Esta é a parte 4 e última parte desta série de artigos que explicam ao pormenor o porquê dos limites de velocidade. Sei que já deve estar farto deste tema mas a verdade é que todos nos sabemos que os limites de velocidade em alguns locais são completamente desproporcionais à realidade mas é necessário saber o porquê através de dados factuais e não baseado em simples opiniões.
Nesta parte quatro começamos por elucidar que o problema não é apenas a velocidade.
Outro reflexo da formação dos condutores é que 30% dos acidentes fatais nos países desenvolvidos têm relação com a velocidade inadequada, em relação a Portugal especificamente não consegui encontrar dados fidedignos.
Certo. Considerando que cerca de 1000 pessoas morrem por ano no trânsito português, se hipoteticamente nenhum acidente tivesse a velocidade inadequada como fator de risco, ainda teríamos 300 mortes por ano.
Assim, não é preciso base estatística, técnica ou acadêmica para concluir que há outros fatores de risco tão letais quanto acelerar demais no lugar errado. Ainda assim a velocidade inadequada ocupa 70% dos acidentes.
Veja este vídeo de uma campanha de sensibilização para a condução sob o efeito de acool
Sim, a embriaguez pode levar o motorista a acelerar a uma velocidade inadequada e se envolver num acidente, mas nesse caso, teria sido a velocidade ou a incapacidade do motorista de dominar o carro resultante do consumo de álcool? Ele não poderia por exemplo passar um semáforo vermelho ou cortar uma curva?
Outro fator que agrava as estatísticas da mortalidade é um assunto polémico: a segurança dos carros. Claro que quando falamos de carros novos ou desde 2005 sensivelmente a segurança é do melhor que há no mundo, nesse aspeto graças às regras rígidas que a União Europeia impõe às marcas temos na Europa dos carros mais seguros do mundo. Aliaz o mesmo modelo tem graus de segurança diferentes se for vendido nos estados unidos por exemplo onde um Ford Fiesta é muito mais “frágil”, segundo um artigo da Associated Press.
Mas se olharmos para os estudos da mortalidade nas estradas europeias, essa lista é liderada pela Grécia seguida por Portugal no que toca à europa ocidental, o que me leva a concluir que o clima económico faz com que carros mais antigos ainda circulem com frequência, por isso não interessa se vendemos carros superseguros se na realidade os carros que circulam são do século passado com a mesma segurança que tem uma pirâmide de cartas.
Será que é esta a diferença em relação aos países que estão mais bem classificados na tabela de mortalidade como Inglaterra, Alemanha, Suécia, etc., na minha insignificante opinião, sim é precisamente este o problema.
O resultado
Com fiscalização deficiente, falta de educação e preparação adequada, e leis ultrapassadas passíveis de (des)interpretações, sobram brechas para livrar a cara dos verdadeiros criminosos motorizados, enquanto o cidadão que está a viajar em segurança com a família é punido por um “excesso” declarado pela arbitrariedade e flagrado por uma máquina burra.
Como vimos, culpar a velocidade pela falta de segurança no trânsito tem ajudado mais os cofres públicos do que as vidas públicas. Obviamente é preciso fiscalizar os abusos, mas acima de tudo, é preciso levar o trânsito como um todo mais a sério — e isso vale tanto para as autoridades quanto para os cidadãos. Em vez de copiar apenas a “tendência” de redução de velocidade dos “países modelo”, por que não nos concentramos também em assegurar que os cidadãos têm melhores carros, essencialmente mais seguros (basta para isso baixar os gigantescos impostos e com dupla-tributação que é ilegal), a qualidade da formação de condutores e modelos mais eficazes de convívio pacífico entre diferentes tipos de transporte?
Este é um bom exemplo de que todos tem os mesmos direitos na via pública.