Regras básicas para atravessar um túnel

Duarte Paulo

28 de Junho de 2017

Uma estrada que passa por um túnel é um trajeto onde devem ser tomados cuidados especiais. Os acidentes que aqui ocorrem podem ser muito mais graves que em qualquer outro tipo de estrada. Neste tipo de acidentes a culpa pode ser repartida entre a falta de cuidado dos condutores e a falta de condições dos túneis. Muitos são antigos e não foram projetados para grandes volumes de tráfego.

A legislação da UE estabelece requisitos mínimos de segurança para os túneis, incluindo medidas para evitar que se tornem armadilhas de morte num acidente. Conhece as regras básicas para atravessar um túnel em segurança?

Como consegue determinar que um túnel é suficientemente seguro? Estas perguntas difíceis são o cerne da avaliação de risco. É ainda a base para a elaboração de políticas de segurança rodoviária.

Até 2019, mais de 1300 kms de túneis em estradas principais na Europa terão sido atualizados para fazer face aos mais altos padrões de segurança. É através do projeto SAFE-T, que propõe soluções para melhores práticas de forma a prevenir incidentes e acidentes em túneis.

O porque do uso de túneis

Em locais com um relevo muito acidentado, este tipo de “estrada” serve para a reunificação de comunidades separadas. Assim, para garantir as ligações rodoviárias modernas foi necessário construir pontes e viadutos.

Os túneis rodoviários são uma parte importante da rede de infraestruturas. Isso é compreensível, uma vez que estas passagens subterrâneas permitem a redução do tempo de viagem. Um exemplo claro desta necessidade é a Ilha da Madeira.

A geografia muito acidentada desta ilha, caraterizada por vales profundos e vertentes escarpadas, constitui uma barreira à mobilidade. São elementos que dificultam a circulação de pessoas e bens entre os diversos pontos da Ilha.

Foi necessário o desenvolvimento de uma rede viária adequada à circulação de veículos automóveis, a partir do final da déc. de 40 do séc. XX. Este foi um enorme desafio, quer ao nível de concepção e de projeto, quer ao nível da construção. Impunha-se o recurso a inúmeras obras de engenharia civil, como pontes, pontões e muros de suporte e, inevitavelmente, túneis (conhecidos antigamente na Madeira por “furados”).

Foi nessa época que começaram a ser construídos os primeiros túneis rodoviários ao longo de toda a ilha, por forma a satisfazer as exigências da circulação rodoviária nas ligações entre povoações.

A necessidade de um maior desenvolvimento económico-social e cultural na ilha conduziu a um grande desenvolvimento da rede viária a partir do final do séc. XX. Face à morfologia muito acidentada da Ilha, tal apenas foi possível de implementar com recurso à construção de túneis e viadutos em praticamente todas as vias.

Acidentes obrigam a aumentar medidas de segurança

Em 1999 e 2001 ocorreram três acidentes graves em túneis rodoviários alpinos, mais precisamente Mont Blanc, Tauern e St. Gotthard. Como consequências provocaram perdas humanas e económicas extremamente graves. Isso gerou uma especial atenção sobre a necessidade e a importância de aumentar o nível de segurança nos túneis.

Construir túneis é um desafio de engenharia que requer conhecimentos de ponta. O conhecimento de como analisar o risco em túneis desenvolveu-se substancialmente nos últimos dez a quinze anos, e há requisitos mínimos de segurança a serem seguidos em todo o mundo.

A falta de padronização nas regras de segurança nos túneis era uma outra falha que era notória ao transitar em túneis em países diferentes. Para colmatar essa lacuna a UNECE (Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa), criou um Grupo de Peritos Multidisciplinar com a principal tarefa de desenvolver recomendações para requisitos mínimos relativos à segurança em túneis.

O relatório final deste grupo engloba quarenta e três recomendações sob a forma de medidas, referentes aos quatro fatores que influenciam a segurança em túneis. Estas medidas foram tidas em conta por autoridades nacionais e entidades internacionais como a Comissão Europeia. Os quatro fatores são:
Utilizadores das estradas e túneis
Operação de túneis
Infraestrutura
Veículos

Reduzindo o risco de acidentes com veículos

Para igualar o risco em túneis rodoviários com o nível das estradas de superfície, é necessário reduzir a frequência de acidentes em túneis ou minimizar suas consequências, preferencialmente ambos.

A frequência relaciona-se com a prevenção, enquanto as consequências têm que ver com as reações. Quanto dinheiro deve ser investido na tentativa de controlar o risco para que a despesa valha a pena? Onde o investimento fará uma diferença real nos níveis de segurança – em medidas preventivas ou reativas?

“Acidentes não acontecem por magia. É necessário um evento que despolete a contingência e é possível fazer mais em túneis rodoviários para evitar que ocorram acidentes “, diz um especialista sueco.

O objetivo é, portanto, reduzir a probabilidade de iniciar eventos. Isso pode ser minorado através de diferentes ferramentas e métodos. O mais óbvio é a redução de limites de velocidade, podendo ser complementado com monotorização das condições através da instalação de câmaras de vigilância.

A engenharia pode contribuir de forma significativa através do desenho de estradas específicas que permita um melhor controlo do tráfego. A visibilidade é outro dos vetores primordiais, para melhorar este aspeto é recomendada a introdução de melhor iluminação no interior do túnel, especialmente na entrada.

O sistema de ventilação deve ser adequado em relação ao tamanho do túnel e ao volume de tráfego que nele circula. Mas sejamos realistas, a sua capacidade, infelizmente, será sempre insuficiente em caso de incendio. Mas a manutenção deste e de todos os outros sistemas que um túnel moderno possui é essencial para a segurança.

Comportamento do condutor em túneis

Depois de tanto falar dos outros, dos engenheiros, dos manutenção, falta falar de si. O que é que se pode considerar como regras básicas para atravessar um túnel? O condutor ao abordar um túnel tem que o fazer com a consciência clara que apesar de ser uma continuação da estrada onde circula possui características muito próprias.

Para começar a iluminação, deverá ligar os faróis de cruzamento, também conhecidos como médios, antes de entrar no túnel. Para isso a iluminação do seu veículo deverá estar em boas condições de funcionamento. Verifique-a regularmente.

As luzes de circulação diurna não são suficientes, nem adequadas. Mais, não permitem que quem o precede consiga visualizá-lo corretamente, pois as luzes traseiras estão apagadas. Circula seguro, acende as luzes.

Adeque a velocidade à visibilidade que tem na sua frente, se o túnel se apresentar demasiado escuro poderá esconder algum obstáculo. Tenha em atenção que não deverá reduzir a velocidade de forma brusca, principalmente se circular outro veículo atrás do seu.

Uma travagem brusca poderá surpreender os outros condutores e desencadear um acidente. Reduza de forma progressiva a velocidade até a que considere adequada à entrada do túnel. Seja prudente. Tenha em atenção que dentro de qualquer túnel é proibido inverter o sentido de marcha, realizar marcha atrás, parar e estacionar.

As recomendações de segurança para túneis

A nível de conceção, construção e manutenção de túneis existem algumas recomendações que são sugeridas e que abrangem diversas áreas de intervenção. Estas recomendações surgem divididas em três partes, prevenção, mitigação e intervenção.

Portanto, basicamente trata-se de evitar o acidente, reduzir os danos, tanto pessoais como matérias, quer nas viaturas quer na infraestrutura. E ação de socorro às vítimas, com eliminação de fogos e remoção de viaturas e destroços. Detalhadamente temos:

Prevenção:
– Limites de velocidade reduzidos
– Proibição de mudança de faixa e de ultrapassagem
– Superfície da estrada (atrito)
– Zonas de iluminação: adaptação, normal e segurança
– Revestimentos e painéis de paredes
– Vários painéis de mensagens

Mitigação:
– Detecção automática de incidentes
– Cabos sensíveis ao calor
– Sensores de gases tóxicos
– Iluminação de emergência ao nível do lancil
– Sirenes de alarmes
– Telefones de emergência
– Sinal de telemóvel
– Altifalantes
– Plano de emergência das autoridades do túnel
– Canais áudio, visuais e tácteis
– Sistemas de controlo automático do tráfego
– Componentes resistentes a incêndios de alta temperatura e a explosões
– Superfície da estrada (não porosa)
– Abrigos
– Sprinklers
– Ventilação longitudinal, transversal e semi-transversal
– Sistemas de extracção de fumos
– Sistemas de manutenção da estratificação do fumo
– Vias alternativas de fuga e/ou de entrada
– Áreas de repouso à entrada dos túneis

Intervenção:
– Hidrantes
Extintores
Veículos de emergência

A prevenção é sempre a forma mais barata de fazer intervenções em segurança rodoviária. Tudo o resto será sempre mais dispendioso, quer seja em termos materiais, ou pior, em termos humanos. Se todos fizerem a sua parte cada um necessita de fazer menos.

Fotos | FCCCO , Bombeiros, Wikipédia