Vários carros elétricos alvos de “recall”

Duarte Paulo

13 de Abril de 2021

Quando as vendas de um produto sobem os erros também aumentam.

Com o aumento da apetência dos consumidores pelos veículos elétricos estes são cada vez mais uma presença comum nas nossas estradas. A própria quota de mercado, analisada mensalmente, já é liderada por veículos de energia alternativas.

Mas como diz o ditado popular “depressa e bem, não há quem”, quando um produto vende mais os erros também aumentam. Descubra alguns casos de “recall” efetuados a veículos elétricos.

As vendas de carros por tipo de energia usada

Em dezembro de 2020, as vendas de veículos elétricos aumentaram 135.6% face ao mês homólogo do ano anterior. No ano de 2020 registaram um crescimento de 55.3%. Convém não esquecer que os veículos com motor de combustão interna, tiveram uma queda de 40.6%, ao longo do ano de 2020.

Analisando os números de vendas de dezembro de 2020, por tipo de energia, a venda de veículos movidos a energias alternativas, desde os 100% elétricos, passando pelos híbridos plug-in e pelos híbridos elétricos, representaram 37.01% das vendas totais de veículos ligeiros de passageiros em Portugal, em dezembro de 2020.

Este valor representa a liderança se dividirmos os dois tipos de combustíveis mais tradicionais. Pois as vendas de ligeiros de passageiros a gasolina chegaram aos 34,7% e os os ligeiros de passageiros a gásóleo, até recentemente líderes incontestados, ficaram-se pelos 25,9%. Convém não esquecer que 2020 trouxe uma queda acentuada das vendas de todos os veículos de combustão interna.

Mais veículos vendidos, mais veículos alvo de “recall”

Em todos os tipos de atividades, quando algo começa a ter maior prevalência os defeitos começam a ser mais analisados. Os veículos elétricos e eletrificados não são exceção. Em alguns mercados esse maior escrutínio parece ser baseado tendencialmente em questões de mercado ou pressões geopolíticas. Pequenos defeitos podem ser transformados em grandes problemas.

Por exemplos os reguladores chineses repreenderam a Tesla por causa das crescentes reclamações sobre seus carros. Representantes dos reguladores chineses reuniram-se com executivos da Tesla recentemente. Esta reunião ocorreu depois que várias agências governamentais chinesas receberam queixas de “uma aceleração incomum”. Além deste problema foram ainda reportados, por diversos clientes, incidentes da ocorrência de incêndios de baterias e outros problemas de qualidade com os carros elétricos da empresa americana.

Numa publicação na WeChat, um serviço multiplataforma de mensagens instantâneas desenvolvido pela chinesa Tencent e um dos maiores aplicativos de mensagens a nível mundial, a Administração Estatal de Regulamentação do Mercado da China disse que funcionários de cinco agências governamentais entrevistaram executivos da Tesla e “pediram que cumprissem estritamente as leis e regulamentações chinesas, fortaleçam a gestão interna e implementem regulamentações corporativas de qualidade e segurança.”

O caso da Tesla

File:Tesla Model 3 China 2019-04-02.jpg - Wikimedia Commons

A Tesla reconheceu as suas “deficiências no processo de negócios” e concordou em melhorar a qualidade e a segurança de seus veículos, disse o regulador na publicação. A construtora americana tem lutado com problemas de qualidade, pois aumentou sua produção de poucas dezenas de milhares de carros por ano para 500.000 em 2020.

Clientes oriundos doutros países também documentaram vários problemas com o novo Tesla. Desde grandes espaços entre os painéis da carroceria, passando por defeitos na pintura e até vidros rachados. Essas reclamações foram refletidas nas avaliações dos carros desta marca pela americana J.D. Power and Consumer Reports.

A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Porém o presidente da empresa, Elon Musk, reconheceu recentemente os problemas de qualidade do Modelo 3. Este assumir da culpa ocorreu numa entrevista com um consultor da indústria automóvel, Sandy Munro. Apesar de ter afirmado anteriormente que os seus modelos têm menos probabilidade de pegar fogo do que outros carros.

No mês passado, a Tesla fez um “recall” de 135.000 veículos nos EUA para lidar com um problema com ecrãs sensíveis ao toque nos Modelo S e Y. Os ecrãs tinham um alto índice de falhas. A Tesla inicialmente resistiu ao “recall”, mas foi pressionada pela Administração Nacional de Segurança de Transporte Rodoviário dos EUA.

Numa carta recente ao regulador de segurança automóvel dos EUA, um executivo da Tesla disse que os écrans, usados para controlar muitas funções dos carros, não deveriam durar mais do que cinco ou seis anos. O que claramente não era do conhecimento dos consumidores quando adquiriam os modelos americanos.

Porém os problemas citados pelos reguladores americanos e chineses não são exclusivos da Tesla. O potencial de incêndios nas grandes baterias que alimentam os carros elétricos forçou outras construtoras a fazer “recall” de diversos modelos.

O caso da GM

2019 Chevrolet Bolt EV - April 2019 (2777).jpg

Em novembro de 2020, a General Motors fez o “recall” do seu modelo elétrico Chevrolet Bolt, dos anos 2017 a 2019, nos Estados Unidos, também porque eles podiam se auto-incendiar sob certas condições. O problema da GM era com as baterias de alta tensão produzidas nas instalações da LG Chem em Ochang, na Coréia. Estas baterias apresentavam um risco de incêndio quando carregadas totalmente ou muito perto da capacidade total.

Assim, a GM informou que “sabemos que a segurança dos nossos proprietários e das suas famílias é primordial. Por isso estamos pedindo aos proprietários que se dirijam aos nossos concessionários para efetuar uma atualização de software. Esta limitará a capacidade de carga da bateria a 90% e, assim, reduzirá o risco de incêndio.” Uma solução final para este permitir recuperar as capacidade de carga para os 100% está prevista para este mês.

O “recall” abrangeu 68.667 veículos do modelo americano referido. O software começou a ser disponibilizado para atualização a partir de 17 de novembro de 2020. Não há evidências de que os veículos elétricos possuam uma percentagem diferente de se incendiar que os carros de combustão interna. Mas o assunto tem recebido maior escrutínio público e dos meios de comunicação social conforme mais veículos elétricos são comercializados.

Outras marcas também fazem “recall”

No ano passado, a Audi fez o “recall” de mais de 500 SUVs do modelo E-Tron, o primeiro carro totalmente elétrico da empresa, devido ao risco de incêndio na bateria. A NIO, da China, fez o “recall” de quase 5.000 de seus modelos SUVs elétricos ES8. O motivo é sempre o mesmo, risco de incêndio. No caso da marca chinesa também ocorreram vários relatos de incêndios de baterias, com início em 2019.

A Hyundai fará um “recall” global de 82.000 carros elétricos para substituir as baterias, fabricadas pela LG, após 15 relatos de incêndios envolvendo os veículos. Apesar do número relativamente pequeno de carros envolvidos, o recall da Hyundai é um dos mais caros da história por veículo. Sinalizando como os defeitos dos carros elétricos podem criar custos elevados para as marcas, pelo menos no futuro próximo. O “recall” custará à Hyundai 1 bilião de wons coreanos, cerca de 762 milhões de euros. Por veículo, o custo médio é de 9.300 Euros, um número astronomicamente alto para um “recall”. A média da industria é de 420 euros.

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