Um ano mais está prestes a passar e logo, logo, estaremos em plena época de incêndios. Época essa que obriga a uma elevada mobilização de viaturas de bombeiros e respectivos operacionais. Um ano, doze meses passaram e o que foi feito?
Todos os anos, a cada ano, somos severamente confrontados com noticias de acidentes e mais acidentes com viaturas “vermelhas” que se deslocam, muitas e tantas vezes sem uma orientação especifica, transportando homens que procuram, contra as suas mais puras forças, chegar a todo lado. Auxiliar mais um popular.
Uma guerra desleal
Quando toca a sirene de chamada do quartel, os operacionais bombeiros que largam tudo e todos, correm sem olhar para trás na ânsia de rapidamente chegar ao quartel para pegarem no volante de uma viatura e se colocarem á estrada em busca de um e apenas um objectivo; ajudar quem não conhecem, salvar vidas e bens.
Estes homens e mulheres colocam-se à estrada, sujeitos a todas as vicissitudes que o meio rodoviário lhes reserva, surpresas, tantas surpresas. E eles, na sua modesta e humilde vontade não olham a quem. Lançam-se numa correria quase olímpica, jamais sabendo onde se encontra a meta ou se a encontrarão.
É uma guerra desleal a que estão sujeitos, uma vez que apenas sabem que se irão debater com um incêndio mais, mas nunca sabendo o que sucederá pelo caminho até lá chegarem, nem tão pouco quando de lá irão regressar.
As condições psicofísicas
Se é verdade que um incêndio pode ter uma curta duração de combate, não é menos verdade que poderá proporcionar um conflito de dias, muitos e dolorosos dias. Dias esses que levam a um cansaço extremo que a adrenalina os engana e os leva a se convencerem que estão bem, física e psicologicamente.
E no regresso ao quartel, numa viatura de cinco ou sete elementos, por muito que não queiram os operacionais começam a relaxar e acabam por adormecer, deixando o motorista da viatura sozinho, abandonado ao seu cansaço e à responsabilidade de todos trazer em segurança a casa.
Estes homens e estas mulheres, grande parte deles voluntários, necessitam de muito mais do que uma palmadinha nas costas. Necessitam de ser sensibilizados, com formações ou simples intervenções pontuais, que lhes faça ver que não são invencíveis e que o seu maior inimigo é a fadiga. Fadiga essa que os leva a perderem a noção de condução e a terem acidentes rodoviários que os condiciona a eles e aos demais utentes da via pública.
Formação de condução defensiva
E o que fez o Estado português por estes homens e mulheres, nesta área, neste último ano. Quanto foi investido na segurança rodoviária das corporações e seus operacionais? Quantas foram as viaturas, num parque automóvel cansado e envelhecido, que foram substituídas ou sujeitas a profunda reparação ou real manutenção?
Afinal, conduzir um automóvel sabemos todos nós, mas é preciso muito mais do que isso. É necessário perceber que aquelas viaturas de combate a incêndios têm comportamentos distintos dos demais veículos, dinâmicas que requerem um conhecimento mais apurado.
São viaturas, grande parte delas, com muitas toneladas de peso líquido, mal preparadas e que requerem um conhecimento por parte de quem as vai conduzir. E a formação que deve ser ministrada tem custos, custos esses que a maior parte das corporações não podem suportar.
E o Estado português o que fez por esta gente? Cortou a possibilidade de recorrerem a formação financiada pelo POPH, uma vez que passou a exigir que um grupo de formação, de bombeiros voluntários, para poder usufruir daquele protocolo, tivesse 75% dos formandos desempregados e inscritos no IEFP. Foi isto que o estado português fez por esta gente que sai de casa a meio da noite para circular no escuro.
Foto¦ Pedro Simões