O número de campanhas, para veículos de passageiros que estiveram envolvidos em chamadas à oficina para reparações pelo construtor, comummente chamadas de recall’s, atingiram um novo recorde, foram 324 campanhas só em 2014, superando em 45% o recorde anterior de 224 campanhas atingido em 2004.
Pior do que o total de campanhas de recall, é que o número de carros envolvidos nesses recall’s está subindo, foram mais de 63 milhões de veículos de passageiros, que representam mais que o triplo do total para 2013 e um pouco mais que o dobro dos 30 milhões de veículos abrangidos em 2004. Um aspeto positivo, é que mais de dois terços dos recall’s lançados em 2014 foram-no pelos próprios fabricantes, e não exigidas, ou impostas, por entidades externas.
“Somos muito mais pró-ativos do que há alguns anos atrás”, diz o consultor de qualidade Marc Trahan, ex-chefe de qualidade da Volkswagen da América. “Você pode ocultar e encobrir um problema, ou pode admiti-lo e corrigi-lo. Nós aprendemos há muito tempo que é melhor reconhecer e corrigi-lo.”
A maioria dos veículos chamados às oficinas nos últimos anos tem sido os modelos mais antigos com problemas recentemente descobertos, e não automóveis novos. Um exemplo é o recall, de 2014, de 7 milhões de carros construídos entre 1997 e 2014 pela General Motors cujos interruptores de ignição poderiam estar defeituosos causando a perda repentina de energia e desligar os airbags nas colisões. O recall aconteceu quando a GM admitiu o problema, depois de não fazê-lo por vários anos. A maioria dos veículos são nos anos 2004 a 2010.
Porque acontece com mais carros?
O crescente uso de partes comuns através de plataformas comuns e transversais a diversas marcas dentro de determinados grupos e mesmo em alguns casos entre grupos de fabricantes, isso fez com que o número de veículos afetados pode ser substancial maior e mais abrangente, pois um componente defeituoso ou programa de software mal programado de repente pode ser um problema de 4 modelos, 3 marcas e 2 grupos distintos.
A deteção e resolução aumentou devido à fiscalização intensificada por parte de entidades regulamentadoras e testadoras de conformidade, assim como a pressão da comunicação social e uma maior capacidade dos consumidores de divulgar os problemas sentidos nos próprio carro é maior do que nunca, e torna-se mais fácil ver por que 2014 foi um ano para o livro de recordes.
Só a GM chamou para reparações e correções 26,8 milhões de veículos por uma variedade de razões em 78 campanhas diferentes. Isso não significa que os compradores de carro devem suspender os seus planos de compra. Especialistas de segurança, fabricantes de automóveis e reguladores garantem que, apesar do aumento do número e volume de recall’s é devido a uma mudança de mentalidade dos fabricantes, com a respetiva assunção da culpa e não há nenhuma indicação de que os carros são menos seguros do que no passado.
Pelo contrário, diz Russ Rader, porta-voz de uma organização sem fins lucrativos ligada ao ramo dos seguros, “isso não significa que os veículos estão ficando menos seguros, é exatamente o oposto, eles nunca foram mais seguro”, afirmando que esse fato é comprovável com a taxa de mortalidade de apenas 1 morte por 160 milhões de quilómetros de viagem percorridos, só nos Estados Unidos, conclui afirmando que “esse é o menor valor desde a existência de registros”.
Lição aprendida?
A grande questão é saber se as lições aprendidas pelos fabricantes no ano passado será algo que levará a uma mudança real de atitude ou se a indústria voltará a tapar o sol com peneira, colocando as reclamações na gaveta e não agindo de forma a solucionar os casos que vão surgindo nos modelos que comercializam.
“Nós tivemos problemas significativos no passado, como por exemplo os defeitos do tanque de gasolina do Ford Pinto, os problemas de capotamento dos Ford Explorer com pneus Firestone e as reivindicações de aceleração súbita da Toyota, mas depois de três ou quatro anos a mensagem se dissipou.” afirma um responsável da industria automóvel americana. “Infelizmente parece ser necessário ter outra crise para lembrar aos fabricantes que fazer recall’s é melhor do que esconder os problemas.“ Ainda assim, ele diz: “Estou esperançoso de que desta vez a mensagem realmente vai ser útil e empregada.”
Foto | Matt Lemmon