O conceito de distância de segurança, ao abrigo do Código da Estrada é algo de dúbia interpretação. Segundo a legislação em vigor “os condutores devem guardar dos outros veículos uma distância suficiente que lhes permita parar em segurança no caso de travagem ou paragem súbita”.
Não havendo, para automóveis ligeiros e veículos de duas rodas, uma distância mínima imposta, torna-se livre arbítrio a avaliação que cada condutor faz sobre o espaço que medeia duas viaturas que circulam no mesmo sentido, utilizando a mesma via de trânsito. O problema é que esta livre e individualizada avaliação do espaço existente entre o veículo precedente e o veículo posterior, normalmente, assenta em fatores como o egocentrismo rodoviário, prepotência ou simples ignorância, ao invés de refletir o conhecimento sobre o espaço percorrido numa determinada distância, tempo de reação vs distância de reação ou diferentes dinâmicas de veículos vs diferente tipo de veículos.
Quando dois veículos circulam em fila, esses dois veículos estão a ser conduzidos por duas pessoas diferentes, com experiências diferentes, estados emocionais certamente diferentes e reações ao mesmo estimulo distintas uma da outra. Sabendo-se que em média um condutor demora, em condições normais, cerca de 0,8 segundos a 1 segundo a reagir a um estimulo identificado em memória de longo prazo, não é menos verdade que o condutor que circula na nossa dianteira pode ser mais experiente, logo reagir mais rápido do que nós.
A distância de segurança é uma questão de Física
Na leitura de uma formula simples podemos facilmente analisar o espaço percorrido por um condutor a uma determinada velocidade durante o seu tempo de reação, ou seja, podemos verificar a distância de reação. Velocidade/ 3600 segundos = metros percorridos por segundo, ou seja, 50 km/h/ 3600 segundos = 13,88 metros. Esta é a distância aproximada que um condutor percorre enquanto reage, circulando a uma velocidade instantânea de 50 km/h.
Sabendo nós que para muitos condutores o seu estimulo é a luz de travagem do veículo precedente, sabemos agora que esses condutores reagem cerca de 13,88 metros depois do condutor da frente, ou seja, em um segundo aproximam-se dele uma distância idêntica a um autocarro de dois eixos.
Agora que já sabemos a distância que percorremos ao longo do processo decisional, falta-nos saber de quanto mais espaço necessitamos para imobilizar o veículo. Vamos analisar outra formula muito simples; Velocidade x Velocidade/200 = metros percorridos durante a travagem, ou seja, 50 km/h x 50 km/h / 200 = 12,50 metros. Esta é a distância aproximada que um condutor percorre ao longo da travagem, tendo como principio as boas condições da via, do veículo e atmosféricas. pois se alguma destas condições sofrer uma alteração negativa, também a distância percorrida vai sofrer alteração.
Somos agora possuidores de duas distâncias, a de reação e a de travagem. Somando-as temos um total de 26,38 metros percorridos desde o momento em que avistamos as luzes de travagem do outro condutor acenderem até imobilizarmos o nosso veículo. Se aceitarmos que a distância de reação é uma distância perdida, ficamos limitados a 12,50 metros que, havendo alterações no comportamento do veículo, podem não ser suficientes para o que desejamos, imobilizar o veículo sem contacto com o da frente.
Avalie agora o(a) condutor(a) se a distância de segurança que habitualmente mantêm do veículo que vai à sua frente é a mais indicada para a segurança de todos. Verifique se a teoria de segurança dos 3 segundos se aplica à sua prestação rodoviária. Para saber se assim é, escolha um obstáculo estático na berma da estrada e quando o veículo precedente o passar, conte três segundo. Se o seu veículo alcançar esse obstáculo antes dos três segundos, a sua distância de segurança é pequena, aumentando assim o risco de acidente. Em condições de chuva deve essa distância aumentar para os cinco ou seis segundos.