O enjoo é o pior inimigo dos bebés no carro

Ines Carmo

29 de Setembro de 2018

Carro e enjoo: fiéis aliados desde os tempos em que há memória. E talvez sejam as crianças quem mais sofre com estes episódios durante as viagens grandes que se fazem durante as férias. Os intermináveis tempos de espera sem entretenimento, sem se poderem movimentar e sem poderem olhar para longe, juntamente com as inércias e os movimentos em curva costumam provocar náuseas e sintomas de enjoo nos mais pequenos.

Antes aguentávamos mais?

A cinetose é um transtorno do equilíbrio causado pelo movimento. Assim é como é tecnicamente conhecido o enjoo, que não é mais do que um desequilíbrio que afeta a vista, músculos e os ouvidos, alterando os sentidos e enviando sinais confusos ao cérebro, onde tem origem. Num carro, o líquido que temos no ouvido interno move-se, enquanto as pernas se mantem quietas e a visão confunde as distâncias, conforme se esteja a olhar para o interior (imóvel) e para o exterior (em movimento). Uma combinação, sem dúvida, propícia a enjoos.

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As viagens de há uns anos é que podiam ser um verdadeiro suplício. A estradas nacionais eram as protagonistas das viagens de verão, os veículos não estavam tão preparados para oferecer conforto aos passageiros e os elementos de suspensão eram mais artesanais. Em qualquer caso parecia que o enjoo seria uma parte dos nossos trajetos habituais e já estávamos acostumados.

Hoje em dia parece que a tecnologia automóvel se orientou tanto para a segurança como para a comodidade do habitáculo, transformando as nossas viagens em percursos mais cómodos e estáveis. O ambiente no interior é mais agradável e menos ruidoso. Além disso, as infraestruturas rodoviárias melhoraram consideravelmente, pelo que circular pela autoestrada durante centenas de quilómetros, com curvas largas, é muito mais fácil do que há uns anos. O enjoo é, então, menos frequente? Em comparação, sem dúvida que sim, por isso, quando ficamos enjoados, sofremos mais.

Os miúdos: os principais afetados.

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Independentemente do tamanho do trajeto de carro, muitas crianças tendem a enjoar após poucos minutos de iniciar a viagem. Sentir a perda de equilíbrio, a vertigem e as alterações no estômago provocam vontade de vomitar. E os mais pequenos, sobretudo até aos doze anos, são mais suscetíveis do que os adultos, nestas situações. Os menores de dois anos, por seu turno, sofrem estes episódios de maneira menos frequente, pois o seu Sistema Nervoso Central é ainda muito imaturo.

Ainda que haja pessoas que continuam a sofrer de enjoos ao longo da sua vida, o mais habitual é que a sensibilidade ao enjoo se vá reduzindo durante a adolescência progressivamente. Em qualquer caso, fatores como o medo ou a ansiedade podem atura em conjunto com o movimento para proporcionar um episódio de cinetose. Uma criança propensa a enjoar pode começar a sofrer sintomas mais rápido do que outra, só pelo pânico de ficar tonto, uma sugestão que é tão relevante que pode transformar cada viagem de carro num desastre. Transmitir calma e tranquilidade aos mais novos é uma das batalhas que cabe aos adultos, para fazer face ao enjoo.

É possível evitá-lo

Claro que sim, podemos evitá-lo. Não existe nenhuma garantia de que funcione a 100%, mas há maneiras de prevenir e habituar pouco a pouco os mais pequenos às sensações do carro, para que, com o tempo, viagem com total comodidade.

Ventile o carro com frequência: o ar exterior não só nos dá uma sensação de frescura que nos acalma, mas também permite que o ar viciado do interior saia e se renove. Os ambientadores com odores muito fortes devem ser desligados, pois, em muitas ocasiões, são a principal causa do enjoo de uma criança. Com ar renovado, uma temperatura interior adequada e, se possível umas «cortinas» nas janelas traseiras que ajudem a reduzir o calor do sol, a viagem será muito mais agradável.

Evite fumar dentro do carro: se é o condutor, por uma questão de segurança, se é passageiro, por consideração com os outros ocupantes, mais ainda com as crianças.

Condução, a principal causa: conduzir com suavidade, evitando as guinadas, acelerações e travagens fortes ajudará a dar continuidade ao movimento, sem alterações bruscas, que facilitem a adaptação ao carro.

A noite é uma aliada: as crianças enjoam menos quando vão a dormir, pois não têm a mesma noção do movimento e deixam-se levar pela condução.

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Uma viagem com entretenimento é uma viagem sem enjoos: mantê-los distraídos durante o trajeto com alguma canção, adivinhas ou jogos que não impliquem leitura é uma maneira de os fazer esquecer as náuseas. Rebuçados ou guloseimas também é uma forma de aliviar a vontade de vomitar.

Uma comida ligeira antes de empreender a viagem: as refeições, completas, mas ligeiras. Uma baixa de açúcar pode produzir os mesmos sintomas que o enjoo. Por isso, é preciso evitar a digestão de comidas pesadas no carro, porque aumentam a probabilidade de enjoo e, claro, aumenta o risco de vómito. O mais recomendável, para que não levem o estômago vazio são os frutos secos e hidratos de carbono. As bolachas também são uma boa solução para que possam comer alguma coisa quando tiverem fome.

Paragens a cada duas horas: a criança precisa de correr, esticar as pernas, respirar e descansar da viagem. Parar numa estação de serviço durante um breve instante para repor forças e tomar contacto com o chão é importante.

Hidratação constante: ao sair em viagem é imprescindível tanto para crianças como para adultos. Viajar com sede influencia negativamente o conforto de todos, pelo que levar uma garrafa com água fresca é fundamental.

A criança também o pode controlar: é conveniente fomentar que os miúdos viajem de frente (quando já o podem fazer, ou seja, depende da idade que tenham) e que evitem os movimentos erráticos (olhar para baixo, mudar de posição, etc. Se mantiverem a cabeça quieta e se se distraírem com os olhos postos num ponto longe, exterior ao veículo, evitará estar obrigado a olhar para o interior do carro. Brincar com ele a olhar para as nuvens, ou a procurar algo na paisagem é uma alternativa aos videojogos, tablets ou leituras que provocam náuseas.

Uma viagem tranquila e sem enjoos é, em jeito de conclusão, uma viagem com ambiente fresco, sem uma digestão pesada, com entretenimento, boa hidratação, e na qual se realizem todas as paragens que sejam necessárias para descansar. Com tudo isto podemos contribuir para uma viagem sem enjoos inesperados. E os seus filhos vão agradecer.

 

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Fonte: CirculaSeguro.com