Maiores de 65 – condução, mobilidade e segurança

Ines Carmo

5 de Abril de 2018

Com a esperança média de vida a aumentar, o envelhecimento da população é uma consequência inevitável. Quer isto dizer que há cada vez mais condutores de idade mais avançada na estrada. Terá isto resultados nefastos para a segurança rodoviária?

A resposta é: sem dúvida que sim. A começar pelos números, que indicam que os maiores de 65 anos pertencem ao grupo com mais vítimas mortais devido a acidentes de viação. Isto deve-se à diminuição das capacidades ao volante, muito por força da idade e estado de saúde. Obviamente, falamos de estatísticas e probabilidades inerentes a um grupo etário, não de dados concretos sobre todo e qualquer condutor com mais de 65 anos.

Mais de 65 anos, triplica as possibilidades de acidente

De acordo com a Comissão Europeia, a taxa de mortalidade e de sinistralidade de condutores com mais de 75 anos está a multiplicar-se exponencialmente em relação à média estatística do resto da povoação, sobretudo, em relação aos grupos mais jovens. Uma pessoa com mais de 65 anos, em concreto, triplica a hipótese de morte num acidente de viação, por comparação a um jovem de 20 anos. Dentro deste sector, os homens duplicam a possibilidade de acidente em relação às mulheres, ainda que sejam elas a conduzir até mais tarde.

De 2010 a 2015, a sinistralidade cresceu, com um em cada quatro acidentados a ser maior de 65. Dados que nos fazem refletir, com a «população condutora» a envelhecer ano após ano.

idosos ao volanteA diminuição da natalidade leva a que o país fique mais envelhecido, condutores incluídos. E uma coisa é certa: uma pessoa idosa está mais suscetível a cometer infrações rodoviárias, não só pela falta de habilidade em situações mais complexas, senão também porque geralmente conduzem veículos mais antigos, mais complicados de manobrar. As zonas urbanas, residenciais e estradas secundárias concentram o maior número de acidentes onde há idosos implicados, principalmente por comportamentos em que a diminuição da capacidade sensorial ou motora de perceção e atenção é mais evidente.

Isto acontece mesmo que estes não adotem atitudes tão características de outros grupos etários, como é o caso do uso do telemóvel ou o consumo de álcool ao volante. Os idosos incorrem habitualmente em erros como não ceder prioridades, superar a velocidade máxima ou não respeitar a velocidade mínima estabelecida, esquecer-se de olhar para os espelhos retrovisores, manobras de marcha-atrás incertas, não ter em conta as distâncias de segurança ou não parar nos STOP.

É também provável encontrar dificuldades em recolher toda a informação do que se passa em seu redor e atuar em conformidade durante a condução. Deste modo, a perda progressiva da visão, o uso de medicamentos, os problemas de audição pioram a capacidade de adaptação, a falta de sensibilidade no escuro ou até dificuldade de localização de outros condutores ou veículos em marcha de emergência, lentidão de reação perante estímulos ou obstáculos e também conflitos na altura de tomar decisões rápidas relevantes na estrada.

Onde colocar o foco?

Não há um limite estabelecido para conduzir, mas os prazos para a renovação da carta de condução são cada vez mais apertados com o avançar da idade. A autonomia na mobilidade é, normalmente, um dos principais motivos para os idosos continuarem a conduzir. É algo que facilita a sua atividade social, mas de que devem imediatamente abdicar (da condução, não da vida social!) quando sentem dificuldades ao volante. As alternativas como o autocarro, o comboio e o táxi passam a ser cada vez mais viáveis.

Mas enquanto condutores, ou até como peões, há medidas que lhes podem facilitar a vida, se forem implementadas: melhorar a sinalização de trânsito dentro e fora das cidades, simplificar o interior dos veículos para permitir melhor acesso e ainda recomendar alguns conselhos para que estes possam gerir melhor os problemas consequentes da idade.

Tem mais de 65 anos, mas não está certo se se mantém apto para conduzir? Reflita nos seguintes tópicos:

– Não sou capaz de me manter na minha via e acho que incomodo os restantes condutores.

– Já tive alguns acidentes, pouco graves, mas frequentes.

– Tenho alguma dificuldade em reconhecer os percursos e costumo desorientar-me na estrada.

– Confundo o acelerador como travão e, por vezes, não reajo a tempo

– Na cidade, não distingo com facilidade objetos e pessoas e já aconteceu ter de travar bruscamente

– A minha condução é tão segura como há dez anos?

Fundação MAPFRE e os idosos

idosos ao volanteA Fundação MAPFRE consolidou-se como uma das instituições com maior consciência da necessidade de ajudar os mais velhos na condução. Para tal, publicaram uma página (em espanhol) dedicada a este sector onde se fornece toda a informação necessária para este grupo.

Por seu turno, na 3.ª idade é preciso estar consciente das limitações que podem surgir com o tempo, e na página é possível encontrar vídeos explicativos, com exercícios simples de visão, audição, reflexos, coordenação e memória e provas psicotécnicas que recomendam «check-ups» caso a pontuação seja baixa.

Entre outros conselhos, recordamos a necessidade de descansar a cada hora e meia de condução e a necessidade de se manter hidratado, evitar circular em hoários noturnos ou com muito trânsito, realizar as manobras com calma, evitar distrações e manter-se concentrado na estrada. É, claro, imprescindível ir ao médico para detetar possíveis problemas e prevenir riscos, assim como rever o estado de saúde do veículo, para que também não seja essa a causa do acidente.

Imagens | iStock AND-ONE fulgido72 Daviles

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