Dummies para crash tests (1)

Duarte Paulo

13 January, 2014

Todos os anos morrem nas estradas de todo o mundo aproximadamente 1 milhão de pessoas, ou seja 10% da população portuguesa, o que se quisermos trazer para um plano mais próximo de nós e tentar perceber o que isso significa, faça a seguinte suposição, pense nas 10 pessoas que lhe são mais próximas, e usando essa percentagem em relação ao resto dos portugueses, significa que um dos seus amigos morre todos os anos, só em acidentes rodoviários.

Para reduzir o flagelo esses números, as marcas de automóveis e as instituições responsáveis pela segurança rodoviária, tentam parametrizar e fazer evoluir as viaturas de forma a reduzir os ferimentos e mortes em caso de embates e atropelamentos. Para isso utilizam uns bonecos chamados dummies para crash tests.

Carros resistentes

Nos primórdios da indústria automóvel não existia a ideia de estudar as consequências que o embate de uma viatura teria nos seus ocupantes, a ideia era criar os carros mais resistentes possíveis, com o objetivo de proteger o condutor e os passageiros.

Mais tarde aperceberam-se que afinal os carros mais resistentes faziam com que os ocupantes sofressem as desacelerações gigantescas que ocorrem num embate, provocando lesões internas graves, para além das lacerações sofridas contra o interior da viatura, isto para não falar dos inúmeros casos de empalamentos na coluna de direção.

Testes em voluntários

Foram tentados testes com voluntários, inclusivamente alguns pesquisadores chegaram a sofrer pessoalmente as desacelerações, quase instantâneas, como por exemplo o Coronel John Paul Stapp, da força aérea do Estados Unidos da América, que USAF impulsionou-se a mais de 100 km/h num trenó foguete e parou em 1,4 segundos.

Outro voluntário foi Lawrence Patrick, na época professor da Universidade Estadual de Wayne, ele suportou cerca de 400 passeios em um trenó foguete, a fim de testar os efeitos de uma rápida desaceleração do corpo humano. Ele e seus alunos permitiram-se serem esmagados no peito com pêndulos de metal pesado, impactados no rosto por martelos pneumáticos e pulverizados com cacos de vidro para simular os estilaços de janelas.

Embora admitindo que, estas experiências o deixaram “um pouco dolorido”, Patrick disse que a pesquisa que ele e seus alunos realizaram foi a base no desenvolvimento de modelos matemáticos, contra o qual novas pesquisas poderiam ser comparados.

Mas, enquanto os dados de teste em seres humanos vivos foi valioso, os seres humanos não poderia suportar alguns testes que passam por um certo grau de dano físico. Para reunir informações sobre as causas e prevenção de lesões e mortes seria necessário um tipo diferente de abordagem ao assunto.

Antes dos dummies

Lentamente os construtores começaram a perceber que teriam que melhorar a segurança em caso de embate, então começaram a testar com cadáveres, apesar de ser algo macabro, o certo é que foi graças a estes testes, feitos na época, que permitiu uma grande evolução da segurança automóvel na prevenção de lesões.

No entanto, o trabalho com cadáveres apresentou questões morais e éticas relacionadas ao trabalho com os mortos, mas também houve problemas com o tipo de cadáveres disponíveis, pois geralmente eram maioritariamente velhos adultos brancos, não representando um corte transversal demográfico das vítimas de acidentes.

Vítimas falecidos em acidentes não poderiam ser usados, pois todos os dados que podem ser coletados a partir de tais sujeitos estariam comprometida por lesões anteriores do cadáver. Sabendo que não há dois cadáveres iguais, e uma vez que qualquer parte específica de um cadáver só pode ser usada uma vez, era extremamente difícil de conseguir dados fiáveis de comparação.

Além disso, os cadáveres de crianças não só eram muito difíceis de obter, mas se nos adultos a discussão da questão moral e ética foi acalorada, no caso das crianças foi ainda maior, e pareceres jurídicos e a opinião pública fez com que não fossem efetivamente utilizáveis.

Com o aumento dos testes de colisão e com a rotina que se criou, a dificuldade de obter cadáveres adequados tornou-se cada vez mais maior. Como resultado, os dados biométricos obtidos de forma consistente, foram limitadas aos indivíduos masculinos mais velhos.

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