Os carros e o coronavírus

Duarte Paulo

7 April, 2020

Algumas marcas garantem que a filtragem do ar é tão eficaz que consegue impedir a entrada do coronavírus

Este tópico do coronavírus é dominante, por mais que queiramos nos desviar acabamos sendo “encurralados” pela temática. Mas será que estando dentro dos nossos veículos continuamos a correr risco de ser infetados pelo que vem de fora do veículo?

Saiba mais aqui sobre as marcas que afirmam que os seus veículos possuem sistemas de filtragem tão fortes e eficazes que são eficientes contra o COVID-19. Será verdade ou só mais um argumento de vendas?

Qualidade do ar a bordo

Existem veículos que possuem ar condicionado e outros não. De qualquer forma todos os sistemas de ventilação filtram o ar ambiente exterior e enviam-no para o habitáculo. Os modelos que possuem ar condicionado geralmente possuem uma maior e melhor filtragem. Os sistemas dos veículos mais recentes são cada vez mais evoluídos e eficazes.

Os mais recentes funcionam da mesma forma, mas fazem-no também de forma mais eficiente. Os modelos topo de gama, também denominados de premium, possuem as versões mais sofisticadas. Algumas marcas anunciam estas versões como sendo capazes de fornecer uma proteção quase milagrosa. Atribuindo-lhes capacidades extraordinárias de filtragem e eliminação de partículas nocivas para a saúde, como o coronavírus.

É um fato que a variedade de poluentes é avassaladora, desde poeiras, pólenes, gases chegando às bactérias e aos vírus. A qualidade da filtragem destes poluentes é o fator que determina chegarem mais ou menos poluentes ao habitáculo. Pois todos os elementos que não sejam eliminados ou retidos nos filtros irão atingir os ocupantes e o condutor.

Sistemas de filtragem de ar para o habitáculo

Como já foi referido acima os veículos que possuam mecanismos com equipamentos de filtragem mais recentes tem maior probabilidade de serem mais eficientes. Os filtros têm capacidades que são muito variáveis. Desde um simples filtro têxtil a sistemas HEPA.

Estes filtros mais eficientes, são um acrónimo de “High Efficiency Particulate Air”. Sendo classificados em diversos níveis, os mais eficientes são considerados de nível hospitalar. Neste nível capturam 99,9% dos elementos superiores a 0,3µm. Isto revela a sua capacidade de capturar partículas muito pequenas e, potencialmente, até bactérias e vírus. Se bem que não matem estes últimos. Como o próprio nome indica o coronavírus é deste último tipo.

As máscaras com a norma N95, são os equipamentos de proteção individual (EPI) indicados para trabalhadores expostos a ambientes contaminados. A sua capacidade de filtração e resistência a materiais particulados atinge os 95% de eficiência para partículas maiores que 0,3µm. Esta norma também é usada na industria automóvel. Convém ter a noção que alguns coronavírus são menores que a dimensão mínima da capacidade do filtro.

Promessa de proteção biológica

A marca lidera por Elon Musk dispõe dum sistema denominado “Bioweapon Defense Mode”

Os sistemas mais sofisticados de ar condicionado dos veículos de topo incluem o tratamento do próprio ar. A americana Tesla disponibiliza para os Model S e Model X um sistema denominado “Bioweapon Defense Mode”… se fosse só pelo nome já “espantava os males”, como é habitual nesta marca, o marketing é sempre bombástico.

Este sistema funciona em paralelo com a recirculação do ar interior. A marca afirma que é capaz de proteger os ocupantes mesmo quando confrontado com gases utilizados em guerras químicas. Entre outras soluções à disposição destes veículos, está um filtro HEPA de grandes dimensões e de nível hospitalar, que anula bactérias e vírus.

A Audi, por exemplo nos seus modelos A6 e Q7, tem um sistema duplo onde os filtros HEPA trabalham em conjunto com um sistema de ionização das moléculas do ar. O sistema de iões destrói o pólen, o bolor e as bactérias. Consegue, assim, impedir a entrada de alergénicos, poluentes e microrganismos no habitáculo, o que poderia colocar em risco a saúde.

Continuando nas marcas alemães, a BMW comercializa, como opcional para todos os modelos da marca, um microfiltro, que ajuda a eliminar as impurezas de menores proporções. Tal como o Audi, este sistema de filtragem elimina alergénicos e bactérias, mas assume que elimina vírus, ou mais especificamente o coronavírus.

As marcas orientais

A Geely Motors, um fabricante chinês, diz que atuará em três fases para desenvolver “veículos saudáveis”. Esta marca possui um sistema inteligente de purificação de ar, denominado “G-Clean” e está previsto que todos os veículos produzidos após de março de 2020. O sistema deteta diversos gases como formaldeído, odores e poluentes que são absorvidos por um filtro químico de carbono.

Neste sistema é utilizado um gerador de iões negativos que esteriliza e desodoriza os poluentes antes de entrar no habitáculo. A marca afirma ser capaz de remover vírus, bactérias, fungos e fungos no ar. Sendo capaz de reduzir os poluentes como se usasse uma máscara com a norma N95.

Algumas marcas reivindicam que os seus mais sofisticados sistemas de ar condicionado e tratamento de ar deverão ser capazes de filtrar o coronavírus, como está descrito acima. Mas mesmo que algumas marcas sejam demasiado ambiciosas nas suas afirmações, não impede que sejam capazes de o fazer. No mínimo serão capazes, pelo menos, de reduzir consideravelmente a exposição ao coronavírus.

Não arriscar é a melhor prevenção

Ainda assim, mesmo o melhor sistema de purificação do ar não resolve o problema basilar. O coronavírus é transmitido por contato pessoa a pessoa e por contato com superfícies contaminadas. As pessoas tocam especialmente nas superfícies. Numa viatura, ao entrar, tocamos no manípulo da porta, para abrir e fechar. Já dentro tocamos no volante, manípulo da caixa e no cinto de segurança. Depois tocamos muitas vezes na cara ao longo do dia.

Os sistemas descritos acima são capazes de filtrar o ar que entra no habitáculo, mas os vírus tendem a percorrer curtas distâncias. Conseguindo “viajar” entre as pessoas e permanecem ativos por longos períodos nas superfícies. Um purificador de ar, mesmo se equipado para matar um vírus, geralmente falha em capturá-lo antes de entrar em contato com uma pessoa ou superfície.

Por isso a melhor prevenção é definitivamente o bom senso de não se expor e não arriscar. As indicações e apelos das autoridades para que as pessoas se limitem às suas habitações o mais possível. O autoconfinamento é uma medida que evita o cruzamento de pessoas que estão infetadas com as saudáveis, infetando-as. Mas o período de incubamento longo e a capacidade de sobreviver longos períodos nas superfícies, em conjunto com a existência de infetados assintomáticos, criou uma situação que só com a colaboração de todos chegaremos a bom porto.

Fotos | Geely, Tesla

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