Porque é que o álcool e a condução são incompatíveis?

António Ferreira

2 de Agosto de 2013

Porque é que o álcool e a condução, ou conduzir e beber, são duas atividades incompatíveis? Para começar, não será de mais recordar que o álcool é uma substância que, uma vez ingerida, atravessa as paredes do estômago e intestino e se distribui por todo o corpo, através do sangue, até o fígado o metabolizar e desaparecerem os seus efeitos sobre o organismo.

Uma vez dito isso, talvez o melhor seja explicar, passo a passo, o qual é o caminho do álcool através do organismo para, depois, estabelecer o qué faz incompatíveis o álcool e a condução.

 

Absorção do álcool

20% do álcool ingerido passa, em poucos instantes, do estômago para o sangue. Os restantes 80% chegam ao sangue através do intestino. Durante os primeiros minutos, a absorção é mais rápida, de forma que o álcool chega à sua máxima concentração no sangue entre 30 e 90 minutos depois da ingestão. Há que ter em conta que, com o estômago vazio, a absorção é muito rápida. Por outro lado, quando se mistura com bebidas gaseificadas, o álcool atravessa mais facilmente a barreira hematoencefálica e o seu efeito tóxico é mais rápido e marcado.

Distribuição do álcool

O álcool circula por todo o organismo através do sangue. Como anda por toda a parte, o mesmo afeta o cérebro e o sistema nervoso. Num primeiro momento causa euforia e desinibição. Quando bebe, o condutor menospreza o risco e a sensação que tem da velocidade diminui. Diminui também a sua capacidade de concentração e o condutor calcula mal as distâncias. Por outro lado, aumenta a letargia no condutor, de modo que os seus movimentos ficam menos precisos. Tudo se associa: a euforia etílica somada à falta de reflexos torna o condutor ébrio numa bomba-relógio.

Metabolização do álcool

O corpo humano não necessita de álcool nem pode armazená-lo. Por isso, deve metabolizá-lo, ou seja, transformá-lo em produtos residuais. Através da urina, suor e respiração é possível eliminar entre 2% e 10% do álcool. O resto é tarefa do fígado, que metaboliza essa substância a um ritmo a 0,12 g/l de álcool no sangue a cada hora. Daí que se diga que para ultrapassar uma taxa de alcoolemia de 0,5 g/l é necessário esperar aproximadamente quatro horas (0,12 x 4 = 0,48).

O álcool e a condução

Este é o caminho do álcool. Por isso, quando um condutor bêbado acredita que controla a situação não significa que esteja a mentir, simplesmente acredita que é assim porque o álcool lhe dá uma perceção distorcida da realidade. Por isso, quando um condutor ébrio faz coisas estranhas para eliminar os efeitos da bebida perde o seu tempo: o álcool circulará pelo seu organismo até que o fígado acabe com ele. Daí que a melhor forma de evitar os seus problemas seja deixar de lado a bebida quando tiver de assumir o volante.

Depois, há o meio-termo, como quando um condutor afirma que sabe até que ponto pode beber para não ter problemas. A questão está em que o álcool não produz efeitos de forma imediata e, por essa razão, torna-se praticamente impossível calcular quando é preciso deixar o copo na mesa. Por outro lado, a euforia própria da pessoa que bebeu faz com que lhe seja difícil interromper a ingestão de álcool.

A conclusão de tudo isto está numa frase curta mas intensa: se beberes não conduzas. O melhor é apanhar o transporte público sempre que possível ou então combinar com os amigos para que, em cada ocasião e de forma rotativa, seja um deles a deixar a garrafa quieta e a assumir o transporte do resto do grupo, levando cada um tranquilamente até à sua casa depois da festa.

Sempre será melhor isso do que esperar que chegue a ambulância, certo?