As mortes de ciclistas e peões continuam a ser um problema na Europa. Porquê?

Alberto Valera

10 February, 2020

O European Transport Safety Council (ETSC) é uma associação com sede em Bruxelas que procura dar uma visão independente da Segurança Rodoviária na Europa. De entre os seus diversos focos de atenção encontra-se a segurança dos utilizadores mais vulneráveis, especialmente peões e ciclistas. Os maus resultados que afetam estes coletivos fez com que esta associação fizesse quase que um ultimato a todas as partes implicadas.


Melhorias relativas a peões e ciclistas é oito vezes mais lenta

O ETSC faz a sua avaliação a partir de um dado muito gráfico: a segurança de ciclistas e peões na Europa melhora, mas de forma mais lenta quando comparada com condutores e motociclistas. Mais concretamente, na União Europeia a sinistralidade rodoviária tem vindo a diminuir a uma média de 3,1% por ano desde 2010. Contrariamente, a sinistralidade entre ciclistas apenas caiu 0,4%. Ou seja, pressupõe uma diminuição de vítimas oito vezes mais lenta.

O ESTC afirma que desde essa data, morreram mais de 51 300 peões e mais de 19 400 ciclistas nas estradas europeias. Estes grupos apelidados de vulneráveis supõem 29% do total de vítimas mortais na União. Uma proporção que alcança até 48% do total de acidentes em cidade, onde os peões, curiosamente estão mais expostos aos perigos do trânsito.

Vítimas por atropelamento são pessoas de mais idade

A mesma instituição adverte que 99% dos peões que morreram foram atropelados por um veículo a motor. Acontece o mesmo com 83% dos ciclistas que morrem nas estradas. Estes dados reabrem os clássicos debates como o da distância de segurança que devemos manter dos condutores em relação aos ciclistas. Ou ainda da má utilização do telefone, tanto entre condutores como entre peões (um problema cada vez mais comum atualmente).

Este organismo reconhece que neste números mais negativos influenciam feitos como a maior utilização da bicicleta no conjunto dos países da UE, mas também afirma que a solução está na mão de todos: dos condutores, para que nos consciencializemos, dos fabricantes de automóveis para que produzam carros mais seguros, e das instituições - a todos os níveis - para que invistam e tomem medidas mais concretas. Neste sentido, são já antigas as reclamações dos grupos de ciclistas num maior investimento na manutenção das infraestruturas. Está também pendente a regulação que elimina as diferenças normativas entre as várias cidades.

De todos os dados do estudo do ETSC, preocupa especialmente a elevada idade das várias vítimas. O estudo revela que metade dos ciclistas e peões que morrem nas estrada europeias têm mais de 65 anos. E as pessoas mais velhas são mais frágeis perante os acidentes e revelam menos capacidade de recuperação dos ferimentos graves. O ETSC instiga a tomar medidas específicas que protejam estes grupos tão vulneráveis e lhes permitam caminhar e pedalar com segurança, pois a pessoas mais idosas beneficiam especialmente das vantagens saudáveis que pressupõe a mobilidade ativa.

Medidas de segurança rodoviárias que contribuem para a saúde e meio ambiente

Com o objetivo de oferecer a peões e ciclistas uma mobilidade mais segura, o organismo europeu recomenda uma planificação urbana que lhe dê prioridade face aos veículos a motor. Assim, tornam-se necessárias medidas restritivas como criar mais ruas pedonais, mas outras que garantam o direito de mobilidade a todos os utilizadores, como a criação de estradas ou ruas de mobilidade multimodal.

Recomendações à parte, a ideia passaria por reduzir o limite de velocidade em cidade para os 30 km/h, acompanhada de elementos de ajudem a reduzir o trânsito. A esta velocidade, um peão que é atropelado por um automóvel tem mais 90% de hipóteses de sobreviver. Estima-se que reduzir a velocidade média em 5% reduziria os números de acidentes com feridos em 10% e vítimas mortais em 20%. Baixar o limite para 30 km/h traria outra série de vantagens, como a redução de emissões ou a contaminação acústica.

A diretora de projetos do ESTC, Graziella Jost afirma que “as políticas que melhoram a segurança de peões e ciclistas também podem contribuir para combater outros desafios da UE, como a segurança rodoviária, a emergência climática ou a obesidade da população. Uma cidade sustentável passa por uma mobilidade segura e tanto peões como ciclistas devem ter o seu protagonismo, senão estamos condenados a viver em cidade contaminadas e inseguras.

Fonte: ESTC; Circula Seguro.com

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