Paciência e civismo com os veículos pesados

Ines Carmo

25 de Junho de 2017

Na estrada existe um grupo de veículos que, pelas suas características, se denominam pesados. São camiões rígidos, autocarros e veículos articulados. As suas especificidades, no que toca a peso, altura e comprimento tornam-os mais vulneráveis e complicados de conduzir. Têm um centro de gravidade mais alto e maior facilidade de capotamento, mas sobretudo, estão expostos no dia a dia ao resto dos condutores.


Não há nenhuma parecença entre conduzir um carro ou um camião com 35 toneladas do que quer que seja. As reações são mais lentas e é preciso mais espaço para travar, muito tempo para ganhar velocidade e muita área para circular. A nossa forma de circular corretamente pode estar estritamente dentro das normas e ao mesmo tempo pode ser perigosa e incómoda para os profissionais do asfalto. Independentemente dos motivos de cada um e mesmo que os motoristas nos tratem mal, devemos sempre seguir determinadas regras para não lhes provocar acidentes nem os obrigar a manobras arriscadas. E assim também se evitam sustos.

Início e reinício da marcha

Sair de um STOP, para nós é relativamente fácil. Esperamos que não venha ninguém e mesmo que venha, pode estar suficientemente longe para que possamos atravessar o cruzamento em segurança, entrando na via. Para um veículo profissional, referindo-nos aos articulados, é uma grande dificuldade conseguir fazer esta simples manobra. Pelas suas caraterísticas não tem tanta visibilidade como nós temos no carro e não será fácil ver que veículos se aproximam pelas laterais. A isto soma-se o facto de, indo carregado ou não, ter uma velocidade de arranque muito baixa, pelo que têm de esperar muito mais até que estejam seguros de que podem fazer-se à estrada sem causar problemas a ninguém. Como condutores, temos que ter ainda em conta que desde o lugar onde está parado até à estrada em que vai entrar, o motorista terá que engrenar uma ou duas mudanças e que nos tapará consideravelmente a visibilidade.

Neste caso não podemos ajudá-lo de nenhuma forma, excepto evitando gestos de desespero ou buzinadelas. Não vão ajudar a que ande mais depressa, talvez até tenha o efeito contrário. Partindo da base de que estão a trabalhar e que é um dos trabalhos mais duros e sacrificados que existe, qualquer ajuda que demos será recompensado e servirá de bónus para para evitar que acumulem mau humor e isso gere situações de risco.

Portanto, se circular numa via onde há um veículo pesado a tentar entrar e por detrás de si não vierem outros condutores que possam ser incomodados, tente, na medida do possível, dar-lhe passagem. Reduza a velocidade e faça-lhe sinal para que ele saiba que pode entrar, ele ficará agradecido e os carros que estão atrás dele também.

Uma coisa que temos de ter sempre presente é que, em cruzamentos, os camiões podem – indevidamente –  ignorar sem aviso prévio um sinal de STOP ou uma cedência de passagem. Parar um reboque que pesa quarenta mil quilos e logo de seguida retomar a marcha leva tempo e exige esforço, pelo que há muitos camionistas que optam por não o fazer. Esteja atento.

Ultrapassagens e entradas à estrada

Em primeiro lugar, é preciso recordar que ainda que o pesado vá na via central a congestionar a circulação, nunca podemos ultrapassar pela direita, pois se ja é arriscado fazê-lo a automóveis, muito mais se se tratar de um articulado. Os espelhos deles não lhes permitirão ver-nos e podemos acabar muito mal o dia… ou nem sequer acabar.

Na hora de ultrapassar um pesado, temos que ter em conta, em primeiro lugar, a sua largura. Isto aplica-se especialmente em vias de dois sentidos de circulação, onde tenhamos que utilizar o outro sentido para efectuar a manobra. Importa ver se leva a placa de veículo longo, o que significa que mede mais de 12 metros. Também é importante, pela nossa segurança, ter noção das condições do vento que pode provocar uma «atração» do nosso carro na direção das rodas do camião.

Uma vez realizada a ultrapassagem temos de respeitar as possibilidades de reação e travagem do pesado. Para um carro, ultrapassar não é mais do que pisar outro pedal, sem qualquer esforço ou perigo de maior. Para um articulado, travar supõe exercer muito mais força sobre o pedal, calcular melhor a travagem para evitar derrapagens e, provavelmente actuar em mais frentes (travar com o motor, por exemplo).

Portanto, devemos ser nós a procurar a distância de segurança, mais por solidariedade do que por obrigação. Se o motorista vir que não regressamos à via enquanto não estivermos bem à frente dele, vai ficar mais tranquilo e fará a sua condução mais relaxada.

A mesma coisa nas entradas das autoestradas ou estradas que disponham de carril de aceleração. Por vezes, ainda que nos dê tempo de sobra, devemos mostrar com antecipação suficiente que vamos dar-lhe passage e assim evitar chatices desnecessárias. Civismo, no fim de contas.

Cruzamentos e rotundas

motorista de automóveis pesados

Convém prestarmos atenção à forma como os veículos longos circulam nas rotundas. O normal e correto é que as façam pelo exterior, já que o interior tem um diâmetro de viragem insuficiente e falta-lhes visibilidade. Provavelmente, o tractor ocupará uma parte distinta da faixa do eixo traseiro, o qual poderá até ocupar parte da faixa interior. Além disso, muito cuidado com os autocarros ou camiões rígidos, onde o veículo continua para trás do eixo traseiro, pois as curvas bruscas podem causar colisões nos outros automóveis.

No caso dos cruzamentos, não se esqueça de contar com a probabilidade de que precisem de alargar a trajectória. Isso significa que indicarão a manobra ao lado direito e traçarão a curva pelo lado esquerdo. Uma vez sem espelho interior, quando iniciam a mudança de direção, terão quase sempre um ângulo cego. Uma tentativa de ultrapassagem nestes casos pode bem acabar com o seu carro debaixo do chassi de um camião.

Também é possível que os camiões tenham de realizar mais do que uma manobra e algumas com a dificuldade acrescida de circular em marcha atrás. Mantenha a paciência e não atrapalhe nem coloque pressão. Ficar imóvel na faixa de rodagem é a melhor maneira de permitir que a manobra seja feita com celeridade. Tal como no caso do STOP, o motorista ficar-lhe-á muito agradecido.

Se o cruzamento não lhe permite boa visibilidade, pode acontecer que este tenha de pisar as marcas na estrada ou adotar posições indefinidas para conseguir ver por onde está a passar. Mantenha uma distância de segurança, para evitar sustos, e, se puder ajudar o motorista com indicações, não hesite em fazê-lo.

Mudanças de direção e de faixa

Se notar que a faixa onde circula um pesado vai terminar, demonstre claramente o que vai fazer: reduzir a velocidade e deixá-lo passar ou mudar de faixa para que ele possa entrar. Não se esqueça também que se estiver lado a lado com o camião, da metade deste para a frente, há a forte possibilidade de estar no ângulo morto dele.

Por fim, lembre-se de que não está sozinho na estrada e que se fosse um motorista profissional também gostaria que tivessem a mesma compreensão pelo seu trabalho, ainda que existam, como em todas as profissões, pessoas mal educadas. Colabore com civismo e verá que, pouco a pouco, até a sua forma de circular na estrada será mais segura.

Fotos: Circulaseguro.com