Como será o mecânico do futuro?

Alberto Valera

1 de Setembro de 2017

O automóvel protagonizou uma intensa revolução tecnológica durante mais de um século. Nos últimos anos, o aparecimento de eletrónica e a informática não fizeram senão acelerar dramaticamente a sua evolução, complementando-a e, em muitos aspetos sendo a principal protagonista de inúmeras melhorias.

A nível mecânico, os avanços têm sido surpreendentes e, apesar do encanto de veículos clássicos, com 30, 50 ou mais anos, não há dúvida que atualmente são muito mais cómodos, seguros, eficientes e fiáveis, com a consequência de complicar o trabalho às oficinas de reparação à medida que a técnica vai evoluindo.
Então, como será o mecânico do futuro? Vamos responder através de… como será o carro do futuro, qualquer coisa que parece um pouco mais simples agora, já que este evolui a olhos vistos.

A ferramenta básica de sempre, o conhecimento

Se existe algo comum a toda a todas as épocas é que uma oficina precisa de empregados com conhecimentos profundos do funcionamento do automóvel, que são necessários para realizar o diagnóstico correto das avarias e saber proceder à reparação correta. Se desconhecemos como funciona, é improvável que acertemos com o diagnóstico, e a reparação pode piorar o estado do veículo.
Antigamente, as avarias eram mais “analógicas” e paulatinas. O motor começava a soluçar, a fazer ruídos ou a perder potência muito antes de uma avaria geral. Por outro lado, os motores atuais, mais refinados e carregados de componentes eletrónicos, ou param por completo ou passa a modo de emergência com potência limitada e sem nenhum sinal exterior aparente. Só quando se liga o carro ao computador de diagnóstico se podem começar a estabelecer as causas da avaria. Outro aspeto que foi complicando as reparações mecânicas foi a otimização do espaço num veículo moderno, no qual cada vez há menos espaço livre para a mecânica devido ao maior número de elementos e à diminuição de espaço para o motor em prol do aumento do habitáculo.

A oficina, em plena revolução

À medida que o automóvel se for tornando mais sofisticado, ao profissional da reparação foi sendo exigido mais conhecimento para poder desempenhar o seu trabalho. Para além disso, foram sendo incorporados novos sistemas numa escalada tecnológica que nenhum fabricante quer perder. Proa disso é que em apenas cinco anos foram sendo incorporados mais sistemas que nos anteriores 20.
Vejamos alguns exemplos dessas novidades: ecrãs LCD em lugar de relógios, conetividade, wifi, função de condução autónoma mediante visão artificial, sensores de radar e ultrasom, travagem de emergência automática, assistente de faixa de rodagem ativo, condução autónoma em engarrafamentos, travagem regenerativa de energia, travão de mão elétrico, câmaras de visão periférica, motor elétrico, híbrido e sistema start/stop do motor…
Em resumo, enquanto o mecânico de antigamente fazia toda a sua carreira com os mesmos conhecimentos, o mecânico moderno tem que receber formações contínuas para entender o funcionamento dos novos sistemas que vão sendo incorporados no automóvel.
Precisa de aprender a manejar os complexos equipamentos de diagnóstico. Deve poder aplicar atualizações de software que as marcas desenvolvem de forma contínua. Em caso contrário, deve conformar-se me trabalhar fazendo tarefas de manutenção simples em oficinas de mecânica rápida, que ainda assim requerem conhecimentos para a utilização de maquinaria, software e computadores que são necessários ligar as veículos modernos para realizar qualquer que seja a operação. Mesmo que os veículos tenham funções de autodiagnóstico, todavia estas são insuficientes para a correta identificação das avarias, função que continua a depender em grande parte dos conhecimentos e experiência do gerente de oficina.

A grande mudança está a chegar

O rápido aumento da complexidade dos veículos, especialmente dos motores elétricos e híbridos, faz com que as oficinas precisem de especialização. Em lugar de se dedicarem a todas as marcas e todo o tipo de avarias ou melhorias, as oficinas especializam a sua atividade. Mesmo existindo algumas oficinas especializadas em equipamentos de com, potenciação de motores mediante reprogramação, reparação de motores, caixas de velocidade, chapa e pintura, sirgem agora novas necessidades, por exemplo, especialistas em transmissões híbridas, em condução autónoma, em internet, wifi no automóvel, em carros elétricos.
Ainda assim, fique a saber que o veículo 100% elétrico é mecanicamente mais simples e fiável que o híbrido.

O mecânico do futuro. Uma profissão mais relaxada?

Da mesma forma que hoje em dia funcionam os sistemas operativos dos nossos computadores e smartphones, o veículo conetado disponibilizará ligação constante à internet, graças à qual poderá atualizar o seu software e realizar autodiagnósticos. Assim, os veículos, em caso de lhe serem detetadas avarias, podem dirigir-se às oficinas com as avarias já diagnosticadas e simplesmente falarão com o mecânico que sequencia as operações que devem ser realizadas. Desta forma, o diagnóstico ficará na rede ou na cloud e será feito por quem melhor conhecer o veículo: o próprio fabricante.
Quando os veículos elétricos “dominarem” o mundo, as reparações mecânicas não vão desaparecer. Os sistemas de travagem, direção e suspensão, pneus, vão ser sempre necessários, mas num carro elétrico, a mecânica surge tão simplificada que possivelmente a palavra mecânico vá perdendo o significado que tem atualmente. Convém não esquecer que os veículos elétrico ao não utilizarem qualquer motor térmico ou caixa de velocidades, não precisarão de reparação nem de manutenção de nenhum dos elementos clássicos; óleos, filtros, injetores, correias da distribuição, turbos, embraiagens ou radiadores. Estas palavras não deverão existir numa oficina de automóveis do futuro. Estaremos na época a falar de avarias no sistema d regulação da bateria ou do software de controlo.

Fonte: Circula Seguro