
As grandes cidades trazem desafios complicados à segurança rodoviária
O ano transato foi um ano atípico em termos de segurança rodoviária e mobilidade por razões que bem conhecemos. Por isso, no início de 2021, é imprescindível insistir numa estratégia de segurança rodoviária que nos permita reduzir em 50% o número de mortes e feridos graves nos próximos 10 anos. Esse objetivo faz com que as tendências de 2021 caminhem nesse sentido. Saiba mais.
A limitação da mobilidade provocada pelo Covid-19, em linhas gerais, levou a uma diminuição na incidência de acidentes. Em qualquer caso, trata-se de uma situação excecional, que até traz ressalvas. Pois a gravidade nos acidentes aumentou.
A cidade procura um novo patamar de proteção

As cidade apresentam desafios próprios para a segurança rodoviária
No final da década anterior, ficou claro que existe um novo campo de batalha, as cidades. E enquanto os acidentes nas estradas interurbanas avançavam, nas cidades preparavam-se para um panorama muito mais complexo.
Outro fator que tem uma evolução negativa são as reclamações envolvendo ciclistas, condutores e, principalmente, peões não é auspiciosa. Por exemplo, em Espanha, os peões correspondem a mais de 50% das mortes em acidentes urbanos. Eles são equivalentes a 11% das mortes na estrada. Além disso, é impressionante que aproximadamente 80% das mulheres que morreram num acidente de viação eram peões.
Além destes problemas já existentes deve-se acrescentar as transformações que estão a ocorrer na mobilidade urbana. Agora surgem novas tecnologias, novos modos de transporte, novas necessidades e a inevitável exigência de elevar os requisitos da sustentabilidade dos meios de transporte.
Quais os alvos das entidades reguladoras?
Não é por acaso que as reformas legislativas e regulatórias que estão a ocorrer, neste caso particular em Espanha, têm como foco as cidades e as consequentes evoluções na forma de mobilidade. O mais notado pelos automobilistas é a aproximação da data de implementação da diminuição dos limites de velocidade nas vias urbanas. Mais concretamente 20 km/h em estradas com uma só faixa de rodagem e plataforma de calçada.
O limite será de 30 km/h em estradas de faixa única por sentido de transito. E 50 km/h em estradas com duas ou mais faixas em cada sentido de tráfego. Estas medidas terão um grande impacto na circulação das cidades espanholas. E essas medidas entrarão em vigor já a partir de 11 de maio de 2021.
O diretor da Área de Prevenção e Segurança Viária da Fundación MAPFRE, Jesús Monclús, relembrou um dos principais motivos: “Impactos a mais de 30 km/h aumentam a probabilidade de ferimentos graves ou morte. A uma velocidade de 30 km/h, o risco de morte de um pedestre atropelado por um carro é de 10%.”
Mais exemplos de segurança rodoviária vindos de Espanha
No próximo mês de maio será a vez desta medida entrar em vigor em Espanha e os “nuestros hermanos” terão que atualizar a sua forma de conduzir. Esta é uma forma para tentar que todos colaborem na mitigação do fator de risco que representa o excesso de velocidade. A tendência em 2021 é clara também nas estradas interurbanas espanholas, uma vez que a concessão para ultrapassar o limite de velocidade na ultrapassagem é abolida e se prevê um novo aumento do número de radares.
Além disso, estão surgindo muitas outras reformas que não têm outro objetivo senão a redução do índice de acidentes. Assim, este novo ano trará para os espanhóis a perda de pontos em dobro do habitual, de 3 para 6, no caso de utilização de dispositivo móvel durante a condução. Nos casos da falha da utilização dos sistemas de retenção e proteção de um veículo é aumentada de 3 para 4 pontos. Por exemplo, o cinto e os sistemas de retenção para crianças.
Mais uma vez e mantendo o foco na cidade, as scooters elétricas receberam, a partir de 2 de janeiro de 2021, uma nova base legal, em Espanha, para facilitar a proteção e integração dos Veículos de Mobilidade Pessoal (VMP). Regula, entre outros aspetos, a sua consideração como veículo que deve circular na estrada e não nas calçadas. Além disso, a entidade reguladora espanhola tem avançado que espera regular nos próximos meses a idade legal para conduzi-los e a obrigatoriedade, ou não, do capacete (elemento que, em Espanha, é sempre recomendado, seja obrigatório ou não).
O futuro silencioso e eficaz dos sistemas ADAS
As reformas regulatórias afetam-nos diretamente. No entanto, existe uma revolução tecnológica que está já há algum tempo “cozinhando em lume brando” mas constante e que em 2021 já apresentará benefícios em várias áreas da segurança rodoviária.
Estamos a falar da implementação de sistemas avançados de assistência ao condutor, conhecidos como ADAS. A União Europeia estabeleceu um cronograma de implementação obrigatório que começa em 2022. Até então, todo veículo que sai de uma concessionária deve ter:
– Assistente de controlo de velocidade inteligente.
– Alcoolímetro com ligação ao imobilizador.
– Aviso de atenção e cansaço.
– Sistema de manutenção de faixa.
– Câmara de visão traseira e alerta de tráfego cruzado.
– Sinal de parada de emergência sem sair do veículo.
– Proteção lateral e traseira reforçada.
Esses sete sistemas ADAS serão os primeiros em um plano que terminará em 2026 com a introdução obrigatória de pelo menos oito outras tecnologias. Para explicar como funciona, a Fundación MAPFRE colocou à disposição de todos um novo site informativo.
Estima-se que estes sistemas evitarão até 25.000 mortes e mais de 140.000 feridos graves em toda a Europa nos próximos 15 anos. A segurança rodoviária em 2021 já irá beneficiar deste impulso tecnológico porque os fabricantes já começaram a introdução massiva de ADAS e organismos como o Euro NCAP já os estão a levar em consideração ao atribuir as suas cinco estrelas.
Mobilidade alternativa: uma mistura complexa
E se falamos de outra introdução massiva, é necessário referir-se a como os fabricantes estão mudando o “coração” de seus veículos. O carro elétrico está aqui e durante este ano a aceitação avassaladora destes modelos e dos híbridos plug-in continuará, em parte devido aos incentivos fiscais destes últimos. Mesmo que o consumidor continue obcecado com o segmento dos SUV’s.
Está se tornando cada vez mais lucrativo, tanto para o comprador como para as marcas, adquirir um modelo com essas características. A tendência dá todos os sinais que continuará a progredir nesse sentido. Além disso, as autoridades prometem um apoio sem precedentes, não só com ajuda à compra, mas também aumentando a rede pública de posto de recarga. No país vizinho esperam-se que sejam criados 50.000 novos postos nos próximos 3 anos.
O futuro da segurança rodoviária
Se pensarmos em comprar um modelo com certo grau de eletrificação em 2021, devemos estar atentos a como a entidades reguladoras podem alterar os benefícios existentes. Talvez estabelecendo novos critérios para a concessão dos maiores incentivos e isenções aos veículos com as novas tecnologias de motorização.
Mais uma vez, serão principalmente as cidades, que receberão e administrarão essas novas variantes de mobilidade. Uma transição que inclua não só a necessidade imperiosa de meios mais limpos, ou de integração e convivência entre antigos e novos meios de transporte, mas também mudanças na sua própria conceção.
Os jovens, entre os 18 e os 34 anos, lideram este novo impulso em que o automóvel próprio perde valor a favor de outros tipos de fórmulas como os VMP’s ou plataformas de veículos partilhados. Portanto, em 2021 os agentes envolvidos na segurança rodoviária não podem se dar ao luxo de ignorar o estudo dessas novas tendências. Uma integração eficaz significa que contribuem para reduzir, e não aumentar, o índice de acidentes.
Original | Jaime Ramos
Fotos | iStock/Marcos Assis, iStock/Worledit, iStock/hallojulie, iStock/frantic00, iStock/Tero Vesalainen, iStock/Bondariev, iStock/bruev