fazer) e não puder ultrapassar pela esquerda, tem de ter primeiro uma atitude respeitável. Manter a distância de segurança em relação ao veículo da frente, tenha ou não razão para “forçar” a ultrapassagem. Pode fazer sinais de luzes em jeito de “deixe-me passar por favor” em vez da atitude “sai do caminho palerma!”. Se o condutor da frente mesmo assim não se desvia para o deixar passar, continue a manter a distância de segurança e espere que ele altere a respectiva conduta.

No máximo só perdemos uns segundos na nossa viagem e evitamos enervar o outro condutor, além disso evitamos também uma situação absurda de risco. Se estiver muito perto dele, e se tiver de travar por qualquer motivo, mesmo um pequeno toque de travão, pode acabar por bater e derivar num terrível acidente (um choque em cadeia por exemplo) se também o veículo que circule atrás tenha o mesmo desprezo pela distância de segurança.

Ultrapassagem pela direita

Os riscos da ultrapassagem pela direita

Ligar os intermitentes (4 piscas) ou as luzes de nevoeiro não nos dá mais direito para usar a faixa da esquerda. Se não houver nevoeiro desligue-as. Pode ser uma boa ideia levar os médios ligados, no entanto também não nos dá o direito de passagem, servem para sermos vistos pelo retrovisor dos outros condutores. É uma medida de segurança activa, válida em todos os dias do ano, independentemente do clima e da hora, e é 100% legal.

Pensar erradamente e acertar. Pense que se o condutor da frente travar você tem de ser capaz de reagir e travar sem bater contra ele, lembre-se que, na melhor das hipóteses, desde a percepção do perigo até ao pisar do travão passam 0,75 segundos, e a 120 km/h estamos a falar de quase 30 metros. Além disso, mesmo que esteja a usar os travões de cerâmica da Porche ou da Brembo, ainda não se inventou a paragem em tempo zero de um carro, a não ser que o condutor morra instantaneamente é claro.

Se ultrapassarmos pela direita estamos a arriscar uma multa, um toque, um acidente em cadeia. E isto por uns segundos? O pior é quando se repete este procedimento continuamente, como se os outros fossem um estorvo no nosso caminho e circulem mais devagar só para nos chatear. “Espere a sua vez para passar”, a vida não se detém por uns segundos.

Os condutores que circulam em ziguezague, ou não estão conscientes do risco que estão a provocar ou têm um problema qualquer no cérebro (leia-se desmiolados). A “aventura” pode acabar, na melhor das hipóteses, com uma multa por condução perigosa ou, no pior cenário, provocar um acidente com vítimas (um peso que carregarão na mente para o resto das suas vidas). De qualquer modo não compensa, apenas para ganhar uns miseráveis segundos. Neste vídeo pode ver-se um resumo do tudo o que não se deve fazer numa auto-estrada.

Se o trânsito está tão lento que ocupa toda a largura da estrada e a velocidade é reduzida (fila), então pode-se ultrapassar pela direita (quando a marcha de um veículo está dependente da marcha dos veículos que o precedem). Mas ultrapassar pela direita outro carro em condições normais (nem que vá só a 1 km/h mais que o dito) é considerado transgressão, logo sujeito a multa. Apliquemos então o senso comum. Ninguém gostaria de virar para a direita e de repente perceber o barulho da chapa de outro veículo a entrar incorrectamente pelo nosso ângulo morto. De quem seria a culpa? De ambos, um por mudar de faixa sem ter verificado convenientemente que a mesma estaria livre (retrovisor, sinalização, manobra) e o outro por estar a fazer uma ultrapassagem pela direita.

Respeitar os outros é sempre mais seguro do que os desprezar. Se outro condutor circula de forma incorrecta, isso não nos legitima a cometer uma infracção. Não se deve, por exemplo, circular a mais de 120 Km/h, mas se o tiver que fazer por algum motivo que o faça sem colocar em perigo os outros, ou seja de uma forma responsável (como é, por exemplo, prática na Alemanha). A educação na estrada é reconhecida pelos outros, muitos condutores passam para a faixa da direita sem que seja preciso colar-se ao seu pára-choques, fazer sinais de luzes ou apitar. Basta esperar um pouco, que o mundo não acaba por uns segundos.

Não se esqueça de manter sempre uma distância segura, vá ou não ultrapassar. A sinalização francesa (na imagem) recorda que dois traços descontínuos exteriores entre carros supõem uma distância adequada de segurança. Mais simples é difícil.

Quando, por algum motivo, tem demasiada pressa (ou impaciência) pode dar origem a uma tragédia. O acidente dos turistas finlandeses num autocarro, além do excesso de velocidade e do álcool detectado no condutor que causou o sinistro, foi provocado pelas mudanças de faixa e ultrapassagens temerárias, que foram carregando a “arma” até que esta “disparou”, ou seja um conjunto de comportamentos incorrectos que, acumulados, levou ao trágico desfecho.

Para seu bem e dos outros: Não ultrapasse pela direita, não vale mesmo a pena.

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