Velocidade – um fator de risco de acidentes de viação

André Gomes

25 de Junho de 2018

Mais velocidade significa maior risco de lesões num acidente rodoviário. Mas em que medida é que ela é assim tão relevante no número de fatalidades que temos nas nossas estradas?

Circular mais depressa num veículo acarreta um maior consumo de combustível (e de emissões) e um risco mais elevado de que as lesões que venham a decorrer de um acidente de viação sejam mais graves.

Com efeito, a velocidade é um fator muito importante na circulação e na segurança rodoviárias não só pela influência que tem no comportamento humano, mas também na dinâmica do veículo (movimento, forças e seus efeitos), sendo hoje comummente aceite que a velocidade excessiva é a principal causa da sinistralidade rodoviária.

Pedro Miguel Silva, assessor da Presidência da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), denota que face “à influência que a velocidade tem no nosso comportamento enquanto condutores, devemos estar conscientes e ter sempre presente que quanto maior for a velocidade, mais efeitos prejudiciais a uma condução segura, porquanto temos menos tempo disponível para percebermos e processarmos a informação que recebemos; menos tempo para tomarmos as decisões necessárias e, portanto, mais facilidade em errarmos; e uma redução do nosso campo de visão (efeito de túnel) e maior dificuldade em observarmos a zona adjacente à estrada”.

Velocidade

Outro elemento relevante salientado por Pedro Miguel Silva é que “a influência da velocidade na dinâmica do veículo é importante não apenas na sua estabilidade e controlo, mas também na distância de paragem e nas consequências de eventuais colisões”.

Nesse contexto, este especialista, enfatiza que circulando com uma velocidade elevada torna-se mais difícil controlar o veículo. “De facto, ao descrever uma curva a força entre os pneus e o pavimento aumenta com o quadrado da velocidade e com a curvatura, o que, juntamente com a inércia do veículo, faz aumentar significativamente o risco de derrapagem e de despiste“.

Por seu lado, a distância de paragem de um veículo (que é a distância percorrida entre o momento em que o condutor se apercebe do evento e o momento em que o veículo pára, sendo a soma das distâncias percorridas pelo veículo durante os tempos de reação do condutor, de resposta do sistema de travagem do veículo e de travagem ativa) é tanto maior quanto mais elevada for a velocidade a que se circula.

“A distância de travagem varia com o quadrado da velocidade, pelo que a pequenos aumentos da velocidade correspondem grandes acréscimos na distância de travagem. Se a velocidade duplica, a distância de travagem quadruplica!”, clarifica Pedro Miguel Silva.

Velocidade

“Em caso de colisão, por exemplo com um peão, este, que pesa muito menos do que o veículo, tem pouca influência na velocidade de impacto do veículo, ao contrário deste que, no instante da colisão, sujeita o peão a uma força de impacto de valor elevadíssimo.  A força de impacto aumenta rapidamente com o aumento da velocidade de circulação, visto que os travões não têm capacidade para imobilizar o veículo na distância requerida.  Suponhamos que um veículo circula numa zona escolar devidamente sinalizada, na qual o limite de velocidade legal é 40 km/h. O dia é claro e seco. Uma criança atravessa inadvertidamente a estrada atrás de uma bola. O condutor, indivíduo normal e de boa saúde, deteta a presença da criança (com peso de 40 kg) 15 metros antes. Consoante a velocidade do veículo, o que poderá suceder?”, lança no ar a questão Pedro Miguel Silva que o mesmo se prontifica a esclarecer de um modo muito claro: “Nestas condições se o veículo circulasse a 30 km/h evitaria o acidente. A uma velocidade de 60 km/h percorreria os 15 metros antes de reagir e atropelaria a criança sem sequer travar e a criança teria uma probabilidade de sobreviver de cerca de 20%. Se em vez de colidir com um peão, o veículo colidir com uma árvore, uma parede ou qualquer outro objeto pesado, a energia cinética (energia inerente ao movimento) é absorvida e dissipada pela estrutura do veículo que se empena e esmaga devido ao impacto. Temos pois que pequenos aumentos da velocidade originam significativos e grandes aumentos de energia e, portanto, havendo mais energia cinética para absorver e dissipar há certamente mais danos e de maior gravidade”.

A ideia é, por isso, simples: “o risco da ocorrência de acidente aumenta de forma exponencial com o aumento da velocidade do veículo e que o não cumprimento dos limites legalmente estabelecidos e a prática de velocidades excessivas não só aumentam muito o risco de acidente, mas também a gravidade das suas consequências, fundamentalmente, gravíssimos danos pessoais, incluindo a perda de vidas”.

Atenta a esta realidade, a ANSR recomenda que a velocidade de circulação seja moderada, de acordo com intensidade do tráfego, as características do veículo e das vias, por forma a que não seja posta em causa a segurança das pessoas.