É a sinistralidade a contrapartida da mobilidade?

António Ferreira

19 de Novembro de 2013

É frequente o comentário de que a elevada sinistralidade viária não é mais do que o preço que devemos pagar por disfrutarmos de uma mobilidade ágil e personalizada que está ao alcance de praticamente qualquer bolso. Coisas dos tempos em que vivemos.

Depois de tudo, os chamados “acidentes de trânsito” não são mais do que eventos isolados que ou bem que acontecem aos outos ou bem que nos acontecem a nós porque têm que nos acontecer. Porque, no fundo, é uma questão de sorte. É óbvio que esta é uma visão que, embora distorcida, está presente no imaginário coletivo. Porque?

O valor da vida é incalculável e por isso uma única morte, sobretudo quando ocorre de forma violenta, é uma tragédia. Aceitando isto como um principio, seria lógico pensar que o peso de uma tragédia deveria ser tanto maior quanto maior fosse o número de pessoas envolvidas por ela.

Mas nem sempre é assim. Com os números na mão, vemos que existe pouca relação entre o numero de afetados por cada tido de tragédia e a repercussão que estes acontecimentos alcançam na sociedade. Dito de outra maneira: utilizamos uma dupla fasquia na hora de avaliarmos as mortes violentas.

Deixando de parte a tristeza que ocorre pela perca de uma vida de forma violenta, verifica-se evidentemente que existe uma grande desproporcionalidade entre o número de pessoas falecidas devido às principais causas de morte em Espanha e a importância social que se dá a cada uma dessas circunstâncias.

E na altura de informar falar da sociedade é falar das mensagens que se difundem através dos meios de comunicação. A diferença que existe no tratamento que se dá a algumas mortes violentas, onde chegamos a conhecer todo e qualquer ínfimo detalhe do que aconteceu com a vitima nas suas ultimas horas de vida, e no caso das mortes no trânsito, onde raramente entramos em detalhes, quedamo-nos quanto muito pela contagem do fim de semana e nada mais. Fala-se das vitimas do trânsito como um conjunto e não de pessoas em si, com nomes e histórias particulares.

sinistralidade rodoviária

Por outro lado, a morte devido ao trânsito é entendida como uma morte fortuita, fruto da casualidade, desprovida de qualquer intencionalidade. Tanto é assim que a palavra que mais utilizamos para nos referirmos a este flagelo da sociedade é acidente, como se os falecidos na estrada o foram por causas apenas imputáveis ao azar.

Este tratamento da informação referente à sinistralidade na estrada grassa na sociedade sob a forma de ideia perversa: os acidente de trânsito são algo inevitável, inerentes à mobilidade e constituem o preço que devemos pagar pelo progresso da sociedade.

Progresso? Que progresso social é aquele que contempla a perca dos indivíduos mais jovens de um pais? 18.000 Jovens na última década perderam-se caídos no asfalto. Admitir que a sinistralidade é algo inevitável constitui o primeiro passo em direção ao conformismo que admite como aceitável 4.10r cadáveres num ano.

Outra visão igualmente enganadora aponta certos elementos inanimados como a explicação da elevada sinistralidade viária. Diz a Lei que é condutor a pessoa que maneja a direção ou vá a dirigir um veiculo e que deve estar sempre em condições de controlá-lo.

“Foi culpa da estrada” ou “o carro fugiu-me” são desculpas de quem se mostra incapaz de admitir o seu fracasso como condutor. Pensar que não é o condutor quem leva o veiculo mas sim o veículo que leva o condutor é comprar séries inteiras da lotaria do acaso. E as consequências de um acidente viário podem ser tão graves que convém levar-se este assunto muito a sério.

Quando mudar o discurso dos média começará também a mudar a sociedade. Neste sentido, não apenas os Média supostamente informativos são os responsáveis ela imagem que tem a sinistralidade viária. Também a publicidade declarada como tal contribui para criar em redor do automóvel uma aura de felicidade e segurança que se se quebra quando o condutor abusa do excesso de confiança