Mais caros, capazes de percorrer menores distâncias com uma única carga e tempos de carregamento mais prolongados: estes são os três principais calcanhares de Aquiles dos veículos elétricos que levam ainda muitas pessoas a deixá-los de fora das opções de compra. A verdade é que, nunca como agora, os automóveis movidos a eletricidade foram tão atrativos e bons como agora. As suas desvantagens estão a esfumar-se cada vez mais.
No início autonomias de 30 km para os veículos elétricos…
No final do século XIX e início do século XX, quando o automóvel era uma invenção recente, eram os veículos elétricos que dominavam, existindo em maior número que os veículos movidos a combustíveis fósseis. Os exemplares disponíveis garantiam autonomias a rondar os 30 km e eram a escolha maioritária dos consumidores, especialmente nos EUA. A partir de 1910, com o Ford T e o desenvolvimento do motor de combustão interna, os elétricos perderam uma preponderância que nunca mais readquiriram… até agora.
Os problemas ambientais, a necessidade de reduzir a dependência do petróleo e a importância da mobilidade sobretudo urbana estar assente em modos de transporte mais sustentáveis voltaram a trazer os elétricos para a ribalta, de uma forma muito modesta na década de 1970 e 1980, e de um modo mais assumido na década de 1990.
Neste capítulo, merece destaque o EV1, considerado como o primeiro veículo elétrico moderno lançado no mercado e produzido por um grande fabricante, a General Motors. Estávamos em 1996, mas a sua produção foi curta, cessando em 1999, tendo este veículo baterias Ni-MH. Outros fabricantes, como a Chrysler, Ford, Honda, Nissan e Toyota, também desenvolveram os seus projetos elétricos, mas os veículos daqui resultantes tinham sempre uma aura futurista, um facto que não ajudou a que os automóveis elétricos ganhassem a credibilidade a que os consumidores estavam habituados com os veículos com motores de combustão interna.
Tudo mudou de figura
Com a entrada no século XXI, as coisas mudaram de figura e começaram a aparecer automóveis elétricos tecnologicamente mais sofisticados, já capazes de agradar ao público, muito embora nunca tenham conseguido remover do espírito dos consumidores as três grandes pechas: o preço elevado, a reduzida autonomia e a demora no carregamento.
É, precisamente, em torno destes três aspetos cruciais que tudo está agora a mudar e é isso que está a fazer com que os carros elétricos comecem a ser vistos a circular de modo tão normal no quotidiano como um veículo a gasolina ou a gasóleo.
Desvantagens cada vez menos desvantajosas
Preço. Os veículos elétricos ainda são dispendiosos e mais caros do que os congéneres de combustão. Mas os incentivos estatais que recebem na compra (em impostos sobretudo para empresas), na utilização (no estacionamento e no muito menor preço do seu combustível, a eletricidade, com custos por quilómetro de 2,15 euros) tornam-nos competitivos. E a tendência será para que custem cada vez menos, com a massificação da utilização das baterias, o seu principal custo. O desenvolvimento tecnológico no sentido de poderem ser utilizados na construção das baterias materiais mais baratos também contribuiu para a sua redução do preço.
Autonomia. A primeira geração do Nissan Leaf, apresentada em 2010, tinha 150 km de autonomia numa só carga (pack de baterias de 24 kWh). Neste momento a marca já disponibiliza uma versão de 30 kWh e 250 km de autonomia. Em cerca de seis anos, a autonomia já cresceu mais de 60%. E diversos estudos mostram que 80% dos condutores não faz mais do que 60 km diários. Portanto, 250 km mais do que chega. Também dentro do Grupo Renault/Nissan, a Renault apresentou no salão de Paris, que abriu portas no início deste outubro, um citadino Zoe a atingir 400 km de autonomia. Do mesmo modo, a Opel, no mesmo evento automóvel, deu a conhecer o Ampera-e com uma autonomia a rondar os 500 km. E outros exemplos poderiam ser citados, como foi o caso do concept elétrico I.D. que a VW levou ao salão de Paris 2016 que é o projeto de um carro de série para lançar em 2020 e que apresenta 600 km de autonomia. Cada vez mais marcas (e, como se percebe, não estamos apenas a falar de construtores premium como a Tesla; estamos a falar de fabricantes generalistas) estão a lançar modelos com autonomias consideradas já aceitáveis e que estão a ajudar a derrubar o preconceito da desconfiança de que o carro ficará a meio da viagem, sem carga.
Tempo e local de carga. Os carregamentos lentos continuam a ser feitos entre 6 a 8 horas. No entanto, o que mudou é que há cada vez mais postos públicos. Inclusive, os postos da rede Mobi.e que durante anos estiveram ao abandono estão agora a ser recuperados e alargados. O susto de ficar apeado é cada vez menor. Também estão a ser instalados mais postos rápidos que permitem que um veículo fique com 80% da sua carga em cerca de 20 a 30 minutos. Esses postos já abrangem autoestradas como a A5, A1, A2 ou A22, estando projetado mais postos em mais vias rápidas.
Por tudo isto, às vantagens que os carros elétricos continuam a manter (que enumeramos aqui), somam-se agora menos desvantagens. Os veículos elétricos nunca como agora mereceram tanto crédito e nunca tiveram tantos clientes. Será você o próximo?