O sistema de suspensão, o elemento ignorado da segurança ativa

António Ferreira

29 de Setembro de 2013

O sistema de suspensão é um agente fundamental no que respeita à segurança ativa do automóvel. É formado por vários elementos flexíveis que estabelecem a ligação entre os pneus e os eixos com as partes do veículo que não estão em contacto com o solo. A função deste sistema é absorver as irregularidades do terreno, manter o contacto entre o veículo e o solo, garantindo o bem-estar dos ocupantes.

Um sistema de suspensão cuja manutenção não seja feita devidamente, pode levar a diversos cenários, como por exemplo fazer com que um automóvel saia da via, ainda que os pneus se encontrem em bom estado. Apesar de o bom funcionamento deste sistema ser essencial, 10% dos chumbos nas Inspeções Periódicas Obrigatórias dão-se devido ao mau estado da suspensão. Ao desconhecimento de grande parte dos condutores acerca do estado da suspensão do veículo, junta-se a indolência do Governo, no que respeita ao limite legal de desgaste deste sistema.

Assim sendo, o melhor é compreender como funciona a suspensão e como se deve encarar a sua manutenção.

Os principais componentes do sistema de suspensão são as molas e os amortecedores. Existem diversos tipos, mas o seu funcionamento é semelhante. Quando o pneu sofre um impacto devido a uma irregularidade do terreno, a mola comprime-se absorvendo essa irregularidade. De seguida expande-se novamente, assegurando o contacto do veículo com o piso.

Se a mola desempenhasse a sua função isoladamente, iria ressaltar até que se desvanecesse toda a energia acumulada, o que provocaria uma oscilação excessiva que, por sua vez, causaria um grande desconforto aos ocupantes do veículo. Para evitar essa oscilação, existe o amortecedor, que consiste num tubo telescópico, que se expande ou comprime de acordo com os movimentos da mola, segurando a sua distensão. Dentro do amortecedor existem pelo menos duas câmaras preenchidas por um fluido, óleo ou gás. Estas estabelecem contacto entre si através de pequenos orifícios. Com o movimento da mola, o fluido passa de uma câmara para outra lentamente, o que retarda a sua distensão até fazê-la desaparecer.

Normalmente, o desgaste do sistema não acontece apenas através da rutura das molas, que ocorre em algumas situações, mas também pelo envelhecimento progressivo dos amortecedores. Quando estes estão gastos, o fluido passa rapidamente de uma câmara para outra, a mola salta e ressalta e o veículo é como uma grande bola de ténis cujo contacto com a via é difícil de manter.

Como o desgaste é gradual, o condutor não o deteta imediatamente, habituando-se à nova forma de funcionamento do seu sistema de suspensão. É uma situação comparável à queda de uma cadeira – só quando estamos prestes a cair é que notamos como estávamos mal sentados.

O grau de desgaste do sistema de suspensão está relacionado com o uso que damos ao sistema. Ao contrário do que acontece com outros sistemas do veículo, no caso da suspensão não existe um manuseamento direto do condutor. A ação dos travões ou a mudança de direção, por exemplo, são diretamente acionadas pelo condutor e, embora o mesmo não aconteça com o sistema de suspensão, há estilos de condução que levam ao envelhecimento prematuro dos elementos que constituem o sistema. Passar por uma irregularidade do terreno a grande velocidade ou fazer de conta que estamos num rali, conduzindo numa estrada esburacada, equivale a esmagar as molas e os amortecedores, o que põe em risco a integridade do veículo e dos seus ocupantes.

A única manutenção possível ao sistema de suspensão é a revisão dos elementos que o constituem para que, na altura devida, se proceda à sua substituição. Naturalmente, com o avanço da tecnologia do universo automóvel, a técnica utilizada no passado para verificar o estado do sistema de suspensão (fazer pressão no capô e ver se este, ao descair, volta a erguer-se) caiu em desuso. Os sistemas de suspensão atuais são fabricados com um tipo de resistência impossível de verificar manualmente, motivo pelo qual devem ser inspecionados numa oficina a cada 20.000 quilómetros, já que a vida útil dos seus componentes ronda os 60.000 a 80.000 quilómetros.

Devemos considerar que algo não está bem com o sistema de suspensão quando se verifica algum dos seguintes sintomas:

  • desgaste irregular dos pneus,
  • perda de óleo nos amortecedores,
  • uma excessiva inclinação da frente do veículo ao travar,
  • uma vibração exagerada das luzes ao circular de noite.