
Os chips estão presentes em todos os objetos do quotidiano
Por vezes damos por nós a ver determinadas notícias, como esta dos chips e pensamos “Como que é que aquilo me afeta? Não tenho nada a ver com aquilo!” Mas afinal, mais tarde, apercebe-se que afinal esse evento, supostamente inócuo, chegou a si. Afetando-o de forma que nem tinha pensado ser possível.
Talvez tenha sido essa a sua reação ao ler o título deste artigo. Mas afinal como é que a falta de chips colocará a segurança rodoviária em risco? Que problemas existem com a escassez global de chips que possam afetar a mobilidade. Descubra aqui.
Onde estão os chips?
A pandemia causou estragos nas cadeias de abastecimento de diversos produtos. Prejudicou as previsões económicas em diversos setores, assim como as espectativas de crescimento, desenvolvimento e avanço tecnológico. O estrangulamento criado pela escassez de chips de computador está elevando os preços duma série de produtos e forçando algumas fábricas a parar, ou reduzir severamente, a produção.
Mas analise o que o rodeia, os chips estão por toda parte. Existem dezenas em cada carro. Eles ajudam a regular o funcionamento de praticamente tudo num veículo, desde a temperatura do motor à estabilização do veículo, gerindo desde os travões aos sistemas de suspensão. Noutras áreas eles gerenciam estações de tratamento de água, linhas de energia e cabos de Internet. Em quase todos os produtos atuais encontra um chip e muitos produtos já estão conectados a um minúsculo computador e parte desses produtos estão já interligados na net. O mundo moderno funciona com eles, é a Internet das coisas.
No caso dos veículos, sejam eles de que tipo for, possuem chips e estão cada vez mais dependentes destes. As tecnologias de segurança dependem dos chips para funcionarem, sem eles não passam de meros adornos. E quando as marcas optam por utilizar versões simplificadas, ou simplistas, do que seria normal o utilizador é que é colocado em risco. Todos os que circulam, sejam condutores ou peões, passam a ser prejudicados pela falta de chips pois esperam que os veiculos possuam determinadas capacidades, que podem estar castradas com a limitação destes.
A própria mobilidade pode ser afetada pois, a partir do momento em que os veículos não tem o desempenho pretendido, ocorrem mais acidentes, Este maior número de entropias à circulação cria uma mobilidade pouco eficiente e desajustada das necessidades atuais da população. Sempre que um dos elementos falha, falham outros em cadeia.
O que são os “chips” e como são feitos
Um chip de computador, também chamado de semicondutor ou circuito integrado, é uma série de circuitos eletrónicos impressos num material condutor, geralmente silício. Eles são a parte principal do que é necessário para fazer um computador e tornar algo capaz de executar softwares.
Com o passar dos anos, os arquitetos de chips conseguiram espremer cada vez mais circuitos em espaços menores, tornando os computadores exponencialmente mais rápidos e baratos. Mas o tamanho minúsculo e o design complexo estabeleceram as bases para a atual escassez.
Talvez se pergunte porque que é que as empresas de chips simplesmente não fazem mais? Ao contrário de outros componentes, como motores, discos ou painéis de carroceria, os chips precisam ser construídos em fábricas com ambientes altamente controlados, autênticos laboratórios. Partículas de poeira, picos de temperatura e até eletricidade estática podem danificar o funcionamento dos complexos semicondutores. Pelo que a sua produção é altamente especializada.
Atender ao aumento de pedidos, ainda mais com o aumento do consumo de produtos eletrónicos que a pandemia provocou, de forma inesperada, não é tão simples quanto configurar outra linha de produção e contratar mais alguns trabalhadores. As novas fábricas de chips custam milhares de milhões de euros e podem levar dois anos para serem construídas.
No atual momento, as fábricas de chips estão funcionando no limite da sua capacidade. Usando todos os meios que possuem para tentar satisfazer o mercado. Mas a procura global é elevada e levará meses, ou até anos, para que novas fábricas de chips entrem em operação para suprir a procura extra.
Qual é o papel da pandemia na escassez?
Quando a pandemia começou a paralisar partes da economia global no ano passado, a maioria dos economistas pensava que os gastos do consumidor cairiam a pique. Pois à medida que as pessoas perdessem os seus empregos era expectável que parassem de comprar bens não essenciais. As marcas de automóveis reduziram a produção e pediram menos chips, prevendo menos vendas.
Ao mesmo tempo, milhões de pessoas forçadas a trabalhar ou a aprender em casa investiram o dinheiro que poderiam ter gasto em bilhetes de cinema, jantares ou férias em novos dispositivos eletrónicos, desde televisões, computadores e sistemas de videojogos.
As empresas que produzem estes tipo de equipamentos eletrónicos compraram todos os chips disponíveis no mercado e as margens de produção ainda existentes nas fábricas. Pois só assim conseguiriam dar resposta a essa procura e, quando as marcas de automóveis perceberam que as pessoas ainda queriam carros, já era tarde demais. Agora, milhões de carros estão parados nos parques das fábricas, quase concluídos, exceto pelos chips de que precisam.
Que outros fatores levaram à escassez
Mas a pandemia e consequente aumento de procura de bens eletrónicos não é o único fator em jogo. Os novos telefones 5G usam muito mais chips de computador do que as gerações anteriores de aparelhos. “Cerca de um quarto de todos os telefones vendidos em 2020 estavam prontos para 5G, então a indústria de repente colocou uma nova pressão, massiva, na produção de chips”, disse Matt Bryson, analista da empresa de semicondutores Wedbush Securities.

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China provocou uma falta de diversos produtos a nível mundial, entre eles chips
A guerra comercial do anterior presidente americano, Donald Trump, com a China também teve um impacto. Cerca de 10 por cento da produção mundial de chips vem da SMIC, uma empresa de semicondutores parcialmente controlada pelo governo chinês. Em 2020, o governo dos EUA restringiu as empresas americanas de vender para a SMIC, citando os laços dessas empresas com os militares chineses.
Até mesmo a crescente procura por cripto moedas, como por exemplo a bitcoin, é um fator. São cada vez mais os armazéns cheios de computadores usados para executar cálculos, extremamente complexos, que tornam possíveis a criação das cripto moedas. E estes estão absorvendo mais e mais a produção de chips de computador a cada ano.
Quem está ganhando com a escassez dos chips?
Não é tão simples quanto você pode pensar. As empresas de chips estão se beneficiando com a possibilidade de vender a preços mais altos, mas na maioria das vezes estão presas a grandes negócios de longo prazo que não podem ser alterados por capricho.
E agora não há chips suficiente para o avanço que a industria automóvel está a atravessar e continuar a integração dos veículos com novas tecnologias. Assim estão reunidas as condições para aquilo que se pode considerar uma tempestade perfeita de fatores que estão empurrando os aumentos de preços para os consumidores e mesmo assim cortando os lucros de algumas das maiores empresas mundiais.
Os maiores vencedores podem ser as empresas que fabricam equipamentos para vender a essas empresas. São equipamentos extremamente caros e altamente complexos usados para fazer semicondutores, como a Applied Materials e a Lam Research, da Califórnia, e a japonesa Tokyo Electron.
Quem está pagando o preço?
Esta é a pergunta mais fácil de todas, todos nós, os consumidores. Por causa da onipresença dos chips, os preços estão subindo independentemente do tipos de produto que analisemos. Alguns componentes de computador e jogos de última geração estão sendo vendidos em sites de leilão pelo dobro de seus preços de venda recomendado de mercado.
Os tempos de espera por novos equipamentos de jogos, como PlayStations e Xboxes, podem ser adiados ainda mais. Muitas pessoas podem chegar à conclusão que um carro novo que antes podiam comprar, de repente ficou fora das suas possibilidades. “O consumidor é um claro perdedor nesta situação”, disse Bryson.
No lado das marcas de automóveis a crise também está a deixar sinais preocupantes, a GM disse que estenderia os cortes de produção nos EUA, Canadá e México até meados de março. Este é só mais um construtor com problemas , pois a lista de grandes fabricantes de automóveis com dificuldades já vai longa, incluindo Ford, Honda e Fiat Chrysler, que alertaram os investidores, ou reduziram a produção de veículos, por causa da escassez de chips.
Os chips devem permanecer em falta nos próximos meses, já que a procura continua mais alta do que nunca. A Semiconductor Industry Association disse em dezembro que as vendas globais de chips cresceriam 8,4% em 2021 em relação ao total de US $ 433 bilhões em 2020 (o que se traduz em 363 mil milhões de euros, ou seja € 363.000.000.000, só para ter a noção da ordem de grandeza). Isso representa um crescimento de 5,1% entre 2019 e 2020 – um salto notável, dado o quão grandes são os números absolutos.
O que é expectável que aconteça?
A escassez pode durar um certo tempo, em parte devido ao tempo que leva para colocar novas fábricas em funcionamento, mas também porque a procura provavelmente não vai desacelerar, especialmente porque os analistas esperam que a atividade económica mundial recupere até fins de 2021.

Os veículos atuais comunicam “com tudo”, para tal necessitam de processar informações em tempo real através dos chips de cada sistema
A escassez está ampliando os problemas de comunicação e entendimento entre alguns países, nomeadamente entre os Estados Unidos e a China. Os atritos estão a escalar, e os políticos americanos estão a pressionar o novo Presidente Biden para que o governo subsidie uma indústria nacional de chips.
A expectativa é que com uma indústria mais forte as empresas americanas não precisem de depender de fabricantes chineses e taiwaneses. Na China, a guerra comercial levou o governo a fazer stock de chips e encontrar novas fontes de componentes. Mesmo depois dos efeitos da pandemia acabar, a geopolítica continuará agitando a indústria de chips.
Algum caso de mudanças dos tipos de chips usados em novos automóveis é expectável. Pois cada marca terá que se adaptar à oferta existente, e entre não vender ou vender um veículo com menos algumas funcionalidades, de certeza que optará pela segunda hipótese, pois tudo poderá ser resolvido mais tarde através duma intervenção programada ou caso algo corra mal com um “recall” para substituição do componente que não cumpra a sua função de forma adequada.