Sente um ruído no veículo? Um automóvel tem mais de mil fontes de som

Miguel Alves

7 de Abril de 2021

Os condutores, por vezes, são confrontados com o aparecimento de um som e de alguns ruídos nos seus veículos, ficando intrigados sobre a sua origem e se essa origem é sintoma de alguma anomalia ou avaria.

Será o som que escuto normal? Será que é alguma peça solta? Estas são perguntas que muitos condutores fazem quando estão ao volante das suas viaturas.

Na realidade, como máquina que é, um automóvel emite os seus sons próprios de funcionamento.

Câmara anecoica mede quase o silêncio

Para medir todos esses decibéis e esse género de sons produzidos pelos veículos, a Seat dispõe de uma câmara anecoica, instalação onde se reproduzem condições acústicas mais próximas do silêncio absoluto e que são usadas também, por exemplo, pela NASA nos seus testes.

A câmara anecoica existente no Centro Técnico da Seat, em Martorell, foi especificamente concebida para medir o ruído e som de cada veículo com a máxima precisão e sem qualquer interferência.

Com a ajuda da Seat, vamos explicar como tudo funciona.

O construtor concebeu com um sistema denominado “Box in box”, duas caixas, uma dentro da outra, com várias camadas de betão e aço que a isolam do exterior, cobertas com materiais que absorvem mais de 95% das ondas, evitando assim o eco e a reverberação.

Um automóvel, mais de mil sons

Desde a rotação do motor ou das rodas, até ao fecho de uma porta e à ventilação, até à inclinação de um banco. A lista de fontes sonoras num automóvel é interminável. Todas elas são analisadas nesta câmara.

“Por um lado, medimos o nível de incómodo dos ruídos e verificamos se estes são reduzidos ao mínimo e, por outro, verificamos se os sons que queremos ouvir, os que se referem ao veículo, estão perfeitamente definidos. Finalmente, trabalhamos na harmonia de todos eles“, explica Ignacio Zabala, chefe do departamento de Acústica da Seat.

Os engenheiros e técnicos prestam especial atenção ao motor e ao escape, porque são a “voz” do automóvel.

Muitos dos sons de um automóvel transmitem-nos informação, como o inconfundível “clique” dos indicadores de mudança de direção, que nos permitem saber, sem verificar que eles estão ativados.

Mas não é só o ruído do motor e do escape que nos informam de quando devemos mudar de mudança ou de velocidade de aceleração, como também nos dão uma visão do carácter de um modelo. “Todos temos uma ideia muito clara do barulho de um motor desportivo. É por isso que verificamos na câmara anecoica que ela transmite o que queremos”, explica Ignacio Zabala.

No interior da sala, os especialistas gravam os sons com diferentes microfones de alta sensibilidade.

Entre eles, um microfone binaural, um tronco com microfones ao nível do ouvido para obter gravações representativas da forma como os ocupantes ouvem.

Colocam-no em diferentes posições para determinar que cada um dos sons analisados é ouvido como deve ser de qualquer ângulo.

Mas também recriam condições diferentes, como a temperatura, porque, como explica Ignacio Zabala, “um limpa para-brisas não soa tão bem quando está quente no exterior e não soa o mesmo quando a temperatura está abaixo de zero, um motor quando acaba de ser ligado e quando já está quente ou as rodas em pavimentos diferentes”.

Os engenheiros e técnicos do departamento de Acústica da Seat têm à sua disposição muitas ferramentas de análise. Dos mais básicos, como volume ou distribuição espectral, a outros parâmetros mais técnicos, como o campo da psico-acústica ou a perceção subjetiva do som.

“Por exemplo, um ligeiro tilintar pode deixar-nos muito nervosos e perturbar-nos mais do que algo estridente“, diz Ignacio Zabala. Um dos indicadores mais importantes da psico-acústica é a articulação, que mede a capacidade de manter uma conversa entre duas pessoas num determinado ambiente.

Não vale a pena um automóvel ter muito isolamento do exterior, se o sistema de ventilação soar muito forte. É por isso que é tão importante reduzir o ruído e definir os sons para alcançar a harmonia entre todos eles“, diz Ignacio Zabala.

E tudo para conseguir o maior conforto dos ocupantes do veículo, porque a acústica, explica o engenheiro, “tem um impacto direto no conforto e é um fator determinante na perceção da qualidade de um automóvel”.

Imagens | Seat