No passado 20 de novembro, Dia Mundial das Vítimas da Estrada, foi realizado o seminário “Cidade x Mobilidade e Segurança Rodoviária”, no município de Vila Real. O objetivo do evento era promover o debate sobre o futuro da mobilidade urbana e a necessidade de garantir a segurança rodoviária.
A vice-presidenta da ANSR, Ana Tomaz, participou como palestrante para analisar as causas e consequências dos acidentes de trânsito. Tomaz sublinhou a importância da cooperação entre a administração pública e local e considerou que esta é “a chave que Portugal precisa para implementar a Visão Zero, “onde zero é o único número aceitável de mortos e feridos graves na estrada”.
Ana Tomaz considerou que “esta é a forma de combater os acidentes rodoviários e acabar com este problema dramático na vida das pessoas e na vida das famílias”. E lançou um desafio aos participantes: “Vamos ser a última geração em viver a crise da segurança rodoviária e vamos salvar vidas!”.
Alterações na mobilidade
Um desafio que todos os portugueses devem interiorizar já que, em termos de mobilidade, as maiores alterações observadas nos últimos anos em Portugal foram registadas nos níveis de uso de bicicletas, motas e trotinetes, com importantes consequências para os acidentes de trânsito: na verdade, Portugal é o segundo país europeu com maior número de acidentes com veículos de duas rodas, com 15,1 vítimas mortais por milhão de habitantes, apenas superado pelos números registados na Grécia (22,1) e muito superior à média europeia (9,1). O número de mortes por milhão de habitantes em Portugal entre utentes de automóveis (28,5 em coparação com 23,0 na Europa) e peões (14,3 em comparação com 10,4 na Europa) também superior à média europeia.
Por outro lado, o número de ciclistas falecidos por milhão de habitantes em Portugal (2,6) foi inferior à média europeia (4,4), como mostram os dados de E-Survey on Road Users’ Attitudes sobre o uso dos meios de transporte e a perceção de segurança em Portugal e em outros 22 países europeus.
Veículos de duas rodas
Entre 2010 e 2019, o número de motas asseguradas em Portugal aumentou 86% (dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões – ASF), o que corresponde a um aumento dos acidentes com estes veículos: o aumento do número de motas com feridos leves foi de 107% e de feridos graves de 64% (dados da ANSR).
O aumento do uso da bicicleta como meio de transporte ou de lazer também é observado no número de acidentes rodoviários: entre 2010 e 2019 o número de feridos leves aumentou 88% e o de feridos graves 58% (dados da ANSR). Quanto às trotinetas elétricas, ainda existe falta de dados estatísticos sobre acidentes rodoviários.
Os resultados mostram que, entre os 23 países europeus da ESRA, Portugal é o país que mais utiliza o autocarro como principal meio de transporte. Por outro lado, é o país que menos utiliza a bicicleta, com uma percentagem 10 vezes inferior à registada nos Países Baixos (3,5% x 35,6%).
A percentagem de uso do transporte público pelo menos 4 dias à semana em Portugal, próxima da média europeia (16,4% x 17,0%, respetivamente). Portugal aparece com percentagens acima da média europeia no uso de veículos de motor de 2 rodas (4,8% x 3,8%) e abaixo da média europeia em caminhar (58,8% x 65,7%) e no uso de outros veículos de transporte motorizado (0,9% x 1,4%).
Salvar vidas e poupar custos
Ana Tomaz finalizou a sua intervenção explicando que não há melhor investimento para salvar vidas que em segurança rodoviária, com educação, conscientização e na melhoria das infraestruturas. Para isso, disse que o investimento de mais de 33 bilhões de euros de Portugal, entre 1995 e 2019, retornou no investimento calculado em 175 bilhões de euros correspondentes aos custos sociais e económicos evitando mortes e feridos graves. “Pense assim: para além da dor pessoal, salvar vidas nas estradas tem uma volta económica muito elevada”.