Fumarentos e fumaraças – quem os fiscaliza?

Jorge Ortolá

27 de Outubro de 2014

De há uns anos para cá, Portugal tem sido invadido por uma “praga” conhecida pelo nome de “fumarentos”. São uns espécimes que se dedicam a alterar a mecânica dos automóveis a gasóleo de modo a que estes emitam enormes quantidades de fumo negro.

Esta é uma modalidade em tudo estranha, uma vez que para além de incomodar os demais utilizadores da via pública, polui o meio ambiente, com a emissão de CO2 em demasia para a atmosfera, excedendo em muito os níveis admitidos por lei, assim como periga o trânsito, uma vez que cria um período de má visibilidade aos outros condutores.

 O fenómeno “fumarento” em Portugal

O fenómeno “fumarento” surgiu na cabeça de algum iluminado que pensou, seriamente que emitir mais CO2 para a atmosfera, faria com que o seu automóvel circulasse mais rápido, quando na verdade a coisa não se passa assim.

Quando um proprietário de um veículo a gasóleo, regra geral veículos utilitários ou, também, os  chamados “comerciais”, que não atingem os 100 cv de potência, desejam ter um automóvel de elevada craveira, essencialmente social, levam a sua viatura a um mecânico e aí procedem a alterações mecânicas e electrónicas, em busca de mais cavalagem.

Essa potência extra, deveria, essencialmente, para que se pudessem “picar” entre eles, em verdadeira atitude Street Racer, mas de automóveis a gasóleo. Acontece que o resultado não acontece como desejam e então, aos poucos, foi surgindo entre os detentores das ditas viaturas, um “culto do fumo”. Quem mais fumo deitar, mais aclamado é.

Fumarentos e fumaraças

 

A transformação

Essencialmente a transformação centra-se em dois pontos; Na válvula EGR – Exhaust Gas Reciculation e e numa nova reprogramação da centralina, em busca de mais potência do motor. Se aqui a reprogramação da centralina vai fazer com que o motor exerça maior pressão, o que irá ter consequências ao nível do Turbo, essencialmente, e do consumo.

No que diz respeito ao funcionamento da válvula EGR, informa o especialista Sr. Duarte;

“Os sistemas EGR têm sido desenvolvidos e utilizados nos veículos desde há muitos anos. Os principais objectivos deste sistema é controlar as temperaturas da câmara de combustão e reduzir a quantidade de óxidos de Nitrogénio (NOX), influenciando ainda a eficiência volumétrica e com isso a rentabilidade do motor.

   A válvula EGR linear propicia uma ligação entre a admissão de ar e o sistema de escape. Normalmente, o motor “puxa” o ar através do corpo de borboleta para o colector de admissão. A válvula EGR linear é colocada numa posição tal que, quando a mesma é aberta, uma parte dos gases de escape afluem também para a admissão.

   Com o movimento do pistão para baixo durante o curso de admissão, a combinação de ar/combustível e os gases de escape entram na câmara de combustão. Embora o volume de gases que entra na câmara de combustão seja o mesmo, haverá menos ar para queimar quando o combustível é inflamado, de modo que a temperatura e a pressão no cilindro diminuirá. Menos oxigénio e temperaturas mais baixas resultam numa quebra significativa dos níveis de Nox.

   Uma vez que a pressão no cilindro é quem  empurra o pistão para baixo, o desempenho do motor pode ser influenciado pela diminuição de pressão do cilindro.”

Fumarentos e fumaraças

Quem fiscaliza os fumarentos?

Sabendo nós que todos os automóveis estão sujeitos a uma Inspeção Periódica Obrigatória e que um dos pontos verificados é o nível de CO2 emitido para atmosfera, questiona-se como podem ser aprovados pelos técnicos que efectuam tal inspecção, assim como se questiona o papel das entidades competentes de fiscalização rodoviária.

Uma vez que a presença dos “fumarentos” é algo que não circula na linha da segurança rodoviária que se exige e deseja, qual a razão das entidades competentes, leia-se BT-GNR e PSP, não fiscalizarem mais agressivamente estes condutores e não lhe reterem os documentos dos veículos até apresentarem uma inspecção especial.

Também aqui se deveria verificar se houve adulteração da inspeção ou do veículo, uma vez que para circularem terão de ter um documento válido e aprovado por um qualquer centro de inspeções reconhecido e credenciado.

Foto¦ AquapcAGCO e Autohoje