A mente humana é muito complexa e frequentemente funciona como um reflexo de nosso estilo de vida ou de circunstâncias pessoais. Se isso não for favorável, nossa mente pode nos “pregar partidas”, e isso ao volante pode ser fatal. Conduzir e meditar pode ajudar a desconectar-nos do dia-a-dia e evitar distrações tão perigosas.
Também pode ser considerado um remédio para momentos de ansiedade, ou raiva, que sofremos com o trânsito. Como em qualquer atividade, estar atento ao conduzir significa, acima de tudo, ter maior controle sobre as próprias ações. Neste artigo, veremos os aspetos de uma condução mais atenta e consciente, bem como alguns truques para chegar a esse estado.
Os perigos da mente ao volante

As distrações ao volante podem ser provocadas pelos outros ocupantes, eme especial se ocorrerem discuções.
O estresse é um péssimo companheiro de viagem. É uma das principais causas dos chamados “microsonhos”, que não estão necessariamente relacionados ao cansaço físico ou implicam fechar os olhos. Longas horas de trabalho, tarefas mentalmente exigentes ou certas questões não resolvidas podem ser motivos para sofrer de “microssonhos”.
Pior ainda é levarmos o motivo do nosso estresse ou preocupação para o carro. De acordo com o estudo de “Condução Zen”, discutir enquanto conduz pode ter os mesmos efeitos que beber álcool. E, consequentemente, aumenta as hipóteses de sofrer um acidente: uma conversa intensa no telemóvel aumenta o risco em 41%, uma briga com outro condutor em 37% ou uma conversa tensa com seu companheiro em 26%.
Mas é que nem é necessário que as nossas emoções transbordem para que possamos nos “desconectar” do trânsito. Conduzir envolve uma série de tarefas e manobras repetitivas que com a prática acabamos transformando em hábitos que realizamos sem perceber. Isso implica uma desconexão mental com o tráfego, o que não acontece sem ter os seus perigos. Sem surpresa, e de acordo com um estudo da Audi denominado de “Attitudes”, 3 em cada 4 condutores admitem ter chegado ao seu destino sem se lembrar como lá chegaram.
Conduzir e meditar: filosofia Zen e “Mindfulness”

A nossa atitude é o primeiro passo para estar bem. Meditar ou relaxar, encontre o que lhe faz feliz.
Não estamos dizendo nada de novo quando falamos sobre a necessidade de prestar atenção ao trânsito. Se sabemos que 90% dos acidentes são causados por erro humano e desses 30% são por distrações, a atenção contínua ao volante é mais do que um bom hábito.
Precisamente o estudo “Condução Zen” que citamos acima é sobre isso: controlar nossas emoções para evitar ansiedade e estresse, e ser capaz de concentrar toda a atenção na estrada. Referir-se à filosofia Zen, uma técnica de meditação oriental, não é supérfluo. O monge budista Myoan Eisai, descreveu em seus livros um estado simultâneo de “calma e alerta”, que lhe permitia estar em harmonia consigo mesmo e estar plenamente consciente da sua envolvência.
O lado ocidental da filosofia Zen é o “Mindfulness”, ou atenção plena, uma técnica de relaxamento que visa reduzir o estresse. Não é de surpreender que seu inventor, o cientista americano Jon Kabat-Zin, seja um grande seguidor dos métodos zen. A eficácia do Mindfulness foi comprovada em vários estudos, e a possibilidade de transferi-lo para o nosso veículo tem levado muitos fabricantes a colocarem novos desafios ao nível do conforto e ergonomia dos seus veículos.
Como meditar e relaxar enquanto conduz
Independentemente de apostarmos em conduzir e meditar, na filosofia Zen ou na Atenção Plena, existem algumas orientações que ajudarão a melhorar nosso comportamento ao volante. Podemos meditar, sem ter que entrar em nenhum transe, já que qualquer uma dessas medidas é igualmente recomendada para uma condução mais segura.
Para atingir nosso estado de condução consciente, é essencial sentir-se confortável ao volante. E a roupa que usamos é muito importante para isso, embora não tenhamos que nos vestir como um monge.
Se estamos no verão, basta irmos á vontade (não à vontadinha), sim sem tirar a camisa e talvez evitando as sandálias. No inverno, agasalhado sim, mas com moderação. A premissa é sempre a mesma: roupas à vontade, que não impeçam os movimentos e sapatos confortáveis e justos.
Tenha o carro bem limpo
Se o nosso carro vai ser nosso templo, tem que se parecer com um. Ou seja, o respeito por nós mesmos começa com o respeito pelas nossas propriedades, especialmente se vamos passar muito tempo nelas. E não só, será também o nosso oásis, ou seja, um lugar onde queremos estar e nos sentir confortáveis acima de tudo.
Já falamos no Circula Seguro sobre a importância da limpeza do nosso veículo. Não é apenas que todos os elementos estão funcionando bem, como os travões ou os faróis. Trata-se também de evitar qualquer tipo de distração ou aborrecimento, como manchas no para-brisa ou um espelho retrovisor muito sujo. Em geral, a ordem e a limpeza dentro do veículo nos ajudarão a conduzir e meditar durante as viagens.
Tenha uma postura confortável
Sentir-se bem no assento também é importante para que estejamos confortáveis em nosso templo. Mas também não devemos estar curvados, como se estivéssemos na sala de nossa casa. Uma postura correta evitará o aparecimento de desconforto, ou dor, no nosso corpo, ou pelo menos retardará seu aparecimento. E também nos ajudará a reduzir o risco de sonolência pelo excesso de conforto.
Além disso, uma postura correta nos permitirá segurar o volante com folga e firmeza e ter todos os controles à mão, o que nos dará ainda mais segurança. Neste artigo já vimos como nos devemos sentar para desfrutar duma boa ergonomia ao volante.
O interior arrumado ajuda a meditar
Uma ótima ideia para atingir nosso estado de direção consciente é interpretá-lo como um pequeno ritual. E todos os rituais envolvem seguir um procedimento que no caso da condução já conhecemos muito bem: regular o banco, colocar o cinto de segurança, verificar e ajustar os retrovisores …
E se a viagem vai ser longa, devemos também providenciar tudo o que precisamos no caminho: verificar se o depósito do limpador de para-brisa tem água, programar o GPS antecipadamente, providenciar alguma água e snacks … Faça todos esses passos antecipadamente e com calma. Vai notar como assim entrará no ambiente certo para a jornada.
Desligue o telemóvel (ou pelo menos silencie-o)
Porém, se quisermos evitar distrações, já sabemos que a causa primeira é o smartphone. O Circula Seguro sempre recomenda desligá-lo, ou silenciá-lo, e não fazer nenhuma atividade com ele durante a viagem. Não foi à toa que foram endurecidas as coimas e a fiscalização, pois continuamos a insistir em continuar a usá-lo incorretamente.
De qualquer forma, se continuarmos a insistir em não andar sem telemóvel durante a viagem, pelo menos o façamos com segurança. Conectar o carregador, conectar o sistema de alta voz ou assistente virtual e ativar o gravador de chamadas para fazer anotações podem ser algumas etapas a serem incorporadas ao nosso ritual.
Ajuste uma temperatura confortável
Desfrutar de um ambiente adequado no automóvel significa também ter uma temperatura confortável no habitáculo, mas sem excessos. Já sabemos que o excesso de calor pode nos causar sonolência, perda de faculdades e até insolação. Tampouco é bom “estar com frio”, pois nossas mãos podem ficar dormentes e, no mínimo, isso nos deixará desconfortáveis.
Se estiver calor, sempre recomendamos ir com as janelas abertas antes de usar o ar condicionado e, no processo, relaxar com o som do vento. Mas se estamos atravessando a cidade ou estamos em um engarrafamento, manter as janelas levantadas nos ajudará a abafar o barulho do trânsito.
Deixe suas preocupações fora do carro
Para que o carro seja o nosso refúgio e possamos chegar ao nosso estado de tranquilidade, devemos deixar de lado os assuntos que nos possam interessar. Dedicar alguns minutos antes de ligar o motor, especialmente se estivermos no escuro na garagem, pode ser um bom exercício para relaxar o ânimo.
Devemos tentar resolver todas as nossas tarefas, ou pelo menos saber adiá-las para o dia seguinte. Se tivermos que chegar ao nosso destino num determinado horário, é melhor partirmos com a antecedência necessária para evitar andar num corre-corre. E se estivermos acompanhados, procuremos evitar conversas que possam nos causar estresse ou raiva.
Concentre-se na respiração
As técnicas da filosofia Zen e do Mindfulness começam com a nossa própria respiração. Ouvir-nos respirar e sentir como o ar entra e sai do nosso corpo ajudará a nos colocarmos em uma situação com mais facilidade. O nosso objetivo é transferir essa concentração para a nossa condução, tomando consciência dos nossos gestos e manobras, e estar atentos aos sons que nos rodeiam (o motor do carro, o som dos indicadores de direção, dos outros veículos …). Para isso, o melhor é conduzir em silêncio, ou pelo menos com música calma.
Esses são apenas alguns exemplos que, além de nos ajudarem a conduzir e meditar ao mesmo tempo, são sempre recomendados para melhorar nossa segurança ao volante. Mas o mundo da condução, da atenção plena ou Zen é muito amplo, e existem muitas outras técnicas para atingir esse estado. A Fundação MAPFRE também recomenda alguns mais, que também nos ajudam a melhorar o ânimo e controlar as nossas emoções. Porque a segurança em nosso carro começa em nós mesmos.
Original | Jose Ramon Martinez Rondon
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