Filtro de partículas: o que fazer quando falha?

Alberto Valera

13 de Fevereiro de 2019

O tipo de condução, entre outros fatores, pode precipitar a falha ou avaria do filtro de partículas que, cada vez com maior frequência é suprimido em vez de substituído. Do ponto de vista individual é uma solução, mas prejudica-nos a todos.


O que é um filtro de partículas?

É um filtro cerâmico. Uma peça produzida em cerâmica porosa de cordierite ou carboneto de silício com uma estrutura parecida à de um favo de mel, mas com células quadradas em vez de hexagonais. Está colocada entre a linha de escape dos motores turbodiesel (a partir de agora todos os motores a gasolina passam a ter este componente) e evitam a emissão de partículas nocivas para a atmosfera.

Para que serve um filtro de partículas?

Elimina a fuligem. Armazena as partículas de fuligem que são produzidas pela combustão incompleta do combustível nos motores turbodiesel. Estas partículas são eliminadas durante um processo específico denominado regeneração, no decorrer do qual queimam-se as partículas, convertendo-as em gases inócuos.

Como funciona o filtro de partículas?

O filtro é composto por uma multiplicidade de canais paralelos. Metade desses canais tem a entrada aberta e a saída fechada e a outra metade tem a entrada fechada e a saída aberta. Para poderem sair do filtro, os gases devem atravessar a parede porosa das galerias. Funciona como uma espécie de armadilha.

Para eliminar o carvão, seria necessário aquecer o filtro até aos 600ºC. Num motor Diesel esta temperatura só se alcança nos que estão equipados com turbocompressor. Assim, colocando um catalisador na superfície do filtro, geralmente em platina, logo de preço elevado, baixa a temperatura para cerca de 350ºC. Há construtores que utilizam um aditivo liquido em alguns motores. Este processo natural de eliminação de partículas acumuladas é apelidado de regeneração passiva.

Já a regeneração ativa, outra ação pela qual se pode limpar o filtro de partículas, obriga a injetar combustível adicional nos próprios cilindros através de um injetor extra que aquece os gases.

Qual é o problema?

O problema é que este filtro de partículas pode obstruir, afetando o funcionamento do motor.

Nem todas as partículas produzidas são carvão. O enxofre presente no gasóleo e as pequenas quantidades de metais que se utilizam em compostos lubrificantes geram cinzas capazes de resistir mais de 1000 graus que vão obstruindo o filtro de forma progressiva.

Existe ainda o problema da regeneração ativa falida. Acontece quando se realizam percursos muito curtos e o motor não tem tempo de perpetuar a regeneração ativa. Se forem interrompidos vários ciclos consecutivos de regeneração, a quantidade de carvão vai crescer até um ponto crítico e um testemunho (luz) na instrumentação vai informar o condutor de que deve conduzir e acelerar de forma a forçar a regeneração do filtro. Se ignorar o aviso, o filtro vai entupir.

Como prevenir este problema

Se se acumula uma quantidade excessiva de carvão, este pode compactar-se e não se queimar por muito que o filtro de partículas aqueça. Em princípio, a regeneração ativa deverá impedir este problema. O condutor pode interromper essa regeneração muito facilmente e de forma acidental: basta desligar o motor. Para além disso, como a regeneração ativa aumenta o consumo de combustível até 20% no caso de se realizarem apenas percursos urbanos.

Mais vale prevenir… para regenerar passivamente o filtro, basta conduzir a mais de 60 km/h em quinta ou em quarta relações durante pelo menos 15 minutos. O ideal seria realizar um destes trajetos a cada 200 km. Em qualquer caso, se acender o testemunho superior, é imperativo realizar um percurso em autoestrada. Senão, o filtro corre o risco de se obstruir. Dependendo dos quilómetros realizados, a luz de avaria do motor pode acender-se, obrigando a passar por uma oficina para que seja apagada.

O problema é que o próprio carvão deixa resíduos atrás de si. Uma vez que se acumule um pouco de cinza nalgum ponto do canal, este fica obstruído para sempre. Por isso, um filtro de partículas deveria durar legalmente pelo menos 160 mil km, mas é normal que comece a dar problemas aos 120 mil km ou aos 80 mil km no caso do veículo realizar apenas trajetos urbanos.

Solução?

Legal – Uma limpeza ao filtro. Quando o filtro não faz por si a regeneração e se acende a luz da avaria do motor, é preciso ir à oficina. O mais provável é que proponham uma limpeza, por exemplo, através de ultasons que fazem vibrar as partículas, desincrustando-as das paredes do filtro. Esta solução está longe de devolver o filtro ao seu estado de novo e se voltar à mesma rotina dos trajetos curtos, facilmente volta a dar problemas.

Substituição – Um filtro novo é a solução correta, mas é muito caro. O custo depende diretamento da dimensão do filtro que, por sua vez, depende da cilindrada do motor.

Ilegal – são várias as oficinas que propõe retirar o filtro de partículas por um custo que ronda os 350 euros. A operação consiste em desmontar o filtro, cortar a carcaça metálica que o alberga, retirar o filtro, voltar a fechar a carcaça e, hjá vazia, voltar a montá-la onde estava. Como a montagem é feita de acordo com o formato original, o aspeto final não é suspeito. Depois é preciso programar a centralina do motor para cancelar as regenerações ativas. Desta forma o consumo pode diminuir até 20%. As próprias prestações do motor melhoram levemente.

E assim o carro passa na inspeção?

Sim, passa e provavelmente sem nenhuma nota. Os Centros de Inspeção carecem da tecnologia necessária para verificar o cumprimento da norma Euro V, em vigor há já algum tempo.
Os mesmo centros utilizam um opacímetro que não consegue comprovar que se cumpre o limite de 5mg/km de partículas, porque a maioria são invisíveis e não são detetadas. Por outro lado, o nível de opacidade exigido atualmente, 1,5 m-1, é suficientemente alto para que um carro sem filtro de partículas seja notado no Centro de Inspeção.

Foto: Peugeot