O trânsito no centro das cidades está destinado a desaparecer?

André Gomes

16 February, 2017

Um pouco por todo o mundo têm sido tomadas medidas, umas temporárias outras definitivas, tendentes a interditar ou a condicionar a circulação automóvel, devido a razões de ordem ambiental. Este facto levanta a questão de saber se o trânsito no centro das metrópoles está, efetivamente, destinado a desaparecer.

Fazemos uma volta por algumas das cidades em que este assunto tem sido debatido para compreendermos o que tem sido feito e aquilo que poderá ser o futuro.

São Paulo, Brasil

O governador do Estado de São Paulo, no brasil, Geraldo Alckmin, planeia introduzir em 2018 um sistema de inspeção ambiental especificamente para controlar todos os veículos movidos a gasóleo. A proposta visa reduzir as emissões de gases. Os carros que estiverem fora dos parâmetros de poluição definidos serão multados.

 

Paris, França

Na capital parisiense, a partir de abril, os carros, independentemente da nacionalidade da matrícula, serão obrigados a ter no para-brisas uma vinheta “Crit’Air” que classifica os automóveis, de acordo com as suas normas ambientais e que serão usados para posteriormente restringir as entradas na cidade luz. Esta medida é consequência dos vários picos de poluição registados em Paris que levaram a que fosse já reduzido o fluxo rodoviário, através da circulação alternada de viaturas. Atualmente, qualquer automóvel matriculado até 1997 está banido do centro de Paris, entre as 8 horas e as 20 horas nos dias úteis. Paris estuda ainda a possibilidade de fechar várias ruas ao trânsito, tornando-as pedonais e não está excluído o cenário de uma proibição dos veículos Diesel.

Madrid, Espanha

Também com o propósito de reduzir os níveis de poluição atmosférica em Madrid, o Ayuntamiento madrileno decidiu que os automóveis híbridos e elétricos vejam os seus descontos no estacionamento, a partir de 1 de julho, aumentar de 20% para 50%. Inversamente, os carros a gasolina e a gasóleo irão pagar o estacionamento mais caro em 50%.

 

Oslo, Noruega

Em janeiro deste ano, Oslo, capital norueguesa, proibiu a circulação de viaturas Diesel, devido a um pico de poluição. A proibição durou três dias e gerou polémica pois o governo local há dez anos tinha incentivado a população a optar por carros com motores a gasóleo, baixando até os impostos sobre este género de automóveis, argumentando que tinham um impacto ambiental menor do que a gasolina. O Instituto de Saúde Pública da Noruega refere, no entanto, que as partículas em suspensão libertadas pelos Diesel causam a morte prematura de 185 pessoas por ano em Oslo.

 

Roma, Milão e Napóles, em Itália

Em Itália, Milão e Roma têm imposto medidas temporárias para combater emissões atmosféricas, entre as quais a proibição de circulação de carros. Em Roma foi adotada a regra da circulação alternada, entre matrículas pares e ímpares. Nesses dias, apenas os automóveis considerados “amigos do ambiente”, como os híbridos ou 100% elétricos, puderam continuar a circular, sem restrição. Nápoles, também em Itália, aplicou medidas duras, permitindo que somente os veículos que respeitassem as normas de emissões Euro 4 ou outros mais favoráveis podiam circular na cidade, durante alguns dias.

 

Lisboa, Portugal

Lisboa tem em vigor uma terceira fase da Zona de Emissões Reduzidas (ZER) que restringe a circulação de veículos que não respeitem as normas europeias sobre emissão de poluentes. Os veículos ligeiros construídos antes de janeiro de 2000 e os pesados construídos antes de outubro de 2000, que não respeitem a norma de emissões Euro 3, deixaram de poder circular na Zona 1, que compreende a Rua Alexandra Herculano, Praça do Comércio, Cais do Sodré e Campo das Cebolas, nos dias úteis, entre as 7 e as 21 horas. Os automóveis fabricados até 1 de janeiro de 1996 e os pesados construídos até outubro de 1996, que não respeitem a norma de emissões Euro 2, deixaram de poder circular na Zona 2, que compreende a área entre o Eixo Norte-Sul e as avenidas de Ceuta, Forças Armadas, EUA, Marechal António de Spínola, Santo Condestável e Infante D. Henrique, nos dias úteis, entre as 7 e as 21 horas. A Câmara Municipal de Lisboa justifica que esta terceira fase da ZER visa reduzir a degradação da qualidade do ar na capital portuguesa, no âmbito da Diretiva Quadro da União Europeia nº 2008/50/CE.

Conclusão

Analisando estas medidas que os municípios de algumas das principais cidades mundiais têm decidido implementar, fica a ideia de que o trânsito no centro das urbes, pelo menos como o conhecemos até aqui, está de facto, condenado a acabar.

Automóveis mais antigos e veículos com motores de combustão, sobretudo os Diesel, “eleitos” quase inimigos públicos nº1 pelos ambientalistas à conta das emissões de partículas e óxidos de azoto (NOx), os quais contribuem para a formação das chuvas ácidas, parecem ter os dias contados nas grandes cidades. Serão substituídos por veículos mais ecológicos.

Com efeito, a necessidade de lutar contra as alterações climáticas e de ter mais baixos níveis de poluição conduzirá à propagação de modos mais sustentáveis de deslocação, assentes em energias alternativas, como viaturas elétricas, híbridas ou a hidrogénio, e a soluções de mobilidade mais amigas do planeta, como partilha de automóveis e maior utilização de transportes coletivos que terão também inevitavelmente de passar a ser mais eficientes, com motorizações a Gás Natural, a eletricidade ou “fuel cell”. O automóvel poderá continuar a entrar nas cidades, mas de outra forma, portanto.

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