Para as novas gerações, o ideal de tirar a carta de condução logo aos 18 anos de idade já não é tão forte quanto foi no passado.
A ilusão (ou ansiedade) de tirar a carta de condução quando se chega aos 18 anos, está a desaparecer cada vez mais. O que as gerações anteriores identificaram como liberdade e um sinal de entrada na vida adulta parece não interessar mais à nova geração digital.
É cada vez mais comum observar jovens que anseiam por um bom dispositivo móvel ou um gadget tecnológico do que ingressar na escola de condução, algo que também aumentou os alarmes dos próprios fabricantes. A mudança de mentalidades, as alternativas de transporte e a falta de orçamento são os principais fatores que estão na base disso.
Até há alguns anos, as escolas de condução estavam cheias de inscrições de rapazes e raparigas de 18 anos ansiosos para se sentar ao volante. O teste teórico podia ser feito antes mesmo destes jovens atingirem a maioridade; e muitos com os 18 anos completos tinham tudo pronto para entrar no asfalto.
O automóvel, então, era um símbolo de estatuto, o elemento diferenciador entre amizades e o primeiro passo em direção à independência. A música alta, o ar que entrava pela janela e as viagens para longe da família eram a coisa mais próxima da felicidade para muitos. Todavia, isso parece já não ser mais assim.
Carta de condução: quais são as razões para a queda no número de novos condutores?
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de cartas de condução emitidas em Portugal diminuiu 25,5% em 2016, face a 2015. Trata-se de uma realidade que tem paralelo com o facto da população estar a envelhecer e de haver cada vez menos jovens, com redução das taxas de natalidade.
Existem outros fatores que têm a ver com a concentração populacional nos centros urbanos e das grandes cidades que relegaram o carro a um espaço de lazer ou de férias, longe de ser um objeto do dia-a-dia, até pela proliferação de novos hábitos de deslocação.
Ou seja, os jovens mostram ter perdido parte do interesse em tirar a sua carta de condução. Pura e simples, porque não é mais uma prioridade.
Há igualmente uma parte económica nesta questão, dado que muitos jovens não podem arcar com os custos de ter um veículo, facto que reforça a apetência por recorrer a novos fenómenos de mobilidade partilhada urbana e microurbana, como bicicletas e trotinetes.
Já com a geração millennials (geração nascida entre 1981 e 1993), o travão foi acionado, mas com a geração Z (1994 a 2010) e a digitalização, as prioridades evoluíram. O sentimento de propriedade automóvel caiu e a despesa destes jovens é destinada a múltiplas opções de lazer e a prioridade do investimento é antes para um bom smartphone.
E os jovens… o que pensam eles?
A disponibilidade do tempo é também um fator importante. A matrícula na escola de condução exige disponibilidade para assistir às aulas teóricas, paciência para realizar os testes e meses de prática que, para muitos, é um período que pode ser dedicado a outras atividades ou estudos.
Também o facto da geração mais nova gastar muito do seu tempo nas redes sociais, isso pode provocar uma certa aversão a conduzir, dado que se estão a guiar não podem estar a trocar mensagens no WhatsApp ou a inserir mensagens no Facebook ou Stories no Instagram.
A idade de obtenção da carta de condução foi atrasada. Tirar a carta é algo que, mais cedo ou mais tarde, os jovens condutores sabem que vão acabar por fazer e que será determinado pela busca de emprego ou por projetos familiares.
Tudo isto coloca desafios ao ensino de condução tradicional e os próprios veículos autónomos de condução que se aproximam cada vez mais vêm ao encontro de uma transformação do ensino. É, claramente, um novo mundo que aí está.
Fotos: iStock Prostock-Studio Ridofranz Tero Vesalainen Goads Agency