Porque continuamos a esquecer-nos de colocar o cinto de segurança

Miguel Alves

21 de Abril de 2021

A relação entre um acidente de viação de que resultem mortos e a falta de uso do cinto de segurança é conhecida há décadas. Estatísticas em Espanha mostram que 26% das pessoas que morreram em acidentes em 2020 não o usavam.

Em Portugal, de acordo com os dados de 2020 compilados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, em 2020 (e face a 2019), o número de coimas por falta de cinto de segurança caiu 24,4%, muito devido aos efeitos da pandemia e da menor circulação rodoviária.

No entanto, continuam a ser excessivas as infrações por falta de uso de cinto de segurança, entre nós: 23.180 infrações (em 2019) e 17.518 (em 2019).

O cinto reduziu a taxa de acidentes desde que começou a ser usado de modo obrigatório.

A Organização Mundial da Saúde cita-o como uma das melhores ferramentas para reduzir o número de fatalidades, bem como a gravidade das lesões. Mas sendo assim, por que ainda existem automobilistas que não o usam?

Em Espanha, a propósito de uma campanha de controlo dos cintos de segurança e sistemas de retenção para crianças, foram emitidos vários comunicados cujas conclusões vale a pena destacar.

Embora a utilidade do cinto tenha sido comprovada, ainda há quem pense que tem um impacto negativo.

A primeira é que já este ano o número de pessoas que não usaram o cinto de segurança ou que não o usaram corretamente aumentou 7% em relação a 2020. Nessa estatística estão todos os motivos imagináveis: do descuido involuntário à recusa intencional para usá-lo.

A segunda é que o número de menores que viajavam sem sistema de retenção para crianças também aumentou. Em 2021, foram contabilizados 192 menores desprotegidos, quando em 2019 esse número foi de 132, o que representa um aumento de 45%. Isso é ainda mais preocupante, dado que os menores são pessoas mais vulneráveis.

Onde e quem usa menos o cinto?

Segundo dados das autoridades espanholas, 77% dos ocupantes que não usaram cinto de segurança foram detetados em vias convencionais, não em ruas ou em ambientes urbanos.

No que se refere ao tipo de veículo em que esta infração se verificou mais, os veículos ligeiros estão no topo. Dos 327.414 veículos controlados, 81% eram automóveis de passageiros, 14,5% eram veículos de mercadorias e o restante, autocarros e táxis, tinham 77%, 22% e menos de 1%, respetivamente.

Que significa isto?

Que os condutores de veículos de mercadorias são os que mais usam o cinto de segurança, e os motoristas de autocarros e táxis os mais responsáveis.

São dados que podem ajudar a criar novas campanhas de consciencialização.

Razões pelas quais as pessoas não usam cintos de segurança

Entre os “motivos” para não usar o cinto, os especialistas da DGT (Direção Geral de Tráfego) encontraram vários motivos.

Há condutores que superestimam as suas capacidades de condução e acham que não têm acidentes, pelo que entendem que não vale a pena ter o cinto; há condutores que julgam que não vão ser multados; há ainda quem sobrestima a capacidade de segurança de novos veículos (ignorando, paradoxalmente que o cinto é justamente um dos elementos que proporciona mais segurança, apesar de toda a evolução tecnológica).

O facto é que as consequências de não ter o cinto posto são trágicas.

Daí a importância vital em sensibilizar os diferentes condutores e utilizadores dos veículos para o impreterível que é a utilização dos sistemas de segurança disponíveis. Por isso também investir em comunicação rodoviária é fundamental para evitar que a segurança rodoviária volte aos dados de décadas anteriores.

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