O motorista de automóveis pesados é amigo

Jorge Ortolá

5 de Agosto de 2013

Longe vai o tempo em que os noticiários em Portugal abriam com manchetes de acidentes rodoviários envolvendo automóveis pesados com matricula portuguesa. Longe vai o tempo em que nos restaurantes junto à estrada se viam os motoristas de automóveis pesados a consumir refeições pesadas e regadas com quantidade de bebida alcoólica elevada. Longe vai o tempo em que eramos confrontados com condutores de automóveis pesados que se julgavam os “donos da estrada“.

Formação

Era muito comum, quando às 20 horas da tarde se iniciavam os noticiários, ver-se que em Portugal ou por essas longas estradas da Europa ocorriam acidentes rodoviários com automóveis pesados de matricula portuguesa. Quem não recorda este tempo? Uma recordação sem saudade, claro! Concluía-se muitas vezes que os acidentes tinham como causa o cansaço, ou dos motoristas ou dos automóveis. Dos motoristas porque faziam tiradas ao volante de 15/ 20 horas seguidas, sem repouso, fazendo lembrar o regresso a Portugal dos emigrantes.

Esta falta de descanso levava a que os motoristas adormecessem ao volante ou baixassem de tal forma o seu estado de alerta  que a reação a um estimulo era tão tardia  que não permitia evitar o acidente. Com a aprovação do Dec-Lei nº 126/ 2009 de 27 de Maio, passou a haver a obrigatoriedade de se cumprirem períodos de repouso diários, semanais e mensais, entre períodos de circulação autorizada e com tempos determinados.

Ainda que muito contestada por motoristas e patrões, a verdade é que com a obrigatoriedade de se cumprir estes períodos de repouso, veio diminuir a taxa de sinistralidade envolvendo motoristas pesados, proporcionou  melhor qualidade de vida aos motoristas, pois com maior repouso, diminui o estado de stress e ansiedade que muitos ostentavam, tornando-os naquilo que hoje já são; utentes do meio de circulação rodoviária mais cordiais, altruístas, amigos e simpáticos.

pesado002

Alimentação

Se até meados dos anos 90 a imagem de marca dos motoristas de automóveis pesados de mercadorias era a de um homem balofo, de camisola interior de cavas, barba por desfazer, ar rude e que às refeições ingeria uma alimentação pesada e acompanhada por um jarro de 75 cl de vinho branco ou tinto, finalizado com um digestivo. Esta imagem e hábitos alimentares foram  sendo alterados e hoje temos uma imagem completamente diferente, destes profissionais do asfalto.

Hoje nas estradas portuguesas e europeias, temos pessoas mais apresentáveis, com cuidados alimentares que promovem uma escolha mais seletiva da ementa, acompanhada por bebida não alcoólica, na generalidade. Tais alterações ficaram a dever-se ao facto de se ter dado inicio ao desenvolvimento de ações de formação mais especificas, como saúde alimentar, higiene e segurança no trabalho, condução defensiva, mas também por culpa, boa culpa, do surgimento de senhoras motoristas que vieram mostrar aos homens que era possível fazer diferente.

Cordialidade

Muitos serão certamente os condutores que se recordam da postura rodoviária menos própria que os motoristas de automóveis pesados de mercadorias tinham. Circulavam excessivamente perto da traseira dos outros automobilistas, buzinavam com insistência e gesticulavam de forma menos elegante. Protestavam por tudo e por nada e andavam sempre irritados com quem os rodeava.

Hoje os tempos são outros, a formação académica e cívica também e os motoristas, em geral, ostentam uma cordialidade louvável e uma prestação rodoviária nobre, dando o verdadeiro valor e dignidade  à profissão de motorista de automóvel pesado. É caso para dizer, o motorista de automóveis pesados é amigo.

Faça boa viagem.

Fotos ¦ Iveco, PA