Quando pensamos em segurança rodoviária e formas de circular seguro, lembramo-nos em primeiro lugar do comportamento dos outros, lá mais para o meio da lista deverá estar o nosso comportamento, lembramo-nos das condições da via, das condicionantes atmosféricas, do estado do veículo e outros componentes da segurança que são diretamente relacionados com o critério de cada um para dizer se determinado veículo circula seguro.
Por vezes não nos lembramos das condicionantes para que determinados veículos existam, para que possuam um tipo de tecnologia de segurança em detrimento de outra, sabemos que o mercado automóvel, tal como qualquer outro mercado, procura oferecer o que os consumidores procuram, dentro dos parâmetros exigidos pelas entidades reguladoras, o que nos reserva o futuro da segurança e da mobilidade.
Um estudo efectuado pelo European Monitoring Centre on Change (EMCC) tenta analisar as consequências das escolhas coletivas, o que irão originar? Por exemplo, se a generalidade da população irá pretender veículos avançados tecnológicamente ou um veículo que só cumpre os critérios mínimos para circular e o que cada uma dessas escolhas determinará na evolução indústria automóvel?
A EMCC elaborou dois cenários próximos da realidade e algo denominado de wild card, que representa um cenário alternativo mais “rebuscado” para a mobilidade em 2035, distinguindo-se as duas primeiras pela abordagem que assumem, a primeira é um cenário de desenvolvimento da segurança e da sustentabilidade (safe and sustainable transport), o segundo cenário é baseado na insurreição dos consumidores (consumer revolt), a Universidade de Lisboa apresentou um trabalho baseado nesse estudo, denominado “O Sector Automóvel e as Novas Formas de Motorização” que passo a transcrever:
Segurança e de sustentabilidade
O cenário de segurança e de sustentabilidade (safe and sustainable transport): o desenvolvimento tecnológico e a política económica criaram um sistema de transporte seguro e sustentável. O veículo privado é o modo de transporte privilegiado mas está articulado com outros modos de transporte.
As inovações tecnológicas dos veículos traduzem-se em: veículos sem chaves, havendo outras formas de acesso desde forma electrónica à forma biométrica; o condutor é identificado pelo veículo, caso contrário não arranca e comunica com a polícia; se o condutor estiver embriagado o veículo não arranca; existem várias posições de condução pré-programadas; os sistemas GPS são comuns, incluindo as funcionalidades de orientação, adequação da condução às condições meteorológicas e ao estacionamento planeado; os sistemas de controlo de veículo aumentam a segurança e reduzem os acidentes; os materiais utilizados são cada vez mais leves e fortes simultaneamente; os combustíveis alternativos são dominantes.
O papel da política económica é relevante; o crescimento económico permite a troca de veículos automóveis com grande frequência, adoptando veículos tecnologicamente mais eficientes; o mercado é dominado por quatro grandes grupos de construtores com uma produção e fornecimento de componentes globalizadas e linhas de montagem locais; os principais actores têm origem na China, Índia e Brasil.
Insurreição dos consumidores
O cenário de insurreição dos consumidores (consumer revolt): os baixos preços do petróleo inviabilizam as opções por formas de motorização alternativas e as diferenças fiscais reflectidas nos preços do petróleo induzem o aumento do comércio ilegal de combustível, aumentando o número de acidentes.
Os veículos automóveis não são renovados, o mercado de veículos de segunda mão é muito activo, o que perpetua no mercado os veículos menos eficientes e a manutenção dos níveis elevados de poluição. O automóvel traduz a necessidade de liberdade individual. A segurança é menosprezada pela maioria dos condutores, privilegiando-se soluções avulsas nos veículos em circulação. Os acidentes rodoviários continuam a aumentar, bem como os níveis de emissão de CO2.
As empresas multinacionais produzem os automóveis localmente, sem incorporar equipamento ambientalmente eficiente. O mercado é dominado por quatro construtores de automóveis, sendo apenas um europeu; o declínio do mercado europeu é evidente; o conglomerado China – Índia serve o mercado asiático; o construtor americano produz a maior parte dos automóveis na América Latina e no Sudeste Asiático.
O cenário mais alternativo
A wild card estaria relacionada com o colapso de vários construtores de automóveis motivado pela introdução no mercado de formas de motorização alternativas associadas ao aumento do preço de petróleo e à redução da necessidade de fazer viagens rodoviárias, devido ao desenvolvimento de infra-estruturas e do transporte público.
A indústria automóvel continuará a apostar na melhoria dos sistemas de segurança, na redução dos efeitos nocivos para o ambiente; haverá uma utilização cada vez maior das tecnologias de informação e de comunicação tanto no fabrico dos veículos como na gestão do tráfego. A concorrência entre as principais OEM irá acentuar-se, tanto mais que as construtoras dos países emergentes estão a consolidar a sua quota de mercado, verificando-se uma deslocação dos centros de consumo e de produção para os países em desenvolvimento.
Os veículos automóveis irão manter-se como meio de transporte privilegiado para o futuro embora haja uma tendência para aumentar significativamente o congestionamento e as emissões de gases com efeitos de estufa. A tecnologia e design irão ser cada vez mais sofisticados e controlados.
Fonte: O Sector Automóvel e as Novas Formas de Motorização, da Universidade de Lisboa , elaborado com base em European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions
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