Os riscos do peão tecnológico: são ainda maiores com os veículos elétricos

Redacción Circula Seguro

27 de Fevereiro de 2023

Está a andar na rua, recebe uma mensagem no telemóvel e participa numa conversa através de mensagens de texto. Uma depois de outra, caminhamos, mal percebemos o que acontece à nossa volta. Ao chegar à passagem de peões. Pelo canto do olho não vê nenhum carro e decide atravessar. Um carro elétrico trava bruscamente e evita o atropelamento. Embora os peões tenham preferência de passagem nos cruzamentos que não são regulados por semáforos, sempre devemos de assegurar que os veículos tenham parado completamente. Este é um exemplo de uma situação que, infelizmente, nem sempre acaba como gostaríamos. A tecnologia é uma grande aliada, mas é preciso saber como e quando utilizá-la. As distrações afetam não apenas os condutores, mas também os peões.

Não devemos esquecer que as distrações são um fator concorrente nos acidentes de trânsito. No caso dos peões, a utilização do telemóvel, quer para mensagens de texto, telefonemas, visualização de vídeos, etc. Há muitas razões pelas quais um peão pode concentrar toda a sua atenção no telemóvel sem perceber o que acontece à sua volta. A utilização de auscultadores e de mãos livres são também formas de distração. É claro que o risco aumenta quando perdemos, em grande parte, um dos nossos sentidos principais, a visão, e deixamos tudo no sentido da audição. Somos guiados apenas pelo que ouvimos enquanto avançamos. Isto é muito perigoso nos dias de hoje, especialmente tendo em conta a maior presença de veículos híbridos e elétricos. Estes veículos, para além de inúmeras vantagens, têm uma caraterística comum que pode ser particularmente perigosa para os peões: emitem quase nenhum ruído durante a condução. Portanto, o risco é ainda maior quando, como peões, temos o binómio: distração e veículo elétrico.

Não podemos esquecer que, como peões, somos utentes vulneráveis. Só em 2021 perderam a vida 51 peões, 326 ficaram gravemente feridos e 3.359 ligeiramente feridos, de acordo com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). Também destacar que durante esse ano foram registados nada menos que 3.732 atropelamentos, 5,8% mais que no ano anterior, com 47 acidentes mortais e 321 feridos graves.

Um “ruído” para os carros elétricos

O facto de um carro elétrico quase não emitir ruído durante a condução é um aspeto altamente valorizado do ponto de vista ergonómico e de conforto pelos passageiros. Contudo, como já indicado, pode tornar-se um factor de risco para os utentes vulneráveis como peões, ciclistas, trotinetas, etc… De acordo com a NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration, os carros elétricos têm até 35% mais probabilidade de causar atropelamentos do que um carro com motor convencional.

Conscientes deste problema, a União Europeia (UE) aprovou em 2019 que, a partir de 1 de julho de 2021, todos os veículos elétricos, híbridos e híbridos plug-in a serem homologados na Europa devem ser equiapdos com um dispositivo de alerta acústico. O objetivo é reduzir o risco de atropelamento de peões, emitindo um som semelhante ao emitido pelos motores de combustão.

É um sistema de alerta acústico AVAS (Acoustic Vehicle Alerting System). Este sistema deve emitir um ruído entre 56 e 75 decibéis e deve ser ativado automaticamente no arranque até o veículo atingir uma velocidade de 20 km/h, bem como quando o veículo estiver em marcha-atrás. Este som de marcha-atrás não é necessário caso o veículo tenha o seu próprio alerta acústico para esta manobra. Considera-se que a partir de 20 km/h o som do movimento é suficiente para alertar os outros utentes.

O som gerado pelo SAAV é um som contínuo que, para além, indica facilmente o comportamento do veículo através da variação automática do nível sonoro ou das caraterísticas em sintonia com a velocidade do veículo. O som procede de um pequeno altifalante atrás da grelha frontal.

É de notar que este sistema não só é útil para utentes distraídos, como também é muito importante para cegos, para quem a única forma de perceber a proximidade destes veículos é através do sentido da audição.

Olhar para frente

Embora os regulamentos tenham sido adaptados ao ruído zero ou baixo dos veículos elétricos, não devemos acomodar-nos:

  • Evite todas as distrações possíveis, quer seja condutor ou peão.
  • Ao aproximar-se de uma passagem de peões, pare, tire os olhos do telemóvel, olhe para ambos os lados e não atravesse até o semáforo em verde e, se não houver semáforo, atravesse quando os veículos tiveram parado completamente (em ambos os sentidos no caso de uma estrada de dois sentidos).
  • Se tiver que utilizar o telemóvel, não o faça antes de ter chegado ao outro lado. Tire os olhos do telemóvel desde o primeiro momento em que atravessa a linha até ter terminado.

Lembre-se que recebemos mais de 80% da informação produzida no nosso ambiente através da visão. Nunca nos arrependeremos de ter sido muito prudentes.