Conduzir é identico em todo o lado, ou deveria ser, mas na Suiça existe uma cultura de condução no limite da lei, ou seja todos andam colados ao limite mas ninguém passa dos limites, pois existem cameras em todo o lado, sejam nos cruzamentos, nos semáforos, ou atrás de um placar com a indicação de um limite de velocidade.
Parece que a caça à multa que afirmamos que existe em Portugal é talvez um pouco exagerada por nós, pelo menos se compararmos com o país conhecido pelos canivetes multifunções, parece que no país onde um canivete serve para tudo, acho que só não faz café, a forma com que todos são controlados parece tirado de um filme.
Graças a uma família muito grande e geograficamente muito distribuída já tive o prazer de conduzir fora de Portugal diversas vezes, algumas vezes em estradas boas, com bons carros e na companhia da pessoas que ajudavam na condução, outras vezes em estradas más, com carros velhos que avariaram e também já conduzi diversas vezes em situações que todos os passageiros estavam a dormir dentro do carro por diversas horas.
Conduzir na Suiça
Recentemente estreei-me ao volante na Suiça, país de paisagens muito bonitas e estradas de boa qualidade, onde existe uma diáspora de portugueses integrada no país, a todos os níveis, não só a nível de trabalho e familia, mas também já com uma integração total na cultura local, em especial a segunda geração.
A nível da segurança rodoviária todas as regras são muito controladas, fazendo com que a taxa de acidentes seja baixa, e mais importante a nível humano, os acidentes geralmente não são graves.
O controlo é que é extremamente rigoroso, senão vejamos, se vamos na autoestrada e vemos um sinal de proibição de circular a mais de 80 km/h, temos de travar para passar no cartaz a 80 ou menos, pois quase de certeza que existe um radar e camera pronto para “parabenizar” o infractor.
E isto não acontece apenas nas autoestradas, existe em muitas entradas de povoações, onde o limite é de 50km/h e em quase todos os cruzamentos principais, onde os semaforos estão ligados às cameras para verificar se passamos no amarelo, sim o amarelo é para parar, lembra-se?
Coimas a doer
É uma cultura defensora de uma grande rigidez e exatidão, onde todos esperam de todos que cumpram as leis escrupulosamente, os cidadãos são penalizados onde os suiços mais sentem… na carteira! Mas passando a casos práticos, e baseando-se nas multas mais comuns, as de velocidade, as multas são elevadas, como pode ver no quadro abaixo.
As infrações mais graves são calculadas com base no rendimento do condutor, isto porque num país onde o rendimento médio é elevado é dificil de calcular o que será justo para cada um, esta medida foi colocada em prática depois da reincidência, constante, por parte de um empresário suiço.
Este condutor achava que “meia dúzia” de centenas de euros não era impedimento para continuar a infringir as leis, então os legisladores alteraram a lei e passaram a calcular as multas pecuniárias em relação ao rendimento do condutor.
Pela comunicação social foi noticia, logo após a entrada em vigor destas coimas, o valor que atingiu uma infração cometida pelo proprietário de um Ferrari Testarossa ao passar a 100 km/h numa aldeia, onde o limite é 50Km/h. O valor ultrapassou um pouco os 200 mil euros.
Algum tempo depois esse recorde foi arrasado, pois um empresário de 37 anos ao volante de um Mercedes SLS foi apanhado a circular a 290km/h numa autoestrada, ou seja a 170 km/h acima do limite legal, o valor calculado da multa chegou aos 780 mil euros.
Em ambos os casos os valores das multas são muito inflacionados pela riqueza dos infratores, mas são sempre uma forma de chamar a atenção que ninguém está acima da lei, e mesmo tendo capacidade finaceira para pagar o valor fará pensar duas vezes em voltar a violar a lei.
Cumprem por bom senso ou por obrigação ?
Ao conduzir nas estradas suiças eu tinha uma grande vantagem em relação a esses empresários, de fato é uma vantagem triste, infelizmente nunca receberia uma multa desse valor, mas na mesma poderia ter uma dolorosa coima, pois a receber o ganha pão aos níveis de Portugal e a pagar multas ao nível da Suiça custa e muito.
Então a minha condução foi sempre muito atenta aos sinais, em especial os de limite de velocidade, não que não esteja atento normalmente mas devido a outra caraterística peculiar da rede viária helvética que é a constante mudança de velocidades permitidas ao longo de um percurso.
Se em autoestrada o normal é 120km/h, devido à orografia local passamos por diversos túneis e em túnel a velocidade máxima permitida é de 100 ou 80km/h, como todos andam no limite da lei, as reduções de velocidade em autoestrada são algo peculiares.
Estava seguindo o fluxo de transito a 120km/h, com margem de segurança mais de suficiente para a viatura que me antecedia e de repende todos travam forte para reduzir para o estipulado no sinal, nos casos de 120 para 80 então é flagrante a travagem forte.
Na primeira vez que me aconteceu uma situação destas, e já havia sido prevenido por um condutor habituado a esta prática, confesso que eu travei mais que o normal, devo ter reduzido até aos 70, e aí fui brindado pela simpatia típica suiça ao volante, na forma de algumas buzinadelas oriundas dos veículos que seguiam atrás de mim. Enfim, lá por cumprirem as regras não significa que sejam altruístas ao volante.
Está visto que conduzir com bom senso é diferente de conduzir dentro da lei, os casos mais flagrantes em Portugal talvez sejam os casos de condutores que, em situações climatéricas extremas, interpretam os sinais de limite de velocidade como sendo para serem levados como sinais de obrigação, se algum condutor circula abaixo do valor desse sinal, é brindado com uma buzinadela, tal como na Suiça. Talvez seja não sejamos assim tão diferentes.
Fotos | Duarte Paulo, Kecko